O secretário de Política Nacional do Ministério dos Transportes, Marcelo Perrupato e Silva, diz que a década do Brasil nos investimentos de transporte será a próxima. Ele diz que o país tem tudo para atrair recursos privados e, enfim, ter uma estrutura “moderna” e “do século 21”. Mas lembra que o país tem desafios e precisa “melhorar seus alicerces”.
Como o senhor vê a qualidade do transporte de passageiros de ônibus, trem e barco no Brasil?
MARCELO PERRUPATO E SILVA: O transporte de ônibus é melhor que o de avião, é mais confortável. Os ônibus modernos reciclam completamente seus assentos, coisa que não ocorre com o avião. O problema é a demora.
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Mas como o senhor avalia a situação dos acidentes nas estradas?
PERRUPATO: Isso será forte prioridade do ministério. Enviamos no fim de maio um grupo de especialistas aos Estados Unidos para estudar a segurança de tráfego, para ver quais soluções podem ser adotadas aqui. Temos que lembrar que, com algumas exceções, principalmente em São Paulo, nossas rodovias foram projetadas para veículos que vão a até 80 km/h. Temos que rever isso, ter uma estrutura moderna.
E como o senhor avalia a situação do transporte fluvial, o único sem regulamentação no Brasil?
PERRUPATO: Isso é muito regionalizado, não temos como abrir canais de navegação como a Europa fez. Temos que aproveitar nossas bacias e conciliar com o aproveitamento hidrelétrico. Mas vamos constituir um plano hidroviário estratégico, contratamos uma consultoria holandesa que está esperando apenas a água da Amazônia baixar um pouco para iniciar seus estudos.
Mas e a qualidade das embarcações?
PERRUPATO: Estamos pensando seriamente na qualidade das embarcações. Vamos fazer com que o Fundo da Marinha Mercante dê um pouco mais de prioridade para isso.
E o transporte ferroviário?
PERRUPATO: Estamos com o projeto do Trem de Alta Velocidade, pois duas megalópoles como Rio e São Paulo precisam de uma ligação destas. Vamos ver se leiloamos até o fim do ano a tecnologia deste trem, para depois leiloarmos as obras.
Quando o trem deve estar operando?
PERRUPATO: Aí é difícil prever. Agora não temos mais a pressão da Copa e das Olimpíadas, mas a demanda entre as duas cidades é para a população. Acredito que ele poderá estar operando em 2018, talvez alguns trechos possam começar antes.
Há outros projetos de passageiros?
PERRUPATO: Estramos estudando outras ligações de trem, que podem ser de alta ou média velocidade, até 200 km/h, entre São Paulo e Belo Horizonte, São Paulo e Curitiba e Campinas e o Triângulo Mineiro. Queremos contratar o primeiro estudo, entre São Paulo e Belo Horizonte, talvez ainda este ano, e depois fazendo, pari passu, os demais. Não temos açodamento. Cada estudo deve demorar um ano, para depois decidirmos se o melhor será alta ou média velocidade. Se for média, o trem poderá compartilhar infraestrutura com trens de carga, como ocorre na China. Se o trem tiver até 200km/h, concorre com os ônibus, acima disso, com aviões.
Especialistas reclamam dos baixos investimentos no setor…
PERRUPATO: Na próxima década o Brasil tem uma janela de oportunidade única. Os investidores vão olhar para cá. O Plano Nacional de Logística de Transporte (PNLT) prevê investimentos de R$ 300 bilhões em dez anos, R$ 30 bilhões por ano. Com isso, chegaremos a 0,6%, a 0,7% do PIB.
Mas como chegar a esse valor se o investimento está em 0,4% do PIB?
PERRUPATO: Isso será paulatino e com os investimentos privados. Acredito que o ideal é chegar a 1% do PIB, mas não sei quando isso ocorrerá, infelizmente não temos a poupança de 1,4 bilhão de chineses.
O ministério tem uma continuidade política. Por que tão poucos avanços?
PERRUPATO: Você tem que entender que no começo tínhamos muitas restrições orçamentárias. Agora é que temos mais espaço. E temos que fazer bons projetos, baseados em estudos sérios.
Mas quando o usuário vai sentir uma melhoria efetiva no transporte?
PERRUPATO: Vocês têm que ter um pouco de paciência. Precisamos de bons alicerces para construir edifícios sólidos, e os alicerces não estavam bons. Queremos qualidade, e isso só se obtém com credibilidade, inclusive para atrair investimentos.
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