Valor Econômico – Nos bastidores do processo de sucessão da Vale, não é só a mudança de presidente que está em discussão entre acionistas e conselheiros da mineradora.
O Valor apurou que parte do “board” e dos acionistas se movimenta para buscar um novo nome para assumir a vice-presidência jurídica da companhia, segundo três fontes, sob condição de anonimato. O cargo é ocupado desde 2018 por Alexandre D’Ambrosio, vice-presidente de assuntos corporativos e institucionais.
Há um entendimento no mercado de que a troca de gestão não vai se resumir à cadeira ocupada por D’Ambrosio, mas também deve passar por alguns quadros do alto escalão da diretoria que são mais próximos do atual presidente.
A busca por um novo executivo para essa área começou a ser costurada em março, ainda em meio às discussões do tumultuado processo sucessório da cadeira de Eduardo Bartolomeo, o atual CEO.
Oficialmente, não há nenhuma decisão tomada sobre trocas nas vice-presidências da Vale, inclusive a de D’Ambrosio, uma vez que, na governança da empresa, todos os esforços estão voltados, neste momento, na sucessão do presidente-executivo.
D’Ambrosio é o executivo-chave da Vale nas discussões de temas considerados sensíveis pela companhia, como o acordo que está sendo costurado pela empresa com autoridades federais e dos governos de Minas Gerais e Espírito Santo em torno do rompimento da barragem de Fundão, da Samarco, em Mariana (MG), em 2015. Procurados, o executivo e a Vale não quiseram comentar o assunto.
A Vale tinha a expectativa de fechar esse acordo global sobre Mariana, que também envolve a Samarco e a BHP, sócia do empreendimento, no primeiro semestre do ano, mas até agora o entendimento final não foi anunciado. O acordo seria semelhante ao que foi conseguido para Brumadinho (MG), ocorrido em 2019.
A área de D’Ambrosio, segundo fontes a par do assunto, será dividida – será criada um cadeira para relações institucionais, hoje sob o guarda-chuva do executivo.
Esse redesenho vem sendo feito pela alta administração da Vale de forma a preparar o terreno para o próximo gestor, que assumirá a cadeira de presidente, a partir de janeiro de 2025.
Antes, em dezembro, o novo CEO deverá ser apresentado oficialmente ao mercado no Vale Day, evento da empresa com investidores que este ano volta a Nova York depois de ter sido realizado em Londres, em 2023.
Outras eventuais mudanças nas vice-presidências ocorreriam somente a partir de 2025 depois que o novo CEO assumir. Há a avaliação, entre especialistas, que é algo “normal” que o novo CEO termine levando pessoas de sua confiança para alguns cargos na empresa.
A diretoria-executiva da Vale é formada por nove cargos, incluindo o CEO e oito vice-presidentes (projetos, assuntos corporativos e institucionais, operações, finanças, soluções de minério de ferro, sustentabilidade, pessoas e um vice-presidente executivo técnico).
Em 2025, a alta administração da Vale vai enfrentar ainda a eleição do conselho de administração, em abril, que pode acabar renovando parte do colegiado. O conselho da Vale tem a função, entre outras tantas atribuições, de eleger o CEO. É o conselho que define também as diretrizes de médio e longo prazos e aprova vendas de ativos e aquisições.
No processo sucessório, dois conselheiros independentes da Vale renunciaram (José Luciano Duarte Penido e Vera Marie Inkster) e, como resultado da vacância, a mineradora deverá convocar uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE) nos próximos meses para recompor as duas cadeiras. O colegiado da Vale tem 13 assentos, mas atualmente está com 11 conselheiros, sendo seis independentes, abaixo dos sete determinados pelo estatuto, o principal documento da companhia.
Enquanto os conselheiros têm mandato de dois anos, a vice-presidência executiva, incluindo o CEO, tem contratos de três anos, com possibilidade de renovação. Esse descasamento foi feito de forma proposital depois da tragédia de Brumadinho para dar mais independência à diretoria-executiva em relação ao conselho de administração.
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