Estudo mensura custos do desperdício de grãos no país

A combinação de rodovias em má conservação, transporte
inadequado e necessidade de armazenamento faz o país perder milhões de
toneladas de soja e milho colhidas em cada safra, ou alguns bilhões de reais. É
o que reforça estudo recém-concluído pelo engenheiro agrônomo Thiago Guilherme
Péra, coordenador do Grupo de Pesquisa e Extensão em Logística Agroindustrial
da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (EsalqLog).

Em 2015, aponta o trabalho, as perdas alcançaram 2,4 milhões
de toneladas, ou 1,3% das produções de ambos os grãos naquele ano, e
equivaleram a pouco mais de R$ 2 bilhões. “Parece pouco se olhamos o
número relativo, mas os resultados absoluto e financeiro revelam como se desperdiça
soja e milho por condições de infraestrutura inadequada no Brasil”, diz
Péra. Os prejuízos foram calculados com base no “custo de
oportunidade” – vendas não realizadas (94,3% do valor total) – e em gastos
logísticos desnecessários. “Os números retratam o ano de 2015, mas o
desperdício é contínuo”, diz.

O estudo indica que o uso de armazéns fora das fazendas é o
maior causador de perdas físicas. “A necessidade de levar os grãos em
caminhões, na maior parte das vezes por estradas não pavimentas e em condições
precárias, provoca grande volume de perdas de soja e milho pelo caminho. E
também há perdas dentro dos armazéns”, afirma o pesquisador. A logística
ligada à armazenagem foi responsável, em 2015, por 67,2% do total das perdas
físicas com soja e milho. Naquele ano, o desperdício foi de 660,9 mil toneladas
de milho (0,8% da colheita) e 423,3 mil toneladas de soja (0,43% do total).

Na sequência estão transporte rodoviário (13,3% das perdas),
por meio do qual é carregada a maior parte da safra de grãos, terminal
portuário (9%), transporte multimodal ferroviário (8,8%) e transporte
multimodal hidroviário (1,7%). “Os números não são próximos a alguns
alardeados pelo setor – 20% de desperdício no transporte, por exemplo -, mas,
ao mesmo tempo, revelam que políticas públicas podem ser adotadas para mitigar
o problema, como incentivo à construção de armazéns nas propriedades”,
afirma.

Péra cita o mercado americano como exemplo a ser seguido.
Naquele país, diz, 55% dos armazéns estão dentro das fazendas, em média, e o
percentual chega a 70% nos Estados do Cinturão do Milho. No Brasil, apenas 15%
dos armazéns instalados estão dentro das propriedades.

Outra conclusão importante apontada pelo trabalho de Péra,
que contraria a crença dominante no setor, é que a utilização de diferentes
modais [rumo a um destino específico] causa mais perdas que o uso exclusivo de
caminhão. “Quando se retira a soja do caminhão para o terminal ferroviário
há uma perda, que se soma às perdas observadas no transbordo da mesma soja do
terminal para o vagão e depois do vagão para o porto e por fim para o navio.
Quer dizer, quanto mais se muda o grão de lugar, mas se desperdiça” – o
pesquisador ressalta que o estudo abrange apenas perdas físicas e não leva em
conta que os custos para transportar grãos por vários modais costumam ser mais
vantajosos que apenas pelo sistema rodoviário.

Se fosse para sonhar com um ambiente sem desperdício, a
melhor opção para os produtores seria vender o grão no mercado doméstico e
transportá-lo diretamente ao cliente. Nesse caso, a perda seria equivalente a
apenas 0,13% do volume total. A utilização de armazéns externos à fazenda, com
multimodalidade e corredores rodoviários ruins com destino aos portos geram
perdas equivalentes 2,32% do total transportado, segundo o estudo.

Nas contas de Péra, a ampliação da capacidade de
armazenamento de grãos dentro das fazendas poderia reduzir as perdas em até
21,7%. Já a melhora das condições das vias de transporte principal seria capaz
de diminuir o prejuízo em 7%, enquanto estradas vicinais (que conectam as
fazendas com os armazéns externos) asfaltadas reduziriam as perdas em 16%.

“Além disso, o transporte demanda combustível nos
caminhões, locomotivas e puxadores de barcaças. E levando em conta os cálculos
de perda, eles emitem 38 mil toneladas de dióxido de carbono [1,3% da emissão
total] para não levarem nada”, afirma Péra.

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*