Os preços para transportar grãos pelo Brasil tendem a
atingir, entre julho e setembro, patamares recorde para o período, próximos dos
praticados em janeiro e fevereiro, na colheita de verão. Isso em decorrência da
colheita recorde da segunda safra de milho, que terá de ser levada tanto para
armazéns espalhados pelo país quanto para os portos.
Segundo levantamento do grupo de pesquisa e extensão em
logística da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiróz (EsalqLog), em
agosto o aumento em relação ao mesmo mês do ano passado na rota de referência
entre Sorriso e Rondonópolis, em Mato Grosso, poderá superar 35%. Entre Jataí,
em Goiás, e o porto de Santos, no litoral de São Paulo, a alta tende a atingir
quase 14%, e dentro do Paraná – entre Toledo e o porto de Paranaguá -, é
esperado um incremento de 74,2%.
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“Esta supersafra de milho precisa sair dos campos e ir
para os armazéns das cooperativas e indústrias. Mas a maior demanda será para
transporte aos portos, para exportação. Não importa o preço do milho, o cereal
terá que sair do país porque aqui não há demanda interna suficiente”, diz
Samuel da Silva Neto, pesquisador da EsalqLog.
A Conab estima que a safrinha do ciclo 2016/17 somará 65,63
milhões de toneladas, 61% mais que em 2015/16, quando a produção foi afetada
por problemas climáticos. Já as exportações do grão colhido na primeira e na
segunda safra deverá somar 28 milhões de toneladas, com crescimento de 48,1%.
A necessidade de destinar boa parte da safrinha de milho
para fora do país é acentuada pelo fato de os produtores ainda não terem
comercializado toda a safra de soja colhida em 2016/17, devido à queda nos
preços. A estimativa é que 70% da produção da oleaginosa tenha sido vendida,
ante 83% no mesmo período de 2015/16, conforme a consultoria AgRural.
Portanto, parte dos armazéns de cooperativas e grandes
produtores ainda está ocupada com soja. “Vai ser preciso tirar o milho do
Brasil até janeiro, quando começa a colheita de soja de 2017/18”, diz
Silva Neto.
O economista lembra que o atraso na comercialização de soja
foi o grande responsável pela queda dos preços do frete entre março e abril.
Por isso, a comparação dos atuais valores com os praticados naqueles meses
também aponta para altas. Entre Sorriso e Rondonópolis, o aumento supera 20%.
E os preços do transporte também deverão continuar mais
elevados que no ano passado entre setembro e novembro, devido à concorrência
com o transporte de açúcar. Resumindo, faltará caminhões.
Segundo Silva Neto, os valores cobrados pelos
transportadores só não serão mais altos porque a entrega de fertilizantes e
defensivos deverá coincidir com o escoamento da safra, permitindo o frete de
retorno, que reduz custos. Diferentemente do que ocorreu em 2016, a expectativa
é que a importação de fertilizantes aconteça mais perto do início do plantio da
soja da safra 2017/18, em setembro.
Em entrevista ao Valor em maio, Marcelo Mello, consultor
especializado em fertilizantes da INTL FCStone, afirmou que o comportamento de
compra de adubos estava atípico neste ano, também por causa da queda dos preços
dos grãos. Até aquele momento, o câmbio não era dos mais favoráveis – depois da
delação dos executivos da JBS, a desvalorização do real favoreceu as exportações.
No começo de abril passado, eram necessárias quase 19 sacas
de soja para comprar 1 tonelada de fertilizante – MAP, matéria-prima derivada
do fosfato – em Paranaguá, sendo que em fevereiro eram 15 sacas, patamar que
poderá voltar a ser alcançado no fim do ano.
Também do ponto de vista dos transportadores, a tendência é
que não haja aumentos significativos de diesel no segundo semestre. Assim, a
pressão por repasses para os valores de frete será menor, deixando os preços
serem guiados apenas pela demanda. “Os estoques nacionais de diesel estão
altos e as políticas internacionais para estimular o preço do petróleo não
estão dando certo. Nos nossos modelos, prevemos reajuste de combustível de
forma a impactar os custos dos transportadores só no ano que vem”, conclui
o pesquisador da EsalqLog.
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