Aquisições no setor de infraestrutura devem seguir aquecidas em 2025

Valor Econômico – Em um momento mais morno no Brasil, a indústria de fusões e aquisições (M&A, pela sigla em inglês) deverá seguir aquecida no setor de infraestrutura neste ano. De um lado, as empresas do segmento estão ajustando os seus portfólios de ativos, diante das dificuldade de captação, tanto por um ambiente de juros altos que encarece os empréstimos, quanto por um mercado acionário fechado para novas emissões. De outro, há uma onda de grupos financeiros interessados em criar plataformas no setor, principalmente em concessões rodoviárias, o que poderá destravar operações.

A Ecorodovias, por exemplo, vai vender ativos para ter caixa e ganhar fôlego para os leilões do calendário, conforme já noticiou o Valor. Segundo uma fonte, uma captação via uma oferta subsequente de ações (“follow-on”) poderia ser uma alternativa para a empresa, mas no momento a operação seria muito diluitiva. A estratégia, segundo fontes, seria buscar sócios para alguns de seus ativos para ganhar munição e manter o ritmo nos diversos leilões de rodovias previstos.

Outro exemplo é a CCR, que também resolveu fazer um rearranjo nos ativos abaixo de seu guarda-chuva e vender, total ou parcialmente, suas divisões de aeroportos e de mobilidade urbana. O grupo contratou assessores financeiros para o processo, mas ainda está em fase mais inicial da venda.

No caso de aeroportos, a companhia quer sair do negócio, mas a leitura do mercado é que a venda total dos ativos em um só bloco seria difícil, então poderá haver a combinação de blocos, reunindo os contratos mais rentáveis – os terminais internacionais – com outros mais desafiadores – os projetos conquistados recentemente no Brasil. Fontes dizem que há mais de cinco interessados, mas que as conversas estão muito iniciais e que interessados aguardam os possíveis desenhos de venda.

Já em mobilidade a empresa disse recentemente que sua ideia é atrair um sócio internacional à plataforma, para apoiar a expansão no segmento, que costuma envolver leilões de contratos com investimentos volumosos.

O responsável pela área de fusões e aquisições do Bank of America no Brasil, Diogo Aragão, afirma que no setor de rodovias há muito investimento a ser feito e as empresas vão precisar de recursos e por isso irão reciclar capital. “As empresas vão financiar o primário vendendo parte de seus ativos operacionais”, diz.

André Moor, responsável pelo banco de investimento do Bradesco BBI, espera um importante volume de transações de infraestrutura e diz que o aquecimento das emissões de títulos incentivados vai ajudar a manter o fôlego para novas transações. Segundo o executivo, o mercado tem observado ainda empresas reciclando capital, mantendo o foco dos negócios em modais, por exemplo, em que tenham mais expertise.

Eduardo Miras, responsável pelo banco de investimento do Citi no Brasil, aponta que nos setores de infraestrutura, em que o país tem vantagem competitiva, há interesse de investidores, incluindo grandes fundos de infraestrutura globais. “Os fundos com visão de longo prazo seguem bastante ativos”, comenta o executivo.

O crescente interesse de grupos com perfil mais financeiro pelo mercado de infraestrutura também deverá impulsionar as aquisições neste ano.

Uma das operações avançadas atualmente é a venda da Monte Rodovias, da gestora Monte Partners, que em 2020 comprou concessionárias que eram da Odebrecht no Nordeste do país. Segundo fontes do mercado, haverá uma entrega de propostas até o fim desta semana.

Entre os grupos interessados, segundo pessoas a par do tema, estão a Aenza, empresa da gestora IG4 Capital; o BTG, que já tem disputado licitações do setor rodoviário; o Opportunity, que recentemente conquistou uma concessão rodoviária no Norte do país e também tem participado das licitações recentes; a australiana Macquarie, que já investe em infraestrutura no Brasil, mas ainda não está no mercado rodoviário; e a EPR, plataforma da Equipav e da Perfin que nos últimos anos se tornou um grande ator na área.

Outros ativos à venda são a ViaRondon, controlada pela BRVias, e a Rota das Bandeiras, que tem o Mubadala como sócio. Ambas concessões ficam em São Paulo e foram marcadas por problemas regulatórios nos últimos anos.

Segundo fontes de mercado, a Aenza é uma possível compradora da ViaRondon. A empresa peruana tem concessões de infraestrutura relevantes na América Latina, como o metrô de Lima e a rodovia Norvial, e agora tenta entrar no mercado brasileiro.

Procurada, a Ecorodovias não se manifestou – a empresa já havia confirmado que estuda a venda de ativos e a busca de sócios para leilões. A CCR, a Monte, a Aenza, a EPR, o Macquarie, o Opportunity e o Mubadala também preferiram não comentar. A ViaRondon não respondeu até o fechamento desta edição.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/03/14/aquisicoes-no-setor-de-infraestrutura-devem-seguir-aquecidas-em-2025.ghtml

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