O lento ritmo de vendas de soja e milho no Brasil no
primeiro semestre prejudicou a performance das multinacionais americanas que
lideram a comercialização global de grãos no período. O problema já havia sido
destacado por Cargill e ADM e ficou novamente claro na divulgação dos
resultados da Bunge no segundo trimestre.
A empresa informou que encerrou o intervalo com vendas
líquidas de US$ 11,6 bilhões, 10,5% maior que no segundo trimestre de 2016, mas
que registrou quedas de 64% do Ebit, para US$ 73 milhões, e de 33% do lucro
líquido, para US$ 81 milhões. Margens menores e vendas mais fracas que o
esperado na América do Sul levaram a um trimestre desafiador na região,
disse, em comunicado, o CEO da Bunge, Soren Schroder.
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No mesmo comunicado, a companhia deixou mais claro que o
Brasil foi o principal responsável por pressionar os resultados de suas
operações de grãos. No país, lembraram analistas, os agricultores seguraram as
vendas de soja e milho à espera de preços melhores, e a competição entre as
tradings para honrar seus contratos de fornecimento em muitos momentos gerou
negócios que comprometeram suas margens operacionais.
Na terça-feira, quando divulgou os resultados da ADM no
segundo trimestre, o CEO da empresa, Juan Luciano, já havia realçado essa
retração de margens. Mas o executivo negou que, nesse contexto, a múlti esteja
travando uma queda-de-braço com os produtores rurais. E afirmou que espera um
segundo semestre mais rentável para a empresa.
No segundo trimestre de 2017, a receita líquida global da
ADM somou US$ 14,9 bilhões, 4,5% menos que no mesmo período do ano passado, e
viu seu lucro líquido cair 2,8% na comparação. Uma redução relativamente
pequena, é verdade, mas as perspectivas iniciais do grupo e do mercado eram
mais otimistas.
A Cargill, quando publicou o balanço de resultados do quarto
trimestre de seu último exercício, encerrado em 31 de maio, também não esqueceu
do Brasil, ainda que a menção ao país não tenha tido tom de queixa – de acordo
com a companhia, o lento ritmo de comercialização na América do Sul abriu
oportunidades para as exportações dos EUA, o que inflou as margens de suas
operações americanas.
Em boa medida, esse fator colaborou para a melhora dos
resultados gerais da companhia, que fechou seu quarto trimestre (março a maio)
com vendas de US$ 28,3 bilhões, 4% superiores aos de igual intervalo de
exercício anterior e lucro líquido de US$ 347 milhões, US$ 332 milhões maior na
mesma comparação.
O fato é que, se na maior parte do tempo é reverenciado
pelos grandes grupos globais ligados ao agronegócio, o Brasil tornou-se uma
pedra continental no sapato na primeira metade do ano. Como já informou o
Valor, os elevados estoques de defensivos nas mãos das distribuidoras no país também
pressionaram os resultados de múltis que lideram as vendas globais de insumos
agrícolas, como Syngenta, Bayer, DuPont e Basf.
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