Nem embaixo da terra o paulistano está livre dos efeitos da chuva. Pelo menos nove estações do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) estão com goteiras. Engenheiros alertam que as infiltrações podem provocar danos à estrutura dos prédios se persistirem por muito tempo. Para os passageiros, o maior receio é escorregar no piso molhado.
O vazamento forma poças de água em plataformas de embarque, corredores de acesso a escadas e áreas próximas das catracas. E em todos esses locais são espalhados os cavaletes amarelos com o aviso Cuidado. Piso molhado. Os problemas foram identificados pela reportagem ontem, após uma visita a 15 estações de Metrô – em quatro delas há interligação com a CPTM. As duas empresas afirmam que vão fazer os consertos necessários nas estações.
A Linha 2-Verde do Metrô tem pelo menos seis estações com infiltrações: Vila Madalena, Sumaré, Brigadeiro, Sacomã, Tamanduateí (interligada à Linha 12-Safira da CPTM) e Vila Prudente.
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Todos os dias, a estudante Vitória Farina, de 25 anos, faz o percurso entre as Estações Consolação e Ana Rosa e diz já ter se acostumado com os cavaletes amarelos no meio das estações. Nem reparo mais. No começo, achava que era porque estavam limpando mesmo. Depois percebi que eram goteiras.
Quem circula pela Linha 3-Vermelha, como o técnico em telecomunicações Thiago Henrique dos Santos, de 21 anos, já deve ter esbarrado com uma infiltração próximo do Terminal Rodoviário da Barra Funda (que também dá acesso à Linha 7-Rubi da CPTM) ou com uma poça de água no Brás (integrado à Linha 12-Safira da CPTM). A lotação dos trens me incomoda muito mais. Mas atrapalha quando você está com pressa e tem de desviar da plaquinha.
Na Linha 1-Azul, a infiltração atingiu a Estação Luz, perto da escada que leva à Linha 12-Safira. Na chuva do começo do ano, a goteira estava no meio da escada. Tomei uma gota na testa, lembra o aposentado Hermes Peralta, de 65 anos.
Estrutura. Em geral, goteiras pequenas como as encontradas no Metrô não oferecem risco à estrutura desde que o conserto seja feito logo. Não é um risco iminente, avalia o professor de Engenharia da Universidade Mackenzie João Virgílio Merighi, especialista em projetos de transportes. Mas, se o vazamento persistir por muito tempo, pode provocar danos na armadura de aço, que dá sustentação ao concreto. A água faz pressão para sair e acaba corroendo o aço.
O secretário de Comunicação do Sindicato dos Metroviários de São Paulo, Ciro Moraes dos Santos, diz que está preocupado com a possibilidade de acidentes que envolvam trabalhadores ou passageiros. Já ficamos sabendo de pessoas que se machucaram ao escorregar, mas não temos acesso a esses dados.
O Metrô informou, por comunicado, que as chamadas goteiras e infiltrações são problemas comuns às estruturas civis, principalmente nas enterradas. A companhia afirma que a solução muitas vezes requer mais de uma intervenção na área com infiltrações. O Metrô garante ainda que atua permanentemente na contenção e na solução desses problemas.
Para o secretário de Comunicação do Sindicato dos Metroviários, a falta de linhas de metrô que se cruzam impossibilita grandes obras em estações e túneis. Se tivéssemos mais linhas, poderíamos fechar um ramal para fazer a reforma, transferindo os passageiros para outra linha, diz Santos. Segundo ele, o Metrô faz bem as obras preventivas, em três horas durante a madrugada. Mas o sistema está ficando antigo. E se precisar de uma reforma grande?
Perguntas para João V. Merighi, professor de Engenharia do Mackenzie:
1. O aparecimento de goteiras é comum em estruturas como estações de Metrô?
É comum acontecer depois de um certo período. Se você for no metrô de Chicago, Paris ou Frankfurt vai encontrar goteiras aos montes. Isso mostra que falta manutenção para todos. Estão deixando de fazer a impermeabilização, porque o custo é altíssimo.
2. Como resolver o problema?
Para as novas construções você já pode usar um aço com tratamento anticorrosivo, que não existia 30, 40 anos atrás. Gasta-se pouca coisa a mais e o benefício vai ficar por muito tempo.
3. E quanto às goteiras em prédios antigos?
Aí não tem jeito. Tem de achar onde está o vazamento e acabar com ele. E o vazamento não necessariamente está em cima da goteira. Pode estar a 100 metros. Esse processo de investigação, infelizmente, sempre é destrutivo. Por isso acaba saindo caro.
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