Apesar de colocar mais 24 trens em operação, aumentar em 6% a oferta de composições no horário de pico e crescer em 7% o número de viagens diárias na comparação com 2010, a Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) fechou 2011 com três das sete linhas acima do limite tolerável de conforto (6 passageiros por metro quadrado). Os dados estão no recém-divulgado Relatório da Administração de 2011 da companhia.
As linhas críticas, segundo a própria CPTM, são o Expresso Leste (serviço que funciona em conjunto com a Linha 11), líder de aperto, com 7,3 passageiros por m², seguido pela 7-Rubi, com 7,2/m², e a 11-Coral, com 6,2/m². Mas a Linha 12-Safira chega quase lá: já são 5,6 passageiros/m² (veja no quadro abaixo).
Somadas, essas linhas transportaram uma média de 1,15 milhão de usuários por dia no ano passado. Significa dizer que metade dos 2,3 milhões de usuários diários de toda a rede da CPTM viaja no limite do desconforto. Cada passageiro percorre, em média, uma distância de 20,3 quilômetros nesse aperto, em cerca de 30 minutos, ainda segundo os dados do relatório.
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Quem usa os trens não se surpreende com os dados. “É o que você falou: desconforto. A gente fica grudado, isso irrita, deixa estressado”, disse o técnico de informática Everton Rodrigues, de 25 anos, usuário da Linha 7-Rubi. “O problema é ficar muito tempo no aperto. Eu embarco em Francisco Morato. Em Franco da Rocha (estação seguinte), já não dá para se mexer. E aí é assim durante uma hora. Uma hora no aperto”, conta a balconista Barbara Cavalcante, de 33 anos, usuária da mesma linha.
No ano passado, a CPTM teve aumento de 9% no total de usuários em relação a 2010, quando transportou 2,1 milhões de pessoas por dia. Mas as linhas “desconfortáveis” tiveram aumento de apenas 4% na comparação com o ano anterior.
O índice de 6 passageiros por m² é adotado internacionalmente para avaliar o nível de conforto de um sistema de transporte. “A concentração é, praticamente, em dois horários. Das 5h30 às 7h30 e das 17h às 19h. Esses dois horários representam 50% da movimentação”, diz o diretor de Relacionamento da CPTM, Sérgio Carvalho Júnior. Foi a primeira vez que o índice esteve no relatório, portanto, não é possível comparar com outros anos.
Projeções. A perspectiva até 2014, ainda de acordo com o relatório, é de melhora. Se todas as promessas de modernização forem cumpridas, nenhuma linha será tão superlotada. Mas o líder no quesito aperto continuará sendo o Expresso Leste, com 5,8 passageiros por m². E o Expresso ABC, linha prometida para 2014 que vai ligar a Estação Luz a Mauá, paralela à Linha 10-Turquesa, já vai nascer no limite do conforto: 5,9 passageiros por m². A Linha 10, por outro lado, é a que deve melhorar mais esse índice, passando dos atuais 5,1 para 2,9 passageiros por m².
O destaque, entretanto, é a perspectiva de piora da Linha 9-Esmeralda, na Marginal do Pinheiros. Em 2014, ela deve ficar com média de 4,6 passageiros por m², contra os atuais 4. Segundo a CPTM, esse índice deve ficar estabilizado de 2015 em diante, quando a ampliação da Linha 5-Lilás do Metrô entrar em operação. A promessa é que a extensão do ramal, entre a Chácara Klabin e o Largo Treze, atraia parte dos passageiros da Linha 9.
Pior. Para o engenheiro Creso de Franco Peixoto, professor da FEI, o desconforto nas linhas de trem traz mais incômodo para o usuário do que no metrô. “No metrô, a viagem é mais curta, então o passageiro só senta se tem lugar perto. Nos trens de subúrbio, a viagem é mais longa e há uma tendência de as pessoas se moverem mais.”
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