RIO – Todos
os dias, a gari Ione Barbosa, de 52 anos, leva duas horas entre o trabalho, no
Rio, e a sua casa, em Nova Iguaçu. A viagem é feita com atrasos, composições
lotadas e baixa velocidade — reclamações de Ione há uma década, desde que
começou a usar os trens.
No ano que
vem, o meio de transporte utilizado pela gari será o principal foco individual
de investimento do governo do estado. No caso da prefeitura, que também
prioriza a mobilidade, o maior gasto isolado será com as obras do BRT
Transbrasil. Mas isso não quer dizer que a situação vai melhorar muito.
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Levantamento
feito pelo GLOBO, a partir de dados das propostas de lei orçamentárias de 2019
de estado e município, mostra que os recursos para investimento serão curtos. E
boa parte está comprometida com projetos em andamento, de exercícios
anteriores.
Como um
todo, as verbas planejadas para investimentos caem, se comparadas as leis
orçamentárias em vigor com as propostas para 2019. No estado, diminuem de R$
7,73 bilhões para R$ 7,35 bilhões. No município, despencam de R$ 1,8 bilhão
para R$ 1,2 bilhão.
No âmbito
municipal, mais de um terço do valor destinado a investimentos irá para o
Transbrasil, obra que tem a maior parte dos recursos oriundos do Governo
Federal. De acordo com o projeto de lei orçamentária de 2019, foram incluídos
R$ 317 milhões para completar a via expressa. Desse total, só R$ 63,9 milhões
(16,5%) são da prefeitura.
Segundo a
prefeitura, o Transbrasil foi licitado por R$ 1,4 bilhão, sendo que R$ 1,03
milhão foi pago. A previsão do município é que a obra — de Deodoro até o
Terminal Américo Fontenelle (Central do Brasil) — esteja concluída no fim de
setembro de 2019.
Para os
trens, o estado planeja desembolsar R$ 386 milhões dos R$ 447 milhões
destinados à mobilidade. No entanto, os usuários não contarão com novas
composições, além das que estarão em circulação até o fim deste ano. As últimas
seis de um contrato com Alstom serão entregues até dezembro. A verba de 2019,
por sua vez, será usada para o pagamento de parcelas de trens já em circulação;
na construção de muros, passarelas e cancelas ao longo da malha ferroviária; em
projetos de implantação de bicicletários nas estações; e em estudos técnicos
relacionados aos impactos de mudanças climáticas e gestão.
VERBAS
COMPROMETIDAS
Além disso,
do total de R$ 7,3 bilhões, R$ 3,4 bilhões (46,2%) não irão para o que
normalmente se entende por investimento. A verba, diz o estado, será usada em
uma operação de crédito para saldar dívidas de anos anteriores.
O professor
de Direito Financeiro e Tributário da UFF Paulo Corval afirma que a modalidade
de aplicação feita pelo estado é lícita e correta do ponto de vista contábil,
mas aponta que ela evidencia a situação de penúria nas contas públicas:
— O estado
está quebrado. Ainda está pagando investimentos de 2010 no sistema de trens,
porque são contratos de altíssimo valor, diluídos por longo tempo. Isso não é
de se estranhar. O problema é que todo o orçamento de investimento está
comprometido com o passado.
O economista
Raul Velloso, especialista em finanças públicas, ressalta que investimentos
como o Transbrasil, que têm grandes repasses do governo federal, são raridade:
—
Infraestrutura é onde se investe no setor público. Outras áreas, como saúde e
educação, têm mais gastos correntes. Investimento é em infraestrutura. Mas como
a União investe cada vez menos, os estados e os grandes municípios têm esse
papel de substituir a União. A infraestrutura está sem pai nem mãe. Então como
o estado e os municípios em geral têm mais recursos livres, acabam comparecendo.
Para Corval,
o cenário atual de restrição orçamentária mostra que investimentos em novos
projetos ou programas para a população precisarão passar por modelos diferentes
de financiamento.
— Não é à
toa que os candidatos falam tanto de Parcerias Público-Privadas.
A Secretaria
estadual de Fazenda alega que a redução dos investimentos decorre da diminuição
das obras nas funções de urbanismo e saneamento. Já a SuperVia, que administra
o sistema de trens do Rio, afirma que atinge índices de viagens realizadas e pontualidade
maiores que os previstos no contrato de concessão. Mas ressalva que problemas
externos — como vandalismo e trânsito de pessoas na via férrea — costumam
atrapalhar a circulação.
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