A proposta de aquisição de ações da ALL Logística pelo grupo Cosan na semana passada provocou de imediato uma reação negativa no mercado e dividiu os analistas sobre as perspectivas para as empresas na bolsa. Passados alguns dias, o mercado parece ter apenas duas certezas: o valor considerado alto da operação e a percepção de que a Cosan não se disporia a pagar tanto se não tivesse uma estratégia bem delineada para a companhia.
No mais, sobram dúvidas com relação a esta estratégia e à conclusão do negócio e divergências quando o assunto são as expectativas para o desempenho das ações, especialmente para a ALL.
No pregão seguinte à notícia, as ações ordinárias (ON, com direito a voto) da Cosan foram as mais prejudicadas, com queda de 5,84%. No pano de fundo, o preço de R$ 23,00 oferecido pelas ações da ALL, o equivalente a um ágio de 109% sobre a cotação de mercado, que girava em torno de R$ 11,00 antes do anúncio.
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O analista da Ágora Corretora Luiz Otávio Broad destacou, em relatório, que o preço pago pela Cosan foi alto, levando em conta que o grupo não está comprando o controle, mas uma fatia relevante no bloco de controle da ALL. São 5,67% do capital total da companhia, mas 49% das ações do acordo de acionistas. Segundo Broad, considerando um preço-alvo de R$ 16,00 para as ordinárias da ALL em dezembro de 2012, a aquisição foi negativa para a Cosan.
Apesar da operação – que ainda depende do aval do governo e dos demais controladores da ALL -, Broad manteve sua recomendação de compra para as ordinárias da Cosan, com preço-alvo de R$ 36,50 para o fim deste ano. Isso significa um potencial de valorização acima de 19% em relação à cotação de R$ 30,50 da segunda-feira.
A percepção geral é que as dúvidas sobre o negócio não conseguem ofuscar as expectativas positivas para as operações de Cosan, especialmente para o segmento de distribuição de combustíveis. Só neste ano, os papéis do grupo de açúcar e álcool acumulam alta de cerca de 13%. Em 2011, a queda foi de apenas 0,14%, ante perda de 18% do Ibovespa.
A Santander Corretora foi outra a não se convencer dos benefícios do negócio, mas ainda assim manter a recomendação de compra para o papel. Em relatório do último dia 22, Christian Audi e Vicente Falanga Neto afirmavam que a Cosan ainda precisava esclarecer pontos da transação, entre eles como chegou no prêmio de 109% pago pelas ações da ALL. Segundo os analistas, a Cosan disse acreditar ter pago um preço justo e que o valor da transação está na “expertise” que a subsidiária Rumo tem no negócio de logística, além da perspectiva de redução no risco que o mercado enxerga nessa empresa, com queda no custo de capital.
Ainda assim, prevalecia a recomendação de compra para o papel. “Nossa visão positiva para as ações da Cosan continua sendo influenciada pelo potencial de ganho no negócio de distribuição de combustível e, apesar de enxergarmos a notícia de forma negativa, continuamos apostando na valorização das ações para o resto do ano”, escreveram. A Santander projeta preço-alvo de R$ 34,00 para Cosan.
Do lado do “buyside”, a gestora de recursos STK Capital mantém as ações da Cosan como uma das três principais apostas do fundo STK Long Biased, isso desde que ele foi lançado, em outubro de 2010. Pedro Quaresma, sócio e diretor de análise da gestora, diz que os questionamentos a respeito da operação são muitos, mas o histórico de gestão da companhia abre espaço para que a confiança na ação seja mantida.
“Uma coisa que sabemos é que eles têm bom histórico em alocar o capital dos acionistas”, diz. Quaresma avalia ainda que existe a possibilidade de a Cosan tentar aumentar a sua participação na companhia fora do bloco de controle, o que poderia trazer o preço médio da operação para baixo. Outro ponto positivo, diz ele, é que a influência da Cosan no bloco de controle da ALL pode abrir espaço para uma extensão do acordo comercial que hoje a empresa mantém com a Rumo para outras áreas, fortalecendo esta última.
Concluído ou não o negócio, Quaresma avalia que a Cosan passa por uma transformação em seu modelo de negócios, cada vez menos dependente do sobe-e-desce dos preços de açúcar e álcool e mais ligados à cadeia do segmento, com retornos mais altos e geração maior de caixa. “O fato é que a ALL é bem menos importante para a Cosan do que o negócio de distribuição de combustíveis”, diz.
A Fator Corretora também considerou a notícia positiva para a Cosan, apesar de achar que o preço oferecido pelas ações da ALL foi alto. Em termos operacionais, segundo o analista Rodrigo Blanco, a transação reforça a parceria mantida com a ALL para transporte de açúcar desde 2009. Além disso, acrescenta, a participação acionária da Cosan na ALL, poderá contribuir para um maior alinhamento de interesses no transporte de açúcar.
Ao investidor, no entanto, a sugestão é cautela. “Nossa recomendação é de manutenção para os papéis da Cosan (o preço-alvo da corretora é de R$ 34,00) e sugerimos que o investidor que se interessar em adquirir ações aguarde maiores informações a respeito do negócio e das perspectivas para o setor de açúcar e álcool em 2012”, afirma.
Assim como Cosan, as ações da ALL deram sinais de recuperação. Depois de recuar para R$ 10,25, as ações da ALL inverteram a tendência, sendo cotadas a R$ 10,43 na segunda, porém ainda longe dos R$ 23,00 pagos.
Rafael Andreata, analista de investimentos da Planner Corretora, não espera grandes mudanças para a companhia de logística nos próximos dois anos, até ficar mais clara a estratégia da Cosan para a empresa. “A Cosan vai ter de compor com outros controladores se quiser dar outra direção à empresa, logo acreditamos que o cenário estratégico não muda drasticamente”, diz.
Segundo Andreata, o investidor encontra hoje uma boa oportunidade de investimento, principalmente após a queda de 37,6% das ações ON em 2011. Na sua avaliação, a retomada da atividade em 2012 deve favorecer o papel. “Mais para frente, sabemos que há certa sinergia no transporte de açúcar e etanol, já que já existem alguns acordos afirmados com a Rumo, e isso pode aumentar o volume transportado pela ALL”, diz.
A recomendação da Planner é de compra para o papel, com preço-alvo de R$ 15,50.
Mais cautelosa, a equipe do Barclays avalia que o negócio levanta uma série de questões sobre governança ainda não respondidas. Entre os questionamentos, o banco lembra que hoje a Cosan é um dos maiores clientes da ALL, tendo um contrato não detalhado através do qual a Cosan se compromete a financiar a duplicação de um trecho de ferrovias entre as cidades paulistas de Sumaré e Santos em troca de um desconto nas tarifas de frete.
“Ao se tornar um acionista controlador, que tipo de proteção terão direito os acionistas minoritários em transações com partes relacionadas?”, questionam. “O negócio ainda não está consumado. Se concluído, estaremos observando de perto como cada uma dessas questões será abordada no novo acordo de acionistas a ser assinado pela Cosan e pelos atuais acionistas controladores.” O Barclays projeta um preço-alvo de R$ 12,00 para as ações ON da ALL.