Valor Econômico – Uma pesquisa da KPMG apontou que a maior parte das empresas do setor de energia no Brasil não está preparada para as mudanças em curso na economia global, como a transição para um cenário de baixo carbono e a adoção de novas tecnologias. Entre os entrevistados do setor de energia elétrica e utilidades públicas, 80% acreditam que as empresas em que atuam ainda não conseguiram identificar as oportunidades de negócios geradas a partir da transição energética.
Apenas 10% veem as companhias preparadas para o atendimento regulatório e identificação dos riscos decorrentes da abertura do mercado livre, no qual os consumidores podem escolher os fornecedores de energia.
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Os resultados fazem parte da pesquisa “Nos trilhos da jornada digital”, da KPMG, antecipada ao Valor. O estudo conversou com executivos de mais de 50 empresas do setor de infraestrutura no país, sendo que mais de dois terços dos entrevistados são tomadores de decisão dentro das companhias.
“O Brasil tem uma vantagem competitiva enorme na transição energética, mais de 80% da matriz elétrica do país é renovável. Mas, mesmo diante dessas fontes, estamos preparados do ponto de vista tecnológico? Há preparação para tornar novos negócios viáveis? Não temos dados, tecnologias, e não estamos culturalmente preparados para as transformações que a transição energética vai trazer”, aponta o sócio da área de energias e recursos naturais da KPMG, Anderson Dutra.
No setor de petróleo e gás, somente 48% dos executivos acreditam que as organizações em que atuam estão preparadas para repor o portfólio com ativos oriundos de fontes alternativas de energia. Nessa indústria, apenas 26% disse aplicar tecnologias disponíveis, como drones, visualizações 3D e inteligência artificial, para melhorar a forma como é feita a gestão de ativos e reduzir custos, de modo a ganhar competitividade no novo cenário do setor.
Analistas acreditam que questões culturais afetam a gestão das empresas brasileiras, que ainda precisam adotar um melhor uso dos dados para basear a tomada de decisões sobre os próximos passos dos negócios. Acelerar a descentralização dos processos decisórios também é um dos fatores que poderia ajudar numa adaptação para os novos momentos das indústrias, aponta Dutra.
Por outro lado, ele acredita que as empresas de petróleo e gás já perceberam a necessidade de transformação da indústria. Cerca de 20% das companhias participantes da pesquisa já não se consideram mais empresas de um único setor, mas sim companhias integradas de energia. “Esse não é um percentual pequeno”, diz Dutra.
Para a especialista em energia e sócia no escritório Castro Barros Advogados, Ludmilla Corkey, há uma diferença de compasso na preparação de companhias de diferentes portes para as mudanças em curso na economia.
“As companhias grandes têm muitos recursos e uma facilidade maior de migrar para o baixo carbono do que as empresas de médio e pequeno porte, que não têm tanto acesso a recursos financeiros e humanos para se reposicionar”, aponta Corkey.
Além disso, questões regulatórias também podem ser um ponto de dificuldade na adaptação de empresas de energia elétrica e de petróleo e gás para as novas realidades dos setores. O sócio da área ambiental do BMA Advogados, Márcio Pereira, acredita que o país precisa de mais planejamento, além de uma melhor preparação empresarial e regulatória para a economia de baixo carbono.
“Do lado regulatório, há coisas interessantes acontecendo no Brasil, mas poderíamos estar mais preparados para a transição energética. Já temos alguns incentivos para energia renovável, por exemplo, mas a questão do licenciamento ambiental continua sendo uma discussão”, diz Pereira.
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