Investimento estrangeiro em infraestrutura sobe 500% no ano

O ingresso de capital externo para atividades de
infraestrutura no Brasil cresceu mais de 500% no primeiro quadrimestre deste
ano na comparação com o mesmo período de 2016, atingindo a marca de US$ 11,4
bilhões. O fluxo representa mais de 50% do investimento direto no país para
operações de participação no capital registrado pelo Banco Central (BC) de
janeiro a abril, um total de US$ 21,5 bilhões.

Analistas de mercado projetam, no entanto, que esse
desempenho poderá sofrer uma diminuição acentuada a partir deste mês, em
virtude da nova crise política que envolve diretamente o presidente Michel
Temer, embora essa reação não signifique que investidores e operadores de
infraestrutura “estejam desistindo do país”.

“Basicamente quando um investidor vai botar dinheiro
num projeto ele considera riscos e retorno. Ambos são mensuráveis. Incerteza
não dá para medir”, afirma o economista Cláudio Frischtak. “Hoje
estamos no pântano da incerteza. Enquanto esse véu de incerteza não for
levantado, os investidores vão esperar. Isso não significa desistência, não
conheço ninguém que tenha desistido do país”, conclui. Frischtak é
especialista na área de infraestrutura da consultoria Inter.B.

O Banco Central já reduziu em quase 50% a projeção do IDP
total de maio, mas não informou se a decisão tem a ver com a crise política.
Neste mês a autoridade monetária prevê um fluxo líquido de US$ 2,8 bilhões em
investimentos diretos, ante US$ 5,577 bilhões registrados em abril.

“Momentos de indefinição deixam o Brasil em condição
mais desfavorável para disputar recursos com outros países, lembrando que a
oferta não é tão grande como foi em 2011 e 2012. Agora disputamos volume menor
de recursos”, comenta, Luís Afonso Lima, diretor-presidente da Sociedade
Brasileira de Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização (Sobeet).

Apesar do potencial revés colocado pelo quadro político, o
investimento direto no país destinado à infraestrutura tem a vantagem de ser um
capital com características de longo prazo e deve continuar ajudando as contas
externas brasileiras, avalia Silvio Campos Neto, economista-sênior da
Tendências Consultoria. Campos Neto revela que manteve as projeções da
consultoria para o IDP neste ano em US$ 78 bilhões. Nos últimos 12 meses
encerrados em abril, o IDP totalizou US$ 84,7 bilhões, somando participação no
capital e empréstimos intercompanhia.

“Claro que depende muito do cenário político, é uma
ressalva que estará sempre presente, mas os números devem se manter robustos
porque já há muita decisão tomada. E também estamos falando de nichos atrativos
da infraestrutura, impulsionados pela recente agenda de concessões”,
avalia Campos Neto, citando possíveis privatizações no setor elétrico e os
leilões de óleo e gás que devem ocorrer ao longo do ano.

Considerando apenas as operações de participação no capital
– um investimento sem caráter especulativo – o IDP em infraestrutura
(aeroportos, rodovias, saneamento, energia, telecomunicações, obras)
representou 53% dos recursos que ingressaram no país de janeiro a abril (US$
21,5 bilhões).

Esse montante contempla, entre outras coisas, as concessões
de quatro aeroportos federais, a privatização da Companhia Elétrica de Goiás
(Celg) e os leilões de transmissão de energia elétrica, duas concessões de
rodovias no interior de São Paulo e aportes para compra e expansão de empresas
de saneamento básico no Brasil, com destaque para a operação envolvendo a
gigante canadense Brookfield e a Odebrecht Ambiental.

Setorialmente, as atividades ligadas à infraestrutura
aumentaram seu peso dentro dos ingressos para participação no capital, de 15,9%
para 52,9% levando em conta a comparação nos primeiros quatro meses de 2016 e
2017, enquanto a participação de indústria e agricultura regrediu.

Energia elétrica, transportes e saneamento lideram o avanço
das entradas de capital estrangeiro em infraestrutura no primeiro quadrimestre
do ano. No período, o IDP em energia atingiu US$ 5,560 bilhões, quase o dobro
do total registrado em 2016 inteiro. Os ingressos em transportes, que envolvem
operação de rodovias, saíram de US$ 44 milhões de janeiro a abril de 2016 para
US$ 3,9 bilhões nos primeiros quatro meses deste ano. Na mesma comparação, a
conta saneamento (captação, tratamento e distribuição de água) saiu de US$ 2
milhões para US$ 927 milhões.

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