A quebra na safra de soja pode ter reflexo na balança comercial brasileira. O grão encabeça a lista dos produtos exportados pelo País – responde por 15% da receita das vendas externas. A Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec) prevê uma queda de 12% nas exportações neste ano, em razão da colheita menor. A previsão é de que o Brasil exporte 73 milhões de toneladas, ante 82,8 milhões enviadas ao exterior em 2018.
De acordo com o diretor-geral da Anec, Sérgio Castanho Teixeira Mendes, é preciso levar em conta que as exportações do ano passado foram “um ponto fora da curva” por causa da guerra comercial com os Estados Unidos, que levou a China a comprar mais soja do Brasil. “Estamos prevendo esse volume de exportações com base numa safra de 116 milhões de toneladas. Se a quebra for maior e essa produção não for alcançada, pode haver um impacto maior na exportação”, diz. Mendes lembra que, em 2017, o Brasil exportou 68 milhões de toneladas.
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A soja é cultivada de norte a sul do País, em praticamente todos os Estados. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), embora a área plantada tivesse mantido a tendência de crescimento dos últimos dez anos, atingindo 35,8 milhões de hectares, a produtividade foi bastante afetada pelas condições climáticas adversas nos principais Estados produtores.
‘Cozimento’. O produtor Valdir Edemar Fries, de Itambé (PR), conta que as chuvas de novembro foram 50% menores que a média da região. “Em dezembro, passamos por estiagem e ficamos praticamente 20 dias sem ocorrências de chuvas. Isso, associado às altas temperaturas, prejudicou o desenvolvimento das lavouras. Antecipamos a colheita em 15 dias porque a estiagem e o calor anteciparam o ciclo da lavoura. Nesses talhões (unidades de cultivo dentro de uma propriedade), tive perdas de 30% numa área e de 60% em outra, que tinha um solo menos estruturado.”
Segundo Fries, as perdas foram agravadas pelo sol escaldante, que acabou “cozinhando” a superfície. “São perdas que de fato aconteceram e nesta safra não tem como recuperar”, afirma.
No sudoeste paulista, principal região produtora de soja de São Paulo, as lavouras tiveram perdas médias de 15%, segundo o dirigente da Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Estado em Itapeva, Vandir Daniel da Silva. “Somente na regional de Itapeva a perda atinge 1 milhão de sacas, sendo mais da metade no próprio município de Itapeva”, diz. Segundo ele, as lavouras foram afetadas pela falta de chuvas e temperaturas acima da média entre dezembro e janeiro.
O Rally da Safra, expedição técnica sobre a safra de grãos no Brasil, organizada pela consultoria Agroconsult, confirmou a quebra na produção de soja também em regiões do sudeste do Mato Grosso, onde são cultivadas lavouras de ciclo precoce.
De acordo com André Debastiani, coordenador de uma das equipes, no final de janeiro os técnicos já tinham confirmado um potencial produtivo um pouco abaixo do esperado nas regiões do médio-norte e oeste do Estado, maior produtor de soja do País. Entre as razões da baixa produtividade, segundo ele, estão as altas temperaturas de janeiro e fevereiro, que encurtaram o ciclo, afetando o peso dos grãos.
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