Os investidores que possuem ações preferenciais (PN, sem
direito a voto) da Vale têm até 11 de agosto para optar pela conversão de seus
papéis em ordinários (ON, com voto). Com a mudança, passarão a ter direito a
voto nas assembleias, mas também terão a sua participação na empresa levemente
diluída, ou seja, menor que a atual. Ainda assim, analistas veem como positiva
a reestruturação societária da mineradora, que deverá culminar na entrada no
Novo Mercado, o patamar mais elevado de governança corporativa da B3 (antiga
BM&FBovespa). A expectativa é que outras grandes empresas sigam esse
caminho no futuro.
No Brasil, é comum algumas empresas terem duas classes de
ações. As PN, que têm a preferência no recebimento de dividendos, e as ON, que
dão direito a voto nas assembleias, ou seja, ao controle de fato da companhia.
Na avaliação de Bruno Giardino, analista do Santander, a conversão irá melhorar
a liquidez dos papéis da empresa, em especial entre estrangeiros, pois no
exterior o mais usual é uma classe única de ação:
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— Essa mudança tem um efeito positivo no papel, porque a
liquidez vai aumentar, embora seja algo difícil de quantificar. A Vale já tem
um relacionamento bom com o acionista, e fazer parte do Novo Mercado não é
garantia de nada. No entanto, o estrangeiro vê isso como um certificado, e pode
ajudar na liquidez.
No Novo Mercado, além da empresa só ter papéis ON, ou seja,
uma ação é igual a um voto, os acionistas minoritários passam a ter direito a
um tag along de 100% no caso da venda do bloco controlador da empresa. Isso
significa que, se alguém comprar a Vale, o que for pago por ação terá de
obrigatoriamente ser oferecido aos minoritários.
A reestruturação societária foi proposta em fevereiro pela
Valepar, que é o grupo de controle formado por BNDESPar, Bradespar, a japonesa
Mitsui e fundos de pensão (Petros, Funcef e Previ). Também foram sugeridas a
incorporação da Valepar pela Vale e a mudança no estatuto social que permita
essa entrada no Novo Mercado. Na semana passada, em assembleia, os minoritários
decidiram aceitar a reestruturação. Nela, cada papel PN será trocado por 0,9342
ON. Já os controladores vão receber 1,2065 para cada papel ON que já tenham.
GESTÃO GANHARIA COM
CONTROLE PULVERIZADO
Giardino lembra que o principal fator de risco para a Vale,
e o que determinará a sua valorização ou não, é o desempenho dos preços do
minério de ferro, mas que a proposta é positiva.
A diluição, afirma Marco Saravalli, analista da XP
Investimentos, acaba sendo compensada pelos benefícios da maior liquidez e de
uma estrutura de maior governança.
— Vai ser uma aula de governança para as demais empresas já
listadas. Agora todos vão ter o mesmo direito a voto e proventos. Por isso a nossa
recomendação é que os acionistas façam a adesão à conversão — diz Saravalli.
Para a proposta de reestruturação ir em frente e a Valepar
ser incorporada pela Vale, é necessário que 54,09% dos detentores de papéis PN
aceitem a conversão até 11 de agosto. A expectativa é que isso ocorra, já que a
aprovação às mudanças na assembleia atingiu 68% nesse grupo.
Além da liquidez, Saravalli elenca outros benefícios para a
empresa e os acionistas. Um deles é o ganho que deve ter a gestão com um
controle pulverizado. Isso daria à Vale um papel de corporação, ou empresa sem
dono, comum em países com um mercado acionário mais desenvolvido, mas raro no
Brasil — uma das exceções é a Renner. Outro ganho seria a redução da percepção
de risco, devido à melhor governança, e, consequentemente, do custo de
financiamento da empresa. E, com menos encargos de dívida, os lucros tendem a
melhorar.
Nos últimos meses, os papéis da Vale se beneficiaram da alta
dos preços do minério de ferro. Mas há a expectativa de que estes cedam um
pouco, com a demanda menor da China. Ainda assim, as expectativas para a
empresa e seus papéis são positivas.
— As ações da Vale já andaram bastante, mas essa mudança vai
melhorar a liquidez. Com a Vale no Novo Mercado, no futuro outras empresas
podem fazer o mesmo, em especial as do setor de mineração e siderurgia — avalia
Raphael Figueredo, analista da Clear Corretora.
No ano, as ações PN da Vale acumulam alta de 15,3%, e as ON,
de 12,9%. A título de comparação, o Ibovespa, que reúne os papéis de maior
liquidez negociados na B3, sobe pouco mais de 4%.
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