O ônibus perdeu espaço na matriz de transporte da Grande São
Paulo, enquanto os deslocamentos por metrô, trens e aplicativos foram os que
mais ganharam força nos últimos dez anos.
Esse fenômeno foi mapeado pela pesquisa Origem Destino do
Metrô, principal retrato da mobilidade na região metropolitana, feito a cada
década e que norteia políticas públicas e privadas de transporte e urbanismo
—como demandas de futuras linhas e empreendimentos imobiliários.
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Maior estudo do tipo no país, fez entrevistas em 32 mil
domicílios, compara os cenários de 2007 e 2017 e será divulgado nesta
quarta-feira (12) pela companhia ligada ao Governo de São Paulo.
Na distribuição de viagens na Grande São Paulo, a
participação dos ônibus recuou de 24%, em 2007, para 21%, em 2017. Em números
absolutos, passou de 9 milhões de viagens para 8,6 milhões por dia.
Mesmo assim, os ônibus seguem como principal modo de
transporte público na região —entre todos os transportes motorizados, perdem
para os carros, que representam 27% dos deslocamentos.
No mesmo intervalo de tempo, as viagens de metrô cresceram
de 6% do total da matriz de transporte, em 2007, para 8%, em 2017 —de 2,2
milhões viagens para 3,4 milhões/dia.
A maior participação do modelo metroviário é atribuída pelo
Metrô ao aumento do sistema —ainda que a expansão da rede sobre trilhos tenha
ficado muito aquém das promessas do governo paulista, nas gestões dos tucanos
José Serra e Geraldo Alckmin.
Se em 2007 ela tinha 61 km, em 2017 passou a ter 90 km. A
julgar pelas promessas desde então, a rede de metrô paulista já deveria ter 60
km a mais.
A ampliação das linhas levou a bancária Paula Carreti, 34, a
desistir do ônibus e passar a intercalar seus deslocamentos entre carro e metrô
—ao qual dá preferência. “Marco todos meus compromissos perto de metrô,
faculdade, médico.” Ao enumerar os trajetos que faz diariamente, ela se
surpreende: “Entro pela linha verde, pego a amarela, a vermelha na hora do almoço,
azul de manhã”, enumera. “Nossa, eu pego todas!”
Esse fenômeno não é surpresa para Francisco Christovam, do
SPUrbanuss (sindicato que representa as empresas de ônibus paulistanas).
“A queda do ônibus em alguns lugares é porque a expansão do
metrô passa a atender os passageiros de maneira mais próxima”, afirma ele, que
aponta a criação da linha 4-amarela (liga a zona oeste ao centro de São Paulo)
e a expansão da linha 5-lilás (na zona sul) como exemplos.
É o caso do advogado José Beccari, 64, que, para sair dos
Jardins todos os dias de manhã, pegava ônibus até a av. Paulista, onde
trabalha. Quando precisava ir ao fórum da Barra Funda, a opção era ônibus e
metrô —agora, com a linha 4-amarela, basta o último para todos os trajetos.
“Economizo tempo, mais de dez minutos”, diz. “O ônibus era especialmente ruim
por causa do calor, o engarrafamento e ter que esperar muito.”
Quem também viu aumentar sua fatia na participação da
mobilidade na Grande São Paulo foi a CPTM (Companhia Paulista de Trens
Metropolitanos), que passou de 2% para 3% dos deslocamentos (de 800 mil para
1.300 viagens/dia).
Embora não tenha ampliado sua rede, a companhia ganhou novos
trens, reduziu intervalos e reformou estações, aumentando sua atratividade. O
sistema, porém, ainda carece de investimentos em infraestrutura —que, assim
como no metrô, acumula atrasos em seus principais projetos.
Desde 2007, tem aumentado também a integração entre metrô,
trens e ônibus, por conta de melhorias no Bilhete Único, por exemplo.
“É possível e desejável que o ônibus esteja se
complementando melhor com o metrô, que é um meio de transporte estruturante.
Cada vez mais, ele leva o passageiro até a estação de metrô e não até o
trabalho”, afirma Christovam.
Diante de uma nova licitação da Prefeitura de São Paulo que
deve contratar as empresas de ônibus para os próximo 20 anos, Christovam afirma
que os contratos devem estar preparados para prestar novos serviços de
mobilidade —mais modernos.
“Espero que a licitação nos ajude a não perder passageiro
para os aplicativos [tipo Uber, 99 e Cabify], mas que sejamos mais flexíveis.”
Para ele, serviços de ônibus menores e mais confortáveis sob demanda podem ser
uma alternativa.
Pela primeira vez desde 1967, quando a pesquisa começou a
ser feita, foi medida a presença de viagens acionadas por aplicativos. Essa
categoria já soma 362 mil viagens por dia, segundo o Metrô.
Outra constatação é a de que os trajetos feitos unicamente a
pé continuam sendo a maioria na Grande SP, com 31% dos deslocamentos, ou 12,8
milhões de viagens/dia.
Já as viagens de automóvel, embora tenham crescido em
números absolutos —de 10,4 milhões para 11,3 milhões—, mantiveram-se estáveis
na comparação com o restante dos deslocamentos.
No cômputo geral, a participação das viagens em transportes
coletivos caiu levemente, de 54,3% para 54,2%, em dez anos. O peso do
transporte individual ficou em 45,8%.
Eduardo Vasconcellos, da ANTP (Associação Nacional de
Transportes Públicos), afirma que o modelo de transporte individual mantém um
patamar muito elevado, uma vez que esses veículos ocupam mais espaço nas ruas e
consomem mais energia.
“O quadro só mudará quando houver forte expansão de um
transporte público de qualidade e a devida precificação do custo que o
transporte individual motorizado causa à cidade e ao ambiente”, diz.
A pesquisa OD ouviu 156 mil pessoas, com entrevistas
presenciais em 32 mil domicílios escolhidos aleatoriamente, mas que contemplam
a diversidade da Grande SP. Os entrevistadores questionavam aos moradores como
eles haviam se deslocado no dia anterior.
FLUXO EM RODOVIAS
O movimento de chegada e saída de veículos na Grande São
Paulo pelas rodovias aumentou 20% entre 2007 e 2017, conforme dados da nova
pesquisa Origem Destino do Metrô. A principal origem desses veículos são a
região de Campinas e Jundiaí, no interior paulista.
Por isso, a rodovia dos Bandeirantes lidera o fluxo diário
de veículos entre a Grande SP e o seu entorno, com 118 mil viagens nos dois
sentidos.
A segunda rodovia com mais fluxo é a Castello Branco, por
onde circulam 69 mil veículos por dia, nos dois sentidos. Em terceiro lugar,
fica a rodovia dos Imigrantes, que conecta o litoral paulista à capital, com 54
mil viagens.
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