Localizada a cerca de 75 quilômetros de São Paulo, no caminho para Sorocaba, está Mairinque, de 50 mil habitantes, uma cidade que cresceu ao redor da Estação Ferroviária de Mairinque. Eu trabalhei ali por mais de vinte anos. Comecei fazendo reparos em truques de vagão e me aposentei como inspetor. Meu pai, meu avô e meus tios trabalharam lá. A cidade nasceu com os ferroviários. Quase todas as famílias têm um, conta Francisco Antônio de Camargo, presidente da Associação Mairinquense de Preservação Ferroviária.
A construção atual, inicialmente chamada de Estação Mayrink, foi erguida em 1906. Substituiu um tímido prédio de madeira, inaugurado dez anos antes, de forma provisória. Fez parte da Estrada de Ferro Sorocabana, projetada para diluir o monopólio de exportação da antiga São Paulo Railway, primeira ferrovia do estado. Os trilhos ligavam o interior (Sorocaba, Itu e Campinas) à capital e ao litoral, principalmente ao porto de Santos.
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O projeto do arquiteto Victor Dubugras foi o primeiro do tipo a ser construído com concreto armado no país. Também inaugurou o modelo de ilha, com dupla plataforma e um amplo hall central que concentrava serviços como bilheteria, telégrafo, armázem e despacho. Os trens com passageiros circularam entre 1937 e 1999, quando a malha ferroviária foi revista e a antiga estação foi adquirida pela prefeitura. O prédio foi tombado como patrimônio histórico pelo Condephaat em 1986 e pelo Iphan em 2004, ano em que o o Museu Ferroviário de Mairinque passou a funcionar em uma das salas do edifício. De vez em quando a gente vai lá e tenta preservar um pouquinho. No museu tem um funcionário, mas a outra parte fica abandonada. Tem calha furada, infiltrações, mato alto. Você acende uma lâmpada e apaga a outra, conta Camargo.
Em 2014, o Condephaat realizou um concurso de projeto de restauro em que foi premiada a proposta elaborada pelos escritórios de arquitetura SIAA e HASAA. Entre as intervenções, estava prevista a construção de uma pequena praça mirante, a adequação de elementos de acessibilidade e a substituição dos antigos pisos de pedra. Aprovado no ano seguinte, o projeto foi orçado em cerca de 6 milhões de reais e, até o momento, não saiu do papel. O nosso contrato era só para a parte do projeto, então estamos de mãos atadas. Já está tudo detalhado.
Falta, agora, viabilizar, explica Cesar Shundi, um dos arquitetos responsáveis pelo plano. Em nota, o diretor de cultura de Mairinque, Sandro Rolim, afirma que os recursos para a regularização virão através de emenda parlamentar aprovada, que aguarda o empenho pelo Ministério do Turismo. A adequação às normas do Corpo de Bombeiros é o primeiro passo para a restauração do espaço, tendo em vista que o projeto definitivo deverá ser realizado em cotas, afirma Rolim.
Publicado em VEJA SÃO PAULO de 8 de julho de 2020, edição nº 2694.
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