O futuro da ferrovia

Locomotiva da Wabtec movida a bateria operando em ferrovia americana

Eficiência, produtividade, segurança e descarbonização são parte da jornada da Wabtec para o setor nos próximos anos

O setor ferroviário tem sido protagonista nas discussões que envolvem um futuro mais sustentável. No último dia 17 de março, o CEO da Wabtec Corporation, Rafael Santana, fez um discurso no Comitê de Transporte e Infraestrutura do Congresso dos Estados Unidos, afirmando que a ferrovia está em uma posição privilegiada para contribuir nessa empreitada.

O executivo apresentou aos congressistas americanos o programa Freight 2030, uma parceria entre a Wabtec, a universidade Carnegie Mellon University, referência em inteligência artificial e robótica, e a Genesee & Wyoming, uma das principais shortlines daquele país. Desse acordo, surgiu o Freight Rail Innovation Institute, com o objetivo de liderar a transformação da indústria ferroviária, ao trazer soluções mais verdes, eficientes e competitivas para a ferrovia.

O instituto vai trabalhar nos próximos nove anos com base em três pilares. O primeiro deles é a descarbonização, por meio do desenvolvimento de locomotivas de emissão zero. O segundo é a busca por tecnologias que proporcionem o aumento da produtividade das ferrovias, assim como de segurança e eficiência. O terceiro é a criação de empregos através de ações de estímulo fomentadas tanto pela indústria quanto pelas operadoras ferroviárias.

A parceria da Wabtec com os meios acadêmico e privado acontece no momento em que a empresa finca os pés na vanguarda da tecnologia ferroviária. A estrela da vez é a FLXdrive, a primeira locomotiva elétrica heavy haul movida 100% a bateria, lançada pela companhia em 2020. A máquina está em operação na ferrovia americana BSNF Railway, onde já rodou mais de 20 mil km. A operação é realizada a partir da conexão da FLXdrive entre duas locomotivas diesel elétricas, modelo conhecido como “Hybrid Consist“.

Os resultados são animadores. Em cinco meses e 16 viagens feitas, a utilização da energia das baterias propiciou uma redução média de 10% no consumo de óleo diesel. Foram quase 20 mil litros de diesel economizados, o equivalente a 50 toneladas de CO2 que deixaram de ser emitidas na atmosfera. As baterias de íon-lítio compostas por 20 mil células são capazes de gerar 2,4 MWh. Numa próxima fase de testes, a perspectiva é reduzir em até 30% o consumo de combustível e emissões através de uma bateria com capacidade de gerar 6 MWh.

Em outra ponta, a Wabtec investe no desenvolvimento de motores híbridos de bateria e de combustão de hidrogênio. “Esperamos iniciar os testes rapidamente. Essas novas tecnologias poderiam ser adaptadas na frota atual de locomotivas. Cada máquina movida a diesel convertida para uma fonte alternativa de energia pode economizar até 3 mil toneladas de CO2 por ano”, relatou Rafael Santana em seu discurso.

NO BRASIL

A evolução tecnológica prevista pelo CEO da Wabtec vai ao encontro do que se espera das ferrovias brasileiras nos próximos anos. As renovações antecipadas dos contratos de concessão e os novos projetos ferroviários estão estabelecendo não só uma dinâmica inédita de investimentos e expansão do modal, mas também um ambiente de estímulo à inovação, na opinião do presidente da Wabtec para a América Latina, Danilo Miyasato.

Nesse sentido, o executivo diz que a Wabtec no Brasil também está aberta a discussões que visam ao desenvolvimento de soluções tecnológicas e sustentáveis para as ferrovias. A empresa estuda algumas frentes e tem se disponibilizado a entender que parcerias podem se estabelecer nos âmbitos governamental, privado e acadêmico. Na sua avaliação, a cooperação é o caminho para inovar no setor ferroviário.

Locomotiva da Wabtec movida a bateria operando em ferrovia americana


O compromisso da Wabtec com um futuro mais sustentável, eficiente e seguro para a ferrovia, no entanto, não se resume apenas a essa busca de parcerias. A própria companhia fez o dever de casa estabelecendo de antemão, em outubro de 2020, sua estratégia de sustentabilidade para os próximos anos em nível global.

Os três pilares que compõem essa cartilha são baseados em inovação com propósito, ou seja, desenvolvimento de tecnologias mais eficazes, produtivas, seguras e que reduzem as emissões de CO2; operação mais sustentável, com metas nas fábricas para a redução de energia e de uso de água, além do aprimoramento da segurança; e o comprometimento com as comunidades onde a empresa atua, além do compromisso com a diversidade e a inclusão.

Para Miyasato, os pilares servem como guia em um ambiente onde as ferrovias estão cada vez mais engajadas na busca de segurança, produtividade e descarbonização. “Adaptar e acelerar as nossas tecnologias de acordo com as necessidades dos clientes, com foco em sustentabilidade e produtividade, é o nosso compromisso”, ressalta o executivo.

SOLUÇÕES EFICIENTES

A Wabtec tem no portfólio soluções que permitem a ferrovia atravessar uma jornada progressiva de sustentabilidade e eficácia da operação, diz Miyasato. A introdução de locomotivas AC44, de corrente alternada, lançadas em 2007, foi um marco na eficiência energética do setor no Brasil. Comparando com máquinas anteriores a esse modelo, a redução do consumo de combustível pode chegar a 20%.

O sistema digital Locotrol, que está presente em quase todas as ferrovias do país desde 2010, permite o controle remoto de locomotivas distribuídas ao longo do trem. Em 2015, foi lançada uma locomotiva específica para a bitola métrica brasileira, a ES43BBi – um avanço tecnológico que garantiu em torno de 15% de eficiência energética às operadoras. O Trip Optimizer é um sistema que permite a economia mais racional do combustível ao atuar como um piloto automático do trem. O modelo Evolution é uma evolução – como o nome já diz – da AC44, e pode chegar a 6 mil HP de potência.

Entre as tecnologias que devem chegar em breve ao Brasil estão a FLXdrive (locomotiva movida a bateria) e a versão 2.0 do Positive Train Control (PTC), sistema que passou por uma atualização e agora permite a sinalização através de blocos virtuais em vez do tradicional bloco fixo. “O novo sistema PTC aumentará significativamente a eficiência de nossas ferrovias, maximizando o uso dos ativos e da via, utilizando segurança vital”, destaca Miyasato.

Para o executivo, a inovação tecnológica será a base para as ferrovias conseguirem aumentar seu nível de serviço, num cenário em que o crescimento do setor na matriz de transportes do Brasil é esperado até 2030. Segundo previsões do governo federal, a ferrovia deverá responder por cerca de 30% de toda a carga transportada no país nos próximos 10 anos, o dobro da participação atual.

“Para alcançar maior participação na matriz de transportes, as ferrovias deverão inevitavelmente lançar mão de tecnologias que agreguem a operação e façam a conexão com outros modais. Em 2030, prevejo o nível de serviço das ferrovias em outro patamar, não só focado na movimentação de commodities, mas também no transporte de produtos de maior valor agregado”, conclui Miyasato.

Compromisso com a inovação

Presidente da Wabtec para a América Latina desde janeiro deste ano, Danilo Miyasato assumiu o cargo num momento de disrupção da empresa na questão da sustentabilidade e eficiência energética. Seguindo o exemplo da matriz, nos EUA, onde foi dado o pontapé inicial para o desenvolvimento de novas tecnologias através de parcerias, Miyasato firmou o compromisso de adaptar e acelerar soluções que atendam as necessidades das ferrovias brasileiras. O executivo acredita que o momento é favorável para inovações no setor, à medida em que as renovações das concessões e novos projetos ferroviários avançam. Iniciativas de cooperação tecnológica são bem-vindas, segundo ele, e serão um dos nortes da empresa nos próximos anos.

Danilo Miyasato: cooperação tecnológica é bem-vinda

Poderia nos detalhar o projeto Freight 2030 e como ele poderá impactar o setor ferroviário brasileiro?
O Instituto criado por meio da parceria da Wabtec com uma universidade e uma shortline nos EUA propõe a liderança da indústria em pesquisas inovadoras de tecnologias renováveis. Isso vai impulsionar a fabricação de locomotivas elétricas, de hidrogênio e híbridas, além de integrar avanços em inteligência artificial na busca por melhorias em produtividade e segurança. No Brasil, observamos compromissos cada vez mais claros das ferrovias na pauta da sustentabilidade, incluindo descarbonização, eficiência e produtividade. Nossa missão é adaptar e acelerar as tecnologias, atendendo cada cliente e suas necessidades específicas.

No Brasil, há um ambiente favorável para parcerias que envolvam pesquisa e desenvolvimento de tecnologias para o setor ferroviário?
Estamos otimistas em relação ao setor. As renovações das concessões e os novos projetos ferroviários criam um ambiente favorável para inovação, produtividade, eficiência e redução de emissões de CO2. São fundamentais iniciativas de cooperação tecnológica para suportar esse momento. A Wabtec está aberta a conversas, para criar parcerias visando à inovação da ferrovia brasileira. Temos uma base instalada de engenharia, produtos e serviços capazes de catalisar o desenvolvimento de novas tecnologias.

Como você enxerga o transporte ferroviário de carga no Brasil?
As ferrovias fazem um trabalho de destaque no que diz respeito à eficiência operacional, entregando indicadores iguais ou até melhores que as Class I americanas. São referência mundial e um orgulho para nós. Atendemos os clientes com soluções que vão desde motores a diesel até sistemas de sinalização. As locomotivas a bateria são a evolução nesse processo de sustentabilidade, e entendemos que sua implementação requer adaptações, avaliação de custo e segurança. Vai ser uma jornada até a emissão zero de carbono, e estamos prontos para atravessá-la.

Como as soluções da Wabtec poderão se encaixar nos novos projetos de ferrovia, formatados para receber selo verde?
Essa iniciativa do governo está alinhada à nossa estratégia sustentável, e reforça o compromisso da Wabtec que é inovar com propósito. Para receberem selo verde, as ferrovias precisarão comprovar alguns requisitos como coeficiente de emissões de CO2 equivalente de até 25 gramas por tonelada-quilômetro; e redução de pelo menos 25% das emissões de GEE na comparação com o modal rodoviário. Em nossa base de tecnologias, temos soluções que garantem o aumento da eficiência energética nas ferrovias.

A Wabtec comprou recentemente a Nordco, uma empresa de equipamentos de manutenção de via e outras soluções. Como enxerga esse mercado nos próximos anos?
As renovações das concessões e novos projetos certamente vão gerar uma demanda por equipamentos de manutenção de via, troca de dormentes, trilhos etc. Essa aquisição vem complementar nosso portfólio de soluções para ferrovias, alinhada com o nosso compromisso de sustentabilidade. Estamos muito empolgados para gerar sinergia e aumentar nosso leque de produtos para os clientes.  

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