O ambiente de restrição fiscal, em que países da América Latina e Caribe perderam capacidade de investir, impõe novos arranjos de cooperação entre setores público e privado para prover financiamentos em áreas cruciais para o desenvolvimento, como a infraestrutura. Romy Calderón, da Alide, lembra que pelos menos 25 países da região enfrentam situação de crise fiscal, com limitação de recursos públicos para tocar projetos do setor produtivo. A tendência é de queda nos ativos dos bancos de desenvolvimento do continente. A carteira de projetos na região soma US$ 750 bilhões, 15% abaixo dos valores de 2016.
A necessidade de financiamento é gigantesca diante das carências do continente latino-americano. “A região investe apenas 3% do PIB ao ano em infraestrutura. Deveria, no mínimo, dobrar o percentual”, diz Enrique García, com a autoridade de quem foi, durante 25 anos, presidente do hoje Banco de Desenvolvimento da América Latina (CAF). Em sua gestão, o CAF, originalmente andino e com cinco países fundadores, tornou-se uma das principais fontes de financiamento multilateral da região, com 19 países.
A busca por novas fontes de recursos, com captações junto a investidores institucionais, como fundos de pensão e seguradoras, foi alternativa apontada pelos representantes de bancos de desenvolvimento. Até porque, conforme consenso entre participantes do encontro, há abundância de recursos nos mercados globais, com investidores ávidos para aplicar dinheiro em negócios que garantam retorno.
Mas como atraí-los para inversões na América Latina, região que, segundo García, vem perdendo importância relativa no cenário internacional? Do ponto de vista político-institucional, a resposta passa pela estratégia de recuperação do poder de influência dos BDs junto a governos na formulação de políticas públicas em direção à Agenda 2030.
Na ótica da prática financeira, a situação exige instrumentos financeiros inovadores, relacionados a questões de riscos, capazes de dar segurança a investidores institucionais. “As instituições públicas de fomento precisam ir além do que simplesmente financiar ou somente responder a demandas de crédito”, afirma Maria Netto, especialista da divisão de conectividade, mercados e finanças do BID. Para ela, há também necessidade crescente de os bancos públicos se justificarem como instituições de apoio ao desenvolvimento sustentável e demonstrar os impactos social e ambiental dos projetos apoiados. O processo exige a implementação de modelos e métricas de monitoramento e avaliação de externalidades. É o que Suchodolski, do BDMG, chama de adicionalidade, conceito no qual os bancos de desenvolvimento “deixam de ser meros repassadores de recursos baratos, como foram no passado, e passam a agregar mais valor em suas entregas à sociedade”.
Apesar do consenso sobre a necessidade de mudança na atuação dos BDs, Philippe Orliange, diretor da Agência Francesa de Desenvolvimento enfatiza que eles estão ganhando protagonismo internacional, como demonstra a criação do IDFC, entidade que reúne os BDs de diversos países, com financiamento anual de US$ 600 bilhões. “Os bancos de desenvolvimento não causaram a crise em 2007 e 2008, quem causou a crise foi a banca privada. Os BDs estão do lado da solução, não do problema, ao contrário do que falam.”
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