O plano da Vale de desativar a produção de nove minas de ferro em Minas Gerais, anunciado após a tragédia de Brumadinho (MG), poderá ter um efeito significativo nos volumes operados pelos trilhos da concessionária de ferrovia MRS Logística, da qual a mineradora é uma das sócias.
A MRS capta aproximadamente 30 milhões de toneladas das 40 milhões de toneladas anuais que a mineradora deixará de produzir no prazo de um a três anos. Isso equivale a uma perda potencial de 15% do total de cargas escoadas pelos trilhos da MRS.
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Mas, conforme a diretora de finanças, planejamento e relações com investidores da MRS, Fabrícia Gomes de Souza, se essa perda de fato se consumar, o reflexo financeiro para a companhia será mitigado. A MRS se diz protegida pelos contratos “take or pay” que tem com a Vale, modalidade que assegura o cumprimento do contrato ou, em caso de descumprimento, o pagamento a quem teve o negócio frustrado. Os contratos da MRS com a Vale vão até o fim da concessão da ferrovia, em 2026.
Em geral, nesse tipo de contrato há cláusula de excludente de responsabilidade quando algo ocorre fora do controle das partes. A questão é saber se, neste caso, o evento poderia ou não ter sido evitado pela mineradora.
Além disso, a expectativa é que o plano da Vale de descomissionamento de barragens e desativação de minas seja – conforme anunciou a mineradora – parcialmente compensado por aumentos da produção em outras minas. Por isso, 15% é o pior cenário de perda com que a MRS trabalha, mas a expectativa é de que o percentual fique abaixo disso.
“Seria um máximo 15% do volume transportado pela MRS potencialmente atingido, mas é estimativa, pois é muito recente. Ainda não temos totalmente mapeado qual será o impacto nesses três anos”, disse a executiva em entrevista ao Valor.
“Obviamente uma perda de volume não é bom, mas não vai gerar grande dano. A MRS é uma empresa que tem um colchão de liquidez muito grande, está super desalavancada”, disse Fabrícia. A alavancagem financeira, medida pela relação dívida líquida sobre lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda, na sigla em inglês), foi 1,36 vez em setembro, dado mais recente. Foi o melhor nível trimestral desde 2010.
Já o efeito do rompimento da barragem da mina Córrego do Feijão nos números da MRS deste ano será menor. A MRS é a operadora logística responsável por buscar o minério de ferro nessa mina. A estimativa é que a paralisação da produção reduza entre “2% e 2,5%” o volume de minério de ferro transportado pela MRS. A commodity é a principal carga que vai sobre seus trilhos.
Em 2017, último ano completo com dados disponíveis, a MRS escoou 116 milhões de toneladas da carga em sua malha, o equivalente a 68% da tonelagem total movimentada pelas linhas da operadora no período.
Os principais acionistas da MRS são a própria Vale e a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). O bloco controlador da companhia é formado por essas companhias mais a Gerdau e Usiminas.
O rompimento da barragem de rejeitos varreu duas locomotivas e 138 vagões da concessionária que estavam no pátio ferroviário da Vale no momento. Três funcionários ligados à MRS morreram e um está desaparecido. O parque ferroviário da MRS soma mais de 700 locomotivas e mais de 20 mil vagões. A malha ferroviária sob concessão da MRS não sofreu dano.
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