Diário do Comércio (MG) – Razões não faltam para explicar porque o Porto do Açu, situado em São João da Barra, no Rio de Janeiro, é conhecido como o “Porto de Minas Gerais”. O Estado é o mercado mais relevante para o empreendimento. Atualmente, mais da metade da movimentação do Terminal Multicargas (T-Mult) do complexo portuário, aproximadamente 60%, é realizada para clientes mineiros.
Via Porto do Açu, Minas Gerais exporta, por exemplo, grãos, concentrado de lítio, ferro-gusa, coque, carvão e estacas de ancoragem. No local também tem uma significativa exportação de minério de ferro, visto que o material produzido pela Anglo American, no Sistema Minas Rio, deságua no empreendimento e é transportado por meio de um terminal específico – em 2023, 24 milhões de toneladas do insumo siderúrgico foram exportados, volume recorde para a instalação.
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Do lado das importações, a infraestrutura portuária do norte fluminense é responsável por receber produtos que abastecem toda a cadeia da indústria cimenteira e siderúrgica do Estado. Através do complexo também chegam caminhões fora de estrada para as mineradoras. A unidade logística ainda importa fertilizantes que são distribuídos, posteriormente, para diversas regiões mineiras.
Em entrevista exclusiva ao Diário do Comércio, o diretor comercial e de industrialização do Porto do Açu, João Braz, destaca que Minas Gerais é o principal mercado atendido pelo empreendimento e que a intenção é desenvolver mais negócios com o Estado. Ele salienta que a conectividade com os mineiros é um diferencial para a relação, já que estão próximos da BR-356, facilitando o escoamento, no entanto, ressalta que uma conexão ferroviária seria importante.
Negócios com o Estado cresceriam com corredor ferroviário
Conforme o dirigente, existe um projeto avançado para construir uma ferrovia ligando Cariacica, no Espírito Santo, à Refinaria Duque de Caxias (Reduc), no Rio de Janeiro. O corredor ferroviário está dividido em alguns trechos. Um deles tem 41 quilômetros e será construído pelo próprio Porto do Açu, com investimento já autorizado de R$ 610 milhões, que será capaz de conectar os terminais do complexo portuário a São João da Barra – incluindo ramais internos.
A ponta de cima da malha ferroviária, de Cariacica a Anchieta, será construída pela Vale e tem recursos garantidos com a renovação antecipada do contrato de concessão da Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM). Segundo ele, a mineradora está elaborando ainda os estudos de engenharia da Ferrovia Kennedy, que dará continuidade ao ramal até a fronteira entre os estados capixaba e fluminense, e se comprometeu a doar o projeto básico para o governo federal.
De acordo com Braz, o Porto do Açu está realizando todos os estudos para os demais trechos do corredor ferroviário, que ficarão prontos no mês que vem e também serão doados à União. Ele diz que, ainda neste ano, poderá ser feita a audiência pública do projeto e, em 2025, a licitação.
O diretor afirma que a ferrovia fará um arco na região Sudeste, com conexões com outros ramais. Para ele, se o empreendimento, de fato, sair do papel até o fim da década, negócios do complexo portuário crescerão, especialmente com Minas Gerais, local mais afetado pela movimentação, com foco em grãos, fertilizantes, minério de ferro, carvão, coque e produtos siderúrgicos.
“O Noroeste mineiro será o principal beneficiado por essa ferrovia. O grão que será capturado já no dia zero de funcionamento seria de lá”, destaca, reiterando que a demanda existe e o Porto do Açu estaria pronto para exportá-la e enfatizando que o ramal Unaí-Pirapora, antiga demanda da região, cujo projeto está parado, seria uma importante conexão com o corredor ferroviário.
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