Valor Econômico – O cenário de baixa competição em leilões de infraestrutura visto nesta quinta-feira (18) na sétima rodada de aeroportos deverá se manter até o fim do ano. Entre os governos, a meta é viabilizar as licitações — se houver concorrência, melhor, mas a atração de ao menos um grupo já tem sido alvo de comemoração.
A combinação de inflação alta (com disparada nos insumos da construção), elevação dos juros no mundo todo, ano eleitoral no Brasil e incertezas políticas globais têm afetado em cheio a extensa carteira de projetos de infraestrutura de longo prazo no país. Além disso, cada projeto em particular tem seus próprios desafios específicos. Porém, a percepção geral no mercado é que o cenário macro tem pesado mais do que os fatores particulares.
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Por um lado, os desafios dificultam a entrada de novos investidores. Por outro, para os operadores que já estão no país, a crise afeta não só os estudos dos leilões, mas os próprios contratos vigentes — muitos deles conquistados em um momento de inflação bem menor, mas cujos investimentos estão sendo realizados só agora, sob uma nova realidade.
Desde o fim do ano passado, quando o leilão da rodovia Dutra (chamada de “joia da coroa”) atraiu apenas um grupo (a CCR), o setor já acendeu o alerta para a dificuldade de atrair investidores, uma percepção que se aprofundou neste ano. Diversos leilões tiveram que ser cancelados e reformulados para se adequar à nova realidade de custos operacionais e financeiros.
O aeroporto de Congonhas era um dos ativos de maior porte que analistas ainda viam potencial de atrair disputa — o que não se concretizou, embora a espanhola Aena tenha surpreendido e feito uma oferta muito acima do necessário, com ágio de 231%.
Alguns movimentos, porém, têm surpreendido positivamente o mercado. Na semana de leilões rodoviários do governo de Minas Gerais, de três concessões licitadas, a competição novamente foi baixa, mas houve a atração de novos entrantes — a italiana INC levou o Rodoanel de Belo Horizonte, contrariando a expectativa de que dificilmente um estrangeiro aceitaria entrar no mercado brasileiro em ano eleitoral. Além disso, o consórcio Equipav-Perfin, que ficou com as outras duas concessões mineiras, já sinalizou a intenção de se consolidar como nova plataforma para o setor. Na sétima rodada dos aeroportos foi a XP Asset que marcou sua estreia no setor.
A percepção é que a bola está com o setor privado. A carteira de projetos de infraestrutura neste ano é extensa, e os governos (federal e estadual) têm se empenhado em ouvir as empresas antes de lançar (e relançar) seus editais. Diante do cenário difícil, tem sido comum entre os governos cancelar ou postergar leilões para reformular os projetos e adicionar mecanismos de mitigação de risco ou aportes adicionais para tentar atrair as companhias.
Apesar das adversidades, há uma carteira significativa de leilões que ainda podem sair em 2022.
No setor de rodovias, já estão marcadas mais três licitações até o fim do ano: o Bloco 2 do Rio Grande do Sul; o Lote Noroeste Paulista do governo de São Paulo; e um bloco de rodovias no Mato Grosso do Sul. O governo paulista também já lançou um novo edital para a PPP do Rodoanel Norte, porém, a data do leilão ficou para janeiro de 2023.
Além disso, há expectativa no setor de que dois blocos das Rodovias do Paraná possam ser lançados até o fim de 2022, assim como o leilão da BR-381 — que passou por mudanças e poderá sair com uma versão reformulada e mais enxuta, sem a BR-262.
Em saneamento básico, também já há duas PPPs de esgoto marcadas para setembro, do governo do Ceará. A questão que se coloca é se haverá demanda para tanta oferta.
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