O presidente Michel Temer desembarcou ontem à noite (pelo
horário de Brasília) em Pequim para uma visita na qual há expectativa de mais
anúncio de investimento chinês na economia brasileira. A questão é o que será
novo e quanto chegará a ser concretizado.
Dados divulgados pelo Conselho Empresarial Brasil-China
(CEBC) mostram que foram anunciados investimentos chineses de US$ 80 bilhões no
Brasil entre 2010 e 2016, mas apenas US$ 45,4 bilhões foram confirmados, ou
seja, pouco mais da metade (56,8%).
Depois de um seminário, ontem, em um hotel em Pequim, o presidente
do CEBC, embaixador Luiz Augusto de Castro Neves, minimizou a diferença nas
cifras. “Não tem gravidade, ninguém do ‘métier’ leva a sério anúncio de
investimento, porque o que se olha é mesmo a confirmação”, afirmou.
“Há casos em que uma empresa não fez anúncio e investiu concretamente, por
exemplo.”
O diretor-executivo do Centro de Estudos Brasileiros na
Academia Chinesa de Ciências Sociais, Zhou Zhiwei, dá duas explicações. Ele
constata que há companhias chinesas que tornam público o interesse em investir
na economia brasileira, mas depois de viagem de prospeção mais aprofundada
acabam achando que o custo-Brasil é muito elevado, e podem decidir investir em
outro país da região. Isso é raro, mas acontece. Ele dá como exemplo a
montadora de automóveis Chery, que transferiu sua fábrica do Brasil para o
Uruguai.
A outra razão da diferença entre intenção e projeto concreto
é que certas companhias têm seus planos realmente de longo prazo e julgam que o
momento certo ainda não chegou. O que é inegável é que os investimentos
chineses no mercado brasileiro aumentaram no primeiro semestre, apesar de
incertezas políticas no país. Roberto Fendt, secretário-executivo do CEBC,
estima que o total confirmado foi de US$ 6,1 bilhões.
“Cada dia chega notícia de novos investimentos chineses
no Brasil”, confirma Zhou Zhiwei. Para ele, isso é normal, porque os
chineses chegaram com atraso na maior economia da América Latina. Este ano, os
chineses fizeram aquisições de empresas brasileiras, aproveitando o fato de os
ativos estarem baratos.
Para o futuro, o diretor do Centro de Estudos Brasileiros,
em Pequim, acredita que indústrias chinesas poderão buscar joint ventures com
indústrias brasileiras em vários segmentos. “As chinesas poderão ajudar a
melhorar a competitividade de manufaturas brasileiras”, diz.
A China é fonte cada vez mais importante de capitais para o
Brasil. A Petrobras negocia a obtenção de novo empréstimo de cerca de US$ 1
bilhão junto ao China Exim Bank.
Por sua vez, o Banco de Desenvolvimento da China tinha
estoque de financiamentos de US$ 25,3 bilhões no Brasil no fim do primeiro
semestre, para setores como petróleo e gás, mineração, eletricidade,
telecomunicações e outras. O estoque de todas as operações internacionais do
banco somava US$ 274 bilhões, cerca US$ 60 bilhões para países da América
Latina.
Seja o primeiro a comentar