Valor Econômico – Liderados pela Suzano, produtores de celulose de fibra curta (eucalipto) na América do Sul iniciaram uma rodada de reajustes para julho, a sétima deste ano, empurrando cada vez mais para frente a correção de preços que deve ser deflagrada pela entrada em operação de novas fábricas.
Na sexta-feira, conforme o Valor informou, a Suzano comunicou a seus clientes aumentos de US$ 20 a US$ 40 por tonelada de fibra curta, de acordo com a região, válidos para o mês que vem. Segundo fontes de mercado, a Klabin também elevará preços em julho e vai anunciar os reajustes nesta segunda-feira.
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Estoques baixos, paradas não programadas em fábricas no Hemisfério Norte, gargalos logísticos e, mais recentemente, demanda firme dão suporte aos sucessivos aumentos, que começaram já no fim de 2021.
As estatísticas de maio divulgadas pelo PPPC (Pulp and Paper Products Council), que reúne informações da indústria em todo o mundo, mostraram expansão de 5,2% nos embarques globais da fibra, na comparação anual, para 4,38 milhões de toneladas, puxados pela fibra curta.
Na Ásia, o aumento anunciado para julho é de US$ 20. Considerando-se o valor que havia sido anunciado pelos produtores para a fibra curta em junho, de US$ 840 por tonelada, o novo preço na China chega a US$ 860 por tonelada, o maior da história em termos nominais.
Segundo a Fastmarkets Foex, o preço líquido da fibra curta chegou a US$ 843,40 por tonelada na última semana, alta de US$ 31,20 em um mês e queda de US$ 0,70 em uma semana, numa indicação de que o reajuste de junho foi integralmente implementando.
O preço de revenda da matéria-prima na China, por sua vez, avançou US$ 6,60 na semana, para US$ 852,28 por tonelada, de acordo com o BTG Pactual, novamente acima do valor de importação. As margens da indústria papeleira chinesa estão mais pressionadas do que em outras regiões.
Na Europa, o reajuste será de US$ 30, elevando a US$ 1.380 por tonelada o preço de referência da celulose de eucalipto no próximo mês. Já na América do Norte, o aumento chega a US$ 40, levando o preço lista a US$ 1.610 por tonelada.
Ao mesmo tempo, sinais cada vez mais evidentes de que as grandes economias enfrentarão turbulências econômicas mais perto do fim do ano e o início de operação do Projeto Mapa da Arauco, no Chile, impuseram tom mais cauteloso às análises sobre preços no segundo semestre, em particular no quarto trimestre.
Entre os próprios produtores, embora os receios em relação à demanda no terceiro trimestre tenham se dissipado, há dúvidas quanto ao comportamento do mercado nos três últimos meses de 2022, e à intensidade da potencial correção das cotações.
Em um trabalho de análise dos termos usados por 25 companhias de celulose e papel em conferências neste segundo trimestre — usando a ferramenta UBS Evidence Lab Transcriptlytics —, o UBS apontou que o sentimento piorou na comparação trimestral, embora ainda esteja melhor do que o verificado no mesmo período de 2021.
Conforme o banco, custos e preço seguem como as palavras mais citadas, porém com frequência menor. Ao mesmo tempo, demanda e volume foram termos mais mencionados do que anteriormente, “provavelmente refletindo preocupações relacionadas às perspectivas gerais de crescimento econômico no segundo semestre”, apontam os analistas, em relatório de 14 de junho.
Por região, aponta o UBS, a percepção é que o sentimento entre as companhias teve leve piora na Europa e na América Latina, enquanto na América do Norte houve alguma melhora.
Em relatório do dia 14, a Fitch Ratings destacou que, embora a demanda na China tenha se enfraquecido, a dos fabricantes de papel europeus e americanos ainda é forte, devido à crescente demanda por papel, levando à escassez de oferta de celulose e preços recorde do papel. “A nova capacidade de celulose de fibra curta na América Latina (cerca de 6,3 milhões de toneladas entrarão em produção até 2024) levará a uma maior pressão de preços em 2023 e 2024, e achatará a curva de custo de produção”, observou.
Em relação à nova fábrica da Arauco, no Brasil, os analistas do Bank of America escreveram que o projeto eleva as preocupações em relação à oferta — serão mais de 6 milhões de toneladas em dois ou três anos —, mas seu impacto ainda está distante, uma vez que o início de operação está previsto para 2028.
“Muito distante para exercer qualquer impacto significativo na dinâmica de preços de celulose no momento. Os mercados de celulose continuam muito apertados com restrições logísticas e gargalos na cadeia de suprimentos ainda aparentes, prazos de entrega estendidos, estoques de celulose baixos e um nível recorde de interrupções no fornecimento suportando preços muito altos”, escreveram os analistas George Staphos, Caio Ribeiro, Leonardo Neratika e Guilheme Rosito.
Consultadas, Suzano e Klabin confirmaram as informações de reajuste em julho.
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