Por dentro do trem-bala chinês: conheça a rede de alta velocidade que pode operar no Brasil em 2032

Estadão – Se fosse um cidadão comum e não tivesse um avião oficial a sua disposição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva poderia escolher entre dois modais concorrentes para cruzar os 1.300 quilômetros que separam as metrópoles de Xangai e Pequim, durante sua passagem pela China. Lula decolou para cumprir o percurso em duas horas. A reportagem do Estadão embarcou no trem-bala, numa das linhas mais concorridas da rede de trilhos chinesa que serve de modelo para o mundo e para o Brasil.

De trem, que alcança até 350 km/h, o mesmo trajeto dura 4h27min. Só que dispensa a chegada com ao menos uma hora de antecedência ao aeroporto, complicações com despacho de bagagem, inspeção em raio-x, filas pré-embarque e atrasos frequentes no setor aéreo chinês.

Uma das principais conveniências do trem-bala na China é a extrema pontualidade. Além de permitir o desembarque/embarque conectado com outros aeroportos, como Hongqiao, em Xangai, e estações de metrô e ônibus, como a estação de Pequim, localizada numa região central da capital chinesa.

Desde que a primeira linha de alta velocidade entre cidades foi inaugurada, em julho de 2008, a rede operada pela estatal China Railway atraiu cada vez mais passageiros, concorrendo diretamente com clientes das companhias aéreas, e não parou de se expandir num ritmo chinês.

Foram agregados mais 2.082 quilômetros de trilhos de alta velocidade no ano passado. A malha total do país tem 42.000 quilômetros de extensão, a maior do mundo. E os planos já anunciados do governo comunista preveem como meta uma ampliação constante até atingir 70.000 quilômetros em 2035.

Estadão embarcou numa manhã de domingo, às 9h, num trem de classe G. Ele oferece três categorias de assento, separadas por vagões: a classe executiva, a primeira-classe e a segunda-classe. Os preços variam de R$ 400 a R$ 1.800. A diferença está na disposição das poltronas, no conforto oferecido e no serviço de bordo. Há distribuição de chá verde, biscoitos, amendoim e snacks, como carne de porco desidratada.

O esquema lembra o padrão de disposição de aviões comerciais, mas com mais espaço entre as poltronas e comodidades, como assentos mais largos, com mais área para as pernas, e reclináveis, a depender da classe escolhida. A reportagem viajou na primeira-classe.

O processo de embarque é prático. Para quem compra os bilhetes online, antecipadamente, não há necessidade de retirar as passagens impressas ou se dirigir a um guichê. As catracas de acesso e saída das plataformas são liberadas a partir da leitura de um documento oficial, como o passaporte.

Durante o percurso, funcionários da China Railway Services também oferecem a venda de refeições à bordo, além da compra de brinquedos, lanche e cigarro.

Não houve atraso na partida (de Xangai Hongqiao), nas duas paradas no caminho (as estações Nanquim Sul e Jinan Oeste) ou na chegada (em Pequim Sul). E a viagem é extremamente silenciosa, diferentemente dos trens comuns.

No terceiro mandato de Lula, os planos de lançar uma ligação de alta velocidade entre as principais cidades do País, Rio e São Paulo, ressurgiram. Agora, em vez de ter participação direta do Estado, como na China e como previsto em tentativas anteriores, a empreitada será totalmente privada, um desafio para quem planeja arrecadar R$ 50 bilhões para colocar no projeto.

Esse é o valor estimado pela TAV Brasil, empresa liderada pelo executivo Bernardo Figueiredo, que recebeu em fevereiro a autorização da ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres) para construir e explorar o trem-bala entre Rio e São Paulo por 99 anos.

Figueiredo presidiu a antiga estatal EPL (Empresa de Planejamento e Logística), criada para tocar o projeto do trem-bala, que deixou de ser prioridade para o governo Dilma Rousseff, em 2014. Os leilões fracassaram e já não havia tempo hábil para colocar trechos em operação para a Copa do Mundo ou as Olimpíadas de 2016.

Dessa vez, o governo Lula já avisou e reiterou que não tem interesse em participar do projeto. A ideia de relançar o trem-bala continua a ter percalços a superar como etapas de licenciamento ambiental, desapropriações e busca por investidores estrangeiros. Uma das possibilidades é atrair dinheiro dos chineses.

O traçado caiu pela metade. Em vez de oito paradas, serão somente quatro, entre Rio de Janeiro e São Paulo. Haverá uma estação em Volta Redonda (RJ) e outra em São José dos Campos (SP). O tramo (seção de uma ferrovia) a Campinas também deixou de existir.

Agora, além disso, não irá chegar aos bairros das capitais, mas se ligar a estações terminais das companhias de trens urbanos dos dois Estados, a Supervia e a CPTM ou o Metrô. No Rio, o trajeto no trem de alta velocidade se encerraria em Santa Cruz, na Zona Oeste. Em São Paulo, em Pirituba, Zona Norte. Essa mudança pode tornar a viagem menos atraente aos passageiros que costumam usar a ponte aérea e desembarcam no Santos Dumont ou em Congonhas, aeroportos centrais.

A ideia da TAV Brasil é lançar um novo traçado de 378 km, sem aproveitar nenhum trilho pré-existente. Circulando a 350 km/h, como na China, o percurso poderia ser feito em viagens de 1h30.

Fonte: https://www.estadao.com.br/economia/por-dentro-do-trem-bala-chines/

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