Soja vai do Brasil à Argentina por hidrovia

A situação
crítica das lavouras de grãos nesta safra na Argentina, que deverá colher os
menores volumes em anos, está impulsionando o escoamento de soja brasileira
pela hidrovia Paraguai-Paraná como forma de ajudar a socorrer o país vizinho no
cumprimento de seus contratos de exportação, sobretudo de farelo.
Historicamente voltada para o transporte de minérios, a rota fluvial se tornou
estratégica neste ano para as tradings que originam grãos em polos de Mato
Grosso do Sul.

Dados do
governo federal mostram que de janeiro a abril foram embarcadas pouco mais de
136 mil toneladas de soja de terminais portuários brasileiros na hidrovia om
destino à Argentina. As operações estão concentradas em Porto Murtinho (ver
mapa abaixo), e a maior parte é realizada pelo grupo argentino Vicentin,
parceiro da Glencore no Paraguai e na Argentina. A soja é escoada até o porto
de Rosário, onde a Vicentin tem uma fábrica de esmagamento de soja.

Esse volume
movimentado na temporada 2017/18, ainda que modesto, é interpretado pelo
governo sul-mato-grossense como o prenúncio de um desejo antigo de tornar o rio
atrativo também para os grãos. “A hidrovia é o eixo mais
competitivo”, defende Jaime Verruck, o secretário estadual de Meio
Ambiente, Desenvolvimento Econômico e Agricultura Familiar.

Cortando
metade da América do Sul, de Cáceres (MT) a Nova Palmira, no Uruguai, o trecho
brasileiro da hidrovia tem 1.272 quilômetros de extensão e margeia a fronteira
do Brasil com Bolívia e Paraguai. Segundo Verruck, Porto Murtinho é mais viável
por ser a última parada antes do Paraguai.

O Mato
Grosso do Sul deverá fechar este ciclo com uma produção recorde de 9,5 milhões
de toneladas de grãos, após expansões de área nas últimas duas safras. Muito
desse aumento se deve à atuação de cooperativas do Paraná, que investiram para
conquistar associados no Estado.

A expansão
da produção, combinada à seca na Argentina, foi o empurrão para dar velocidade
a trabalhos iniciados há três anos, diz o governo. Após oito anos fechado por
questionamentos judiciais sobre sua concessão, Porto Murtinho foi reaberto em
2015. “Já está contratado para todo este ano e há sinais de contratos para
2019”, diz Verruck. “O escoamento só não é maior porque não há
capacidade”, enfatiza, referindo-se ao único armazém do porto, que tem
capacidade para menos de 6 mil toneladas estáticas.

Na semana
retrasada, o porto da Granel Química, no município de Ladário – maior e voltado
às operações com manganês -, realizou o primeiro embarque de 21,5 mil toneladas
soja para a Argentina. Mais 70 mil toneladas devem ser embarcadas em 2018 pelo
Vicentin, que passou a originar grãos em Mato Grosso do Sul. Em 2017 embarcou
grãos, em caráter inédito, por Porto Murtinho.

A conjuntura
também tem chamado a atenção de interessados em investir na região, diz o
Estado. A intenção é ampliar a infraestrutura de Porto Murtinho, como a área de
armazenagem. O investimento inicial estimado é de R$ 35 milhões. Três grupos
teriam demonstrado interesse. Além do próprio Vicentin, teriam se manifestado o
Grupo PTP, também argentino, e o americano Nitron, do segmento de
fertilizantes.

“Nós
estamos entrando mais forte nesta safra, e a hidrovia tem se mostrado uma
alternativa para os produtores do Mato Grosso do Sul”, diz Leonardo
Carroto, analista de grãos do sistema Famasul, a Federação de Agricultura e
Pecuária de Mato Grosso do Sul.

Outro
atrativo para turbinar o escoamento de grãos foi a decisão do governo estadual
de retirar a obrigatoriedade da paridade de exportação para grãos – na prática,
isentou as exportações de soja de tarifa. Negociações com o governo paraguaio
também resultaram na permissão de caminhões brasileiros bitrem naquele país.
Essas ações, diz Verruck, incentivaram empresas como Cargill e ADM a
transportar soja do Estado para o porto recém-inaugurado de Concepción, no
Paraguai.

 

– Fonte: http://www.valor.com.br/agro/5536921/soja-vai-do-brasil-argentina-por-hidrovia


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