A Supervia, concessionária dos serviços de trens urbanos na região metropolitana do Rio, está em fase adiantada de negociações para contratar financiamento de R$ 800 milhões, equivalente a 65% do R$ 1,24 bilhão que a companhia se comprometeu a investir até 2020. Os recursos vão ser aplicados na compra de trens e melhoria da infraestrutura da companhia, que transporta, em média, 540 mil passageiros por dia útil. A meta é duplicar o volume em quatro anos e atingir 1 milhão de pessoas transportadas por dia útil em 2015.
Controlada pela Odebrecht Transport, da Organização Odebrecht, a Supervia adotou dois caminhos para levantar recursos no mercado. Um deles é contratar os R$ 800 milhões com o BNDES por meio das linhas Finem. A Supervia e o BNDES mantêm conversações e a empresa pode apresentar carta-consulta ao banco a curto prazo.
A concessionária trabalha também com a possibilidade de ir pela primeira vez ao mercado para captar R$ 500 milhões via Fundo de Investimentos em Direitos Creditórios (FDIC), em operação lastreada nos recebíveis da companhia em discussão com a Caixa. Em 2008, a Supervia chegou a preparar uma operação de FDIC, mas abandonou os planos por força da crise.
Caso o novo FDIC vá adiante, os R$ 300 milhões restantes, necessários para complementar a necessidade de financiamento de R$ 800 milhões, seriam obtidos junto a outras fontes. Procurada, a Caixa não se posicionou.
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O presidente da Supervia, Carlos José Cunha, disse que a empresa pretende antecipar o investimento de R$ 1,24 bilhão para 2016, ano da Olimpíada no Rio, embora o compromisso com o governo do Estado seja aplicar esses recursos até 2020. Esse compromisso foi assumido a partir do aditivo que renovou o período de concessão da Supervia por 25 anos, até 2048. Oficialmente, a Odebrecht assumiu a concessão em janeiro e passou a controlar a Supervia, com 60%. Os 40% restantes pertencem a fundos de investimento.
Segundo Cunha, os R$ 800 milhões a serem financiados vão sustentar uma série de ações para melhorar a operação da empresa. Ele disse que a lista de projetos inclui a implantação do novo sistema de sinalização contratado com a Bombardier no montante de R$ 160 milhões e a reforma de 73 trens, que vão receber ar-condicionado, no montante de R$ 180 milhões, serviços a serem realizados pelas empresas T-Trans e MPE.
Além disso, a empresa vai construir em suas instalações, em Deodoro, na zona oeste do Rio, uma fábrica de produção de dormentes de concreto com investimentos entre R$ 80 milhões e R$ 100 milhões. A fábrica vai produzir, a partir do começo de 2012, até 100 mil peças por ano que vão substituir 600 mil dormentes hoje instalados na malha de 270 quilômetros da Supervia, que se espalha por doze municípios da Grande Rio.
“O programa de substituição de dormentes deve durar seis anos”, disse Cunha. Ele acrescentou que estão previstos investimentos entre R$ 120 milhões e R$ 130 milhões na construção e reforma de estações de passageiros. E haverá investimentos na malha e no centro de controle operacional. Outro investimento importante será a compra de 30 trens unidades elétricos (TUE), encomenda estimada em R$ 400 milhões.
Cunha esteve este mês na China visitando fabricantes de trens de passageiros, mas ainda não definiu quem será o fornecedor. A expectativa é de que o fabricante que venha a ganhar o contrato dos 30 TUEs garanta o financiamento para a compra dessas unidades. Cunha disse que o ideal para a empresa seria fechar a encomenda depois que o governo do Estado do Rio definir o ganhador de outros 60 TUEs que serão comprados com financiamento de até US$ 600 milhões do Banco Mundial (Bird).
“Esse seria o caminho mais simples, mas hoje trabalhamos sem levar isso em conta”, disse Cunha. A expectativa é de que o edital de licitação dos 60 trens seja lançado a curto prazo. O governo do Estado do Rio já comprou 34 TUEs da China, cujas primeiras unidades começam a chegar. O primeiro TUE chinês está em Deodoro e deve começar a operar comercialmente em dezembro. Hoje a frota da Supervia é formada por 160 trens de 13 modelos diferentes. Cunha disse que o número de modelos poderá cair pela metade quando a renovação for concluída.
Em outra operação de financiamento, a Odebrecht Corretora de Seguros (OCS), controlada pela Organização Odebrecht, contratou com a International Finance Corporation (IFC), braço do Banco Mundial de apoio ao setor privado, garantia de crédito parcial no valor de US$ 50 milhões que vai beneficiar projetos de infraestrutura desenvolvidos pela Construtora Norberto Odebrecht (CNO).
A operação faz parte da estratégia da Odebrecht de diversificar as fontes de garantia de crédito. “A grande vantagem para o grupo [com esse produto emitido pela IFC] é conseguir a diversificação das fontes de garantia de crédito”, disse Luis Barretto, vice-presidente da OCS. As negociações se estenderam por mais de dois anos.
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