O governador Geraldo Alckmin (PSDB) publicou ontem decreto que declara de utilidade pública 406 imóveis para a construção da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo. O ramal ligará a Brasilândia, na zona norte, ao centro. Ao todo, uma área de 407,4 mil metros quadrados – equivalente a quase 58 campos como o do Estádio do Pacaembu – poderá ser desapropriada, “por via amigável ou judicial”. As ações de desapropriação devem ter início no segundo semestre.
Pontos de Freguesia do Ó, na zona norte, Lapa e Perdizes, na zona oeste, e Higienópolis e Bela Vista, no centro, serão afetados. Proprietários ouvidos pela reportagem relataram terem sido surpreendidos. É o caso do empresário Lúcio Sallowicz Filho, de 48 anos, que abriu, no sábado, um posto de gasolina cujo terreno será utilizado para a construção da Estação Perdizes, na esquina da Avenida Sumaré com a Rua Apiacás.
Na tarde de ontem, o estabelecimento, de 900 m², passava por ajustes finais. “É uma coisa absurda, não dá para entender”, reagiu Sallowicz, que investiu R$ 3 milhões no negócio. Ele conta que na época em que começou o empreendimento, em julho de 2010, contratou um advogado especialista em desapropriações e pediu informações ao Metrô sobre a Linha 6-Laranja. Foi informado de que não havia nenhuma definição sobre o traçado do ramal e resolveu seguir em frente.
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Depois disso, ainda gastou um ano reformando o local. “Obtive autorização da Prefeitura e de todos os órgãos competentes. Achei que não corria mais risco”, disse Sallowicz.
A pediatra Mina Spilberg Karpovas também reclama do tratamento dispensado pelo Metrô aos possíveis desapropriados. Ela é dona, com os filhos, de um consultório médico na esquina das Ruas Bahia e Sergipe, em Higienópolis. Ali ficará uma das entradas da polêmica Estação Angélica-Pacaembu. “Ninguém disse nada oficialmente. Acho falta de respeito. Merecemos satisfação, explicação”, disse Mina.
Outros moradores cobraram explicações do Metrô ontem à noite, em audiência pública no Auditório da Universidade Nove de Julho (Uninove), na Barra Funda. Um deles foi o motorista Gilson Bueno, conselheiro do Clube da Cidade (CDC) Agostinho Vieira, que fica na Brasilândia, zona norte. A sede do clube, onde funciona uma escola de futebol para 300 alunos, poderá ceder espaço a um terminal de ônibus. “Fazemos um trabalho social muito forte”, lamentou,Maria Cecília Martino, coordenadora de atendimento à comunidade do Metrô, disse ontem que pretende, até a semana que vem, começar a distribuir as cartas para os proprietários, inquilinos e comerciantes afetados pelas desapropriações. Os imóveis também passarão por perícia judicial.
Mais endereços. A maioria – 214 – dos imóveis declarados de utilidade pública ontem é residencial. Os comerciais somam 140 e os terrenos baldios, 52. A Companhia do Metropolitano de São Paulo foi questionada pela reportagem, mas não informou se novos decretos devem ser publicados para incluir mais imóveis na lista. No caso do monotrilho da Linha 17-Ouro, que está em construção na zona sul, três lotes já foram publicados, somando 161 propriedades.
Presidente da Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Metrô (Aeamesp), o engenheiro José Geraldo Baião explica que parte dos terrenos desapropriados pode acabar não sendo incorporada aos projetos das estações e dos poços de ventilação. “Às vezes, é preciso ocupar uma área de superfície maior do que a das futuras entradas.” Ele diz ainda que, no geral, os espaços usados atualmente são menores do que em obras antigas do metrô.
A Linha 6-Laranja, cuja entrega do trecho inicial pode ocorrer em 2016, será toda subterrânea e deverá ter 15 estações. O governo Alckmin espera construir e operar a linha por meio de uma Parceria Público-Privada (PPP). Propostas de seis consórcios estão sendo analisadas atualmente.
Prédios tombados perto do novo ramal foram poupados
O Metrô informou em janeiro que 26 bens tombados próximos do trajeto da Linha 6-Laranja, entre escolas, antigas fábricas e bairros, fizeram com que o traçado do ramal passasse por algumas alterações.
Uma das mudanças foi a revisão das entradas das futuras Estações Bela Vista e São Joaquim. Alguns imóveis nas imediações das duas paradas foram poupados dos projetos de demolição.
No caso dos sobrados do início do século 20 nos números 1.512 e 1.523 da Avenida Brigadeiro Luís Antônio, na região central, eles acabaram sendo incorporados ao projeto e deverão se transformar nas entradas da Estação Bela Vista. Os elementos arquitetônicos das fachadas dessas construções serão preservados, segundo os arquitetos do Metrô.
Na Estação São Joaquim, que estará conectada à parada de mesmo nome da Linha 1-Azul, um conjunto de habitações antigas e tombadas nos números 34, 36, 44 e 46 da Rua Pirapitingui fez com que a empresa alterasse a entrada de lugar. O objetivo, alega o governo do Estado, é poupar o casario.
No região do Pacaembu, houve preocupação com a preservação do visual do Estádio. Isso porque, perto da Praça Charles Miller, que fica na frente da arena de futebol, será construído um respiro da Linha 6-Laranja. A construção deverá ser feita de maneira que não interfira muito a paisagem. Outros bens tombados próximos de onde passará a linha incluem o Cemitério da Consolação e o câmpus do Mackenzie.
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