Após terem caído até 3,7% pela manhã, os recibos de ações da Vale negociados em Nova York fecharam em alta de 0,24% nesta segunda-feira, a US$ 12,42. Foi o primeiro pregão após a mineradora ter anunciado a troca do seu comando no fim de semana , em reação à pressão das autoridades por causa do acidente em Brumadinho (MG).
Não houve negócios na Bolsa brasileira, porém, uma vez que a B3 está fechada para o carnaval.
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Pela manhã, o Scotia Capital rebaixou sua recomendação para as ações da Vale nesta segunda-feira. Antes da troca de comando no fim de semana, o banco de investimentos classificava os papéis da mineradora como um destaque no setor. Agora, a leitura é que a perspectiva das ações está alinhada com a de seus pares. O preço-alvo daqui a 12 meses foi reduzido de US$ 16 para US$ 13,60.
A saída do presidente da Vale, Fabio Schvartsman, e de mais três diretores da companhia – que passa por seu momento mais difícil depois do rompimento da barragem de Brumadinho – pegou de surpresa analistas que acompanham a empresa.
A gestão financeira de Schvartsman era elogiada pelo mercado e as medidas adotadas pelo executivo após a tragédia eram vistas como adequadas pelo Conselho de Administração. Se, por um lado, o afastamento dele pode ser visto como uma boa estratégia de redução de riscos, com a Vale evitando atritos com o Ministério Público, por outro há o temor de que a troca de parte da diretoria, em plena crise, crie ruídos na gestão e dificulte a volta à normalidade da mineradora.
Caberá ao novo presidente interino, Eduardo de Salles Bartolomeo , que até sábado respondia pela diretoria de Metais Básicos, lidar não apenas com a gestão da crise aberta por Brumadinho, mas também reorganizar a operação com a paralisação de outras unidades de produção em Minas . Ele terá ainda de atuar na recuperação da credibilidade da mineradora no mercado, que já perdeu o grau de investimento – espécie de selo de bom pagador – concedido pela agência de classificação de risco Moody’s.
Em nota distribuída a clientes, o Itau BBA disse que o presidente interino pode assumir o posto permanentemente, “dado seu sólido currículo (…) e seu conhecimento sobre o setor minerador e a Vale.”
Mesmo assim, a mudança causou certa cautela entre investidores.
– A última coisa que a Vale precisava era uma mudança no comando no momento em que ela precisa de establidade – disse Paul Gait, analista-sênior da Bernstein Investment. – O “timing” foi estranho. Não foi nem imediatamente depois do acidente, nem quando já sabemos exatamente o que aconteceu.
Para analistas do Credit Suisse, a notícia do afastamento temporário de Fabio Schvartsman não chegou a ser uma grande surpresa, mas isso não significa que as ações não sofram pressão, uma vez que o executivo era visto de forma muito positiva pelo mercado.
“Ele foi considerado uma figura instrumental por trás da transição de governança corporativa da Vale para o Novo Mercado, estratégia de desinvestimento e desalavancagem, foco de corte de custos, disciplina de investimento e discurso de ‘valor acima de volume’ que gerou externalidades positivas nos mercados de minério de ferro”, disseram em nota a clientes.
Minério de ferro
Ribeiro e equipe reiteraram a recomendação de compra para os ADRs da empresa, mas afirmaram acreditar que a volatilidade continuará no curto prazo.
A capitalização de mercado da Vale chegou a despencar 26% nos pregões após o rompimento da barragem, perdendo R$ 76,9 bilhões em valor entre 24 de janeiro e 7 de fevereiro. Na sexta-feira, a mineradora encerrou o pregão valendo R$ 247 bilhões, uma perda de R$ 49,7 bilhões no período. Para efeito de comparação, em setembro a companhia estava avaliada em R$ 328,7 bilhões.
Parte da desvalorização do papel vinha sendo compensada pelo aumento de preços do minério de ferro. Como a Vale é a maior produtora da commodity no mundo, problemas em suas operações têm impacto significativo no estoque global do produto, o que tende a valorizá-lo. Desde o acidente, a cotação do minério avançou 13%, atingindo US$ 81,61 a tonelada.
“Enquanto a volatilidade em torno da Vale aumenta depois do colapso da represa em Brumadinho, a companhia deve ser capaz de gerenciar a crise, na nossa opinião. Sua flexibilidade operacional, sua exposição elevada aos preços do minério de ferro, cuja cotação da tonelada subiu mais de US$ 11 desde o desastre, e o histórico brasileiro de estipular multas e penalidades em patamares gerenciáveis são fatores que favorecem a Vale”, escreveu em nota Richard Bourke, analista de crédito da Bloomberg Intelligence.
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