Foi motivada pela saudade dos tempos em que circulava de bonde pelo centro de Porto Alegre que, há uma década, Zilka D’Ornelas, 82 anos, adquiriu um dos antigos veículos da Carris. A aposentada ficou sabendo que a peça histórica estava prestes a ir para um desmanche e resolveu recuperá-la. Dentro dela, montou um atelier na Zona Sul.
É como se Zilka tivesse se adiantado no resgate de uma memória da cidade. É que, passados 10 anos desde que se desenvolveu o Projeto Bonde Histórico, que prevê uma linha turística de bonde no centro da Capital, os prazos de ver o passado trilhando pelas ruas continuam incertos.
A licitação do projeto executivo, prevista para janeiro, deve ser realizada somente a partir de maio. De acordo com a Secretaria Municipal do Turismo, é preciso aguardar a aprovação do estudo de viabilidade realizado pelas empresas Quanta Consultoria Ltda e Água & Solo Estudos e Projetos.
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O trabalho baseado em entrevistas com 600 pessoas, entre turistas e moradores, foi encaminhado ao Ministério do Turismo — que ainda não deu retorno.
Na área pública ninguém pode estipular os prazos dos outros, pois ninguém está livre de imprevistos. Mas, apesar de já estarmos cinco meses atrasados nesta etapa, o Ministério garantiu que mandaria a avaliação até o fim de abril — afirma o secretário municipal do Turismo, Luiz Fernando Moraes.
A demora na conclusão do projeto se daria em função da complexidade que envolve a retomada da circulação dos bondes. De acordo com o secretário, os impactos urbanístico e ambiental decorrentes das obras tiveram de ser analisados com cautela e apresentados em audiência pública.
Somente após algumas adequações — que alteraram o trajeto, aumentaram o custo, agora orçado em R$ 25 milhões, e estenderam os prazos para além da Copa de 2014 — é que se pôde encaminhar a proposta para Brasília.
Dois veículos podem ser restaurados
Ainda não se sabe que bondes serão utilizados para percorrer a linha turística. Atualmente, dois veículos são cogitados: o 123, em ótimo estado, estacionado em frente à sede da Carris, e o 113, pior, guardado no Museu João José Felizardo.
Se o custo for compatível com orçamento disponível, os bondes poderão ser restaurados em Santos (SP). A ideia é que se conservem características originais, como os bancos de madeira e os detalhes em bronze. Se o valor for além do viável, réplicas podem ser feitas no lugar das peças originais.
A sensação de voltar à década de 1970 é vista como um reparo em uma passagem histórica que aconteceu de forma abrupta em Porto Alegre.
— Em outras cidades, como o Rio de Janeiro e Campos do Jordão (SP), algumas linhas de bonde continuaram em circulação, como uma lembrança. Da mesma forma, se faz importante a revitalização dessa memória, um resgate da história do transporte coletivo da Capital — defende Rui Jesus de Barros, presidente da Associação Cultural Amigos do Bonde.
Como seria o passeio
Trajeto: o passeio permite uma volta a 5km/h entre o Mercado Público e o Gasômetro. O bonde deve partir do Largo Glênio Peres, se deslocar pela Rua Sete de Setembro até a Praça Brigadeiro Sampaio e retornar pelas ruas Duque de Caxias e Vigário José Inácio.
O que se vê: pelos 3,8 quilômetros do traçado, os turistas poderão avistar 19 pontos turísticos, em 50 minutos de passeio.
Custo: o preço máximo estimado da passagem é de R$ 20.
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