Valor Econômico – No xadrez no qual se transformou a sucessão do comando da Vale, os próximos dias serão decisivos. O conselho de administração da empresa, que é quem nomeia o executivo-chefe (CEO), deve receber nesta semana relatório com recomendações e, tendo esse documento como base, vai definir se reconduz o atual presidente, Eduardo Bartolomeo, ou se abre um processo para escolher outro executivo. O colegiado se reúne dia 31, mas a pauta é longa e não inclui a sucessão. Não se descarta que um encontro extraordinário do conselho, para tratar do CEO, seja marcado antes dessa data.
Na semana passada, o governo intensificou esforços para colocar o ex-ministro Guido Mantega na Vale. Sugiram, porém, diferentes versões sobre como acomodar Mantega na mineradora, um desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Circularam informações segundo as quais o governo trabalharia para indicá-lo ao conselho de administração. Em paralelo, fontes próximas das discussões insistiram que Mantega e Lula querem a presidência e não vaga no conselho. O Valor tentou ouvir Mantega, mas não teve retorno.
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O interesse de Lula em colocar Mantega na Vale surgiu em 2023, mas depois esfriou, com o governo silenciando sobre o tema por um tempo. Agora, quando se aproxima a data final para uma definição, o Planalto voltou a se mexer por meio de vários atores. “O governo botou a cara e está dando cartada para fazer o CEO”, diz fonte. Até o fim de janeiro a Vale precisa informar a Bartolomeo se ele terá o mandato renovado. Pelas regras de governança da Vale, esse comunicado precisa ocorrer quatro meses antes do término do mandato, em maio. O executivo comanda a empresa desde 2019.
Mas nos dois casos – eleição para CEO ou indicação para o conselho – o nome de Mantega enfrenta resistências. Para fazê-lo entrar no colegiado, algum dos 12 conselheiros eleitos teria que renunciar (o 13º representa os empregados). A lógica sugere que a renúncia teria de partir de um dos dois conselheiros ligados à Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil. Um é o presidente do fundo, João Fukunaga, e o outro é Daniel Stieler, chairman do conselho da Vale. Na Previ, apurou o Valor, não há disposição de renúncia até porque ambos os conselheiros foram eleitos em assembleia e têm mandatos até abril de 2025, assim como os outros integrantes do colegiado. Nos bastidores, comenta-se que Fukunaga, por ser do governo, é quem trabalharia para colocar Mantega na Vale. O executivo não fala sobre o assunto.
Mas há outro empecilho para a eventual ida de Mantega para o conselho da Vale. Os indicados da Previ para colegiados de empresas das quais é acionista precisam passar por um processo interno de seleção de conselheiros. Essa seleção, para as indicações de 2024, se encerrou na sexta-feira (19) e Mantega não faz parte da lista de 519 inscritos.
A Previ, pelas regras, não poderia indicar Mantega ao colegiado da Vale. E mesmo que o ex-ministro tivesse entrado na lista de candidatos de conselheiros, ele teria dificuldades de ser aprovado em posição tão estratégica para o fundo de pensão. A Vale é o maior ativo do principal plano de aposentadorias da Previ, que tinha, em outubro, 108,8 mil participantes. A fundação tem 10,3% do capital da Vale, de forma direta e indireta.
Mantega poderia eventualmente entrar em outra vaga no colegiado, mas a possibilidade parece remota. No conselho da Vale, há oito conselheiros independentes e quatro ligados a acionistas (Previ (2), Bradespar e Mitsui), além do representante dos empregados. Mas se é difícil levar Mantega ao conselho, por que o tema surgiu?
Uma explicação estaria no fato de que fazê-lo CEO é mais complicado ainda. Mas há outras razões. Como a sucessão na Vale tem se mostrado complexa, uma solução que poderia ter apoio da maioria dos acionistas seria renovar o atual CEO, enquanto se ganha tempo para a troca um pouco mais adiante. Nesse contexto, surgiu a informação, como publicado pelo Valor, que uma alternativa seria dar mandato mais curto a Bartolomeo. O tema não chegou ao conselho.
Pelas regras da Vale, o mandato da diretoria-executiva, incluindo o CEO, é de três anos e encurtar esse período exigiria mudança no estatuto social, o que não vai ocorrer, disse uma fonte. Outro interlocutor acrescentou que o estatuto fala em 3 anos de mandato com possibilidade de reeleição, o que não impede que o CEO seja destituído a qualquer momento. Na prática, porém, em uma empresa como a Vale costuma se esperar o fim dos mandatos para fazer as trocas. Houve casos excepcionais, como a substituição de Fabio Schvartsman por Bartolomeo depois da tragédia de Brumadinho, que completa cinco anos nesta quinta-feira (25).
No arranjo de uma eventual renovação de Bartolomeo, outros candidatos entrariam na “fila”. Um deles é Luis Henrique Guimarães, atual conselheiro da Vale e executivo de confiança do dono da Cosan, Rubens Ometto, que tem cerca de 5% do capital da mineradora. Nessa hipótese, Guimarães ganharia tempo para se aprofundar na Vale, tornando-se potencial substituto de Bartolomeo, e podendo abrir vaga no conselho para Mantega no futuro. A questão é saber se o governo esperaria dada a importância que Lula vem dando ao tema.
Caberá ao conselho, em questão de dias, definir os rumos da companhia para os próximos anos.
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