A construção da ferrovia Transnordestina, um projeto de R$ 4,5 bilhões, mal começou a sair do papel. Mas a Companhia Ferroviária do Nordeste (CFN), controladora da nova estrada de ferro, já tem planos mais ambiciosos.
A meta da empresa é extrapolar o serviço de transporte ferroviário e se transformar num operador logístico intermodal, ou seja, via portos, rodovias e trens. O grande objetivo da CFN não é a ferrovia. Queremos levar a carga do produtor até o navio, não importa por qual meio, afirma Tufi Daher Filho, presidente da CFN.
No momento, a CFN está analisando projetos de construção de terminais de grãos e minerais nas áreas portuárias de Suape (PE) e Pecém (CE). Também estuda erguer um porto seco – área de carga dos postos alfandegários – em Teresina (PI).
Ao ampliar suas atividades para além dos trilhos, a CFN está buscando aumentar sua rentabilidade. A margem de operação na região Nordeste é muito baixa. Além de o volume transportado ser menor, os custos são altos porque a malha está em pior condição que as demais do país, afirma Daher. Com outras operações logísticas, a CFN quer compensar a situação desfavorável.
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Executivos da companhia têm visitado diversos governadores do Nordeste para explicar que seu projeto vai além da Transnordestina. Em alguns desses encontros, o presidente da CFN tem dito que a Transnordestina não se viabiliza sem a operação de terminais de cargas.
Na semana passada, Daher esteve no Recife visitando o governador Eduardo Campos (PSB). Em Pernambuco, a CFN quer construir um terminal de sólidos com capacidade inicial de 15 milhões de toneladas por ano. A Bunge também está interessada no projeto.
Com cerca de 1.800 quilômetros de extensão, a Transnordestina receberá R$ 4,5 bilhões em investimentos para ligar os portos de Suape e Pecém ao município de Eliseu Martins, no Piauí.
Desse total, R$ 1 bilhão virá dos atuais controladores da CFN (CSN e família Steinbruch), R$ 400 milhões de empréstimo concedido pelo BNDES, R$ 2,2 bilhões de financiamento do Fundo de Desenvolvimento do Nordeste e R$ 823 milhões do Finor.
Aproximadamente 950 km da ferrovia já pertencem à CFN. O restante ainda será construído, criando a Nova Transnordestina, nome inicialmente dado ao projeto.
Hoje, o trecho em operação da CFN não é lucrativo. Em 2006, a companhia registrou um prejuízo de R$ 60,7 milhões, valor que praticamente equivale a todo o seu faturamento no ano. Só de resultado bruto (receitas menos custos dos bens produzidos) a companhia ficou no vermelho em mais de R$ 40 milhões. Desde 2003, data do balanço mais antigo disponível, a CFN não alcança lucro.
Quando a Nova Transnordestina estiver pronta, a capacidade de transporte da CFN passará das atuais 1,5 milhão de tonelada por ano para 30 milhões. A demanda deve vir das novas fronteiras agrícolas que despontam no Nordeste, como Piauí e Maranhão, além do transporte de minérios.
Daher está à frente do projeto desde março, quando saiu da Telemar, onde ocupava a vice-presidência de operações. Ele substituiu Jayme Nicolato Corrêa, que foi comandar o projeto da mina Casa de Pedra, da CSN.
Antes de trabalhar na empresa de telefonia, o novo presidente da CFN atuou por 16 anos no setor ferroviário, em empresas como a Rede Ferroviária Federal (RFFSA), cujas malhas foram privatizadas, dando origem, entre outras, à CFN. Agora, 11 anos depois de deixar a RFFSA ,ele volta com a desafiadora missão de finalmente colocá-la nos trilhos.
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