Ela ficava exposta sobre cerca de 30 m de trilhos numa praça e, nos últimos 47 anos, além de enferrujar, foi alvo de furtos de peças de cobre, ferro e aço em Ribeirão Preto. Agora, já bastante deteriorada, a locomotiva alemã, uma das três remanescentes da fabricante Borsig existentes no país, será restaurada, a um custo de R$ 749 mil.
A maria-fumaça deixou a praça Francisco Schmidt, no centro de Ribeirão, no último sábado (18), e foi levada para Campinas, onde passará por restauro nas oficinas da ABPF (Associação Brasileira de Preservação Ferroviária).
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Fabricada em 1912, a locomotiva pertenceu à Usina Amália e foi doada ao município de Ribeirão pelas Indústrias Matarazzo. Instalada na praça em 1973, desde então sofreu furtos e todo tipo de vandalismo que se imagine.
Para que pudesse ser levada para Campinas, precisou passar por processo de desinfecção antes de os técnicos fazerem seus trabalhos, já que era usada como banheiro por andarilhos e usuários de drogas e apresentava lixo como restos de comida e preservativos usados.
A locomotiva deixou Ribeirão às 12h30 e chegou à estação Anhumas, em Campinas, às 18h, onde foi recebida com festa por membros da associação.
Essa contratação é muito importante para Ribeirão Preto, pois é o primeiro item do nosso patrimônio ferroviário a ser efetivamente recuperado. Espero que seja apenas o início da preservação de nosso acervo e que isso acelere a criação do Museu Ferroviário, afirmou Denis Esteves, presidente do Instituto do Trem.
A praça Francisco Schmidt fica na região da Baixada de Ribeirão Preto, que é uma área no centro da cidade que abriga moradores de rua e usuários de drogas -principalmente à noite.
O valor da restauração gerou queixas de alguns grupos na cidade, que não consideram a recuperação essencial, principalmente num momento de pandemia do novo coronavírus.
A pandemia retardou um pouco a abertura da licitação, mas assim que o fluxo operacional permitiu ela foi aberta. O recurso estava ‘carimbado’ e tinha que ser empregado neste projeto. Algumas pessoas chegaram a reclamar por não ser uma prioridade nesse momento, porém a prefeitura não poderia deixar de fazer nem destinar o recurso para outro fim, como o combate à pandemia, disse Esteves.
A restauração faz parte de um pacote de R$ 75 milhões de uma operação de crédito entre a prefeitura e o Banco do Brasil, assinado em setembro do ano passado e que inclui recuperação de prédios públicos e obras de mobilidade urbana.
A previsão, conforme o contrato, é que o restauro esteja concluído em um ano. A locomotiva será desmontada e reparada, com restauração de cada componente, reconstrução das partes irrecuperáveis e reposição das peças faltantes devido aos furtos.
BATALHA PELO TREM
Além da maria-fumaça que agora será recuperada, Ribeirão tem outra locomotiva exposta na estação ferroviária da avenida Mogiana, que quase deixou Ribeirão Preto há menos de três anos.
Em dezembro de 2017, alvo de disputa com o consórcio Trem Republicano, comandado pelas prefeituras de Salto e Itu, a maria-fumaça -abandonada e que também foi alvo de furtos e vandalismo- chegou a ser colocada numa carreta para ser levada embora, mas foi impedida de deixar o município.
Elas têm elo histórico com o desenvolvimento econômico da cidade -uma das principais atendidas pela Companhia Mogiana de Estradas de Ferro, ao lado de Campinas-, e responsável por transportar o ouro verde, como era chamado o café no início do século passado.
A autorização para levar a locomotiva para Salto foi dada pelo Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), por meio do termo de transferência nº 292. De acordo com o órgão do governo federal, um consórcio formado pelas prefeituras de Salto e Itu pretende restaurar a máquina e propiciar a volta da composição à circulação ferroviária, por meio do turístico Trem Republicano.
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