A Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra) é um dos maiores legados da Rio-2016 para os cariocas. Mas a obra, que custou cerca de R$ 10 bilhões, foi inaugurada incompleta. Sufocado pela maior crise financeira de sua história, o estado não teve dinheiro para terminá-la e, por isso, deu prioridade ao trecho principal, entre a Praça General Osório e o Jardim Oceânico. Ficou faltando a Estação Gávea e a ligação desta com o restante da linha.
Três anos após a Olimpíada, a obra está mergulhada em polêmica. Com o objetivo de estabilizar a estrutura, em janeiro do ano passado, a estação, que será a mais profunda do metrô, foi inundada com 36 milhões de litros de água pela concessionária Rio Barra, responsável pela construção da linha.
No entanto, uma nota técnica da Rio Trilhos, que fiscaliza o metrô, sustenta que, mesmo assim, a estação ameaça construções vizinhas, entre elas o prédio da PUC. “Há risco de as estruturas da obra da Estação Gávea , hoje inundadas, ruírem e colocarem em perigo vidas e a estrutura de prédios lindeiros”.
A questão se torna mais complexa porque o Ministério Público conseguiu impedir na Justiça que o governo volte a colocar recursos na obra, devido a indícios de superfaturamento de R$ 3 bilhões. O órgão quer que o restante da construção – orçado em cerca de R$ 700 milhões – seja bancado pela concessionária Rio Barra.
Em meio ao impasse, o estado pediu à Justiça que reconsidere a liminar que o impede de investir na obra da Estação Gávea, interrompida em 2015. O argumento é o risco que a paralisação acarreta para a vizinhança.
Na verdade, não há solução simples. Como mostrou reportagem do GLOBO publicada na quarta-feira, obras para estabilizar a futura estação demandariam recursos, ainda não orçados, e tempo – estima-se de um a dois anos.
Ora, não faz sentido gastar-se tempo e dinheiro em soluções paliativas. Melhor seria concluir logo a obra, para que a estação possa ser integrada à Linha 4, como previsto no projeto. Se houve superfaturamento, que se cobre na Justiça o dinheiro desviado e se punam os responsáveis pela roubalheira. Mas a população não pode ser prejudicada.
Há que se considerar que já foram gastos recursos públicos, tanto na escavação de 40% da estação quanto nos túneis – falta apenas um trecho de 1,2 km. Incompleta, ela não serve para nada. E ainda ameaça os vizinhos, que já temem uma tragédia. Não passa de um monumento ao desperdício. Concluída, beneficiará 19 mil pessoas por dia e contribuirá para acrescentar mais passageiros à Linha 4, hoje subutilizada.
Portanto, qualquer discussão sobre a Estação Gávea do metrô deve levar em conta sobretudo os interesses da população. Afinal, foi ela quem pagou pela obra mais cara da Olimpíada do Rio.
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