Por Guilherme Quintella*
Acho que parte dos que estiverem lendo este texto não terão
ainda ouvido falar nele. Poucos o conheceram. Lógico, para minha sorte, não me
incluo nestes dois grupos.
Já tinha ouvido falar muito dele antes de conhecê-lo, e
depois quando tive o privilégio de conviver mais intensamente com ele, passei a
respeitá-lo e admira-lo. Aprendi muito com ele e serei eternamente grato pelo
tempo e paciência que ele teve comigo.
POD NOS TRILHOS
- Investimentos, projetos e desafios da CCR na mobilidade urbana
- O projeto de renovação de 560 km de vias da MRS
- Da expansão da Malha Norte às obras na Malha Paulista: os projetos da Rumo no setor ferroviário
- TIC Trens: o sonho começa a virar realidade
Dr. Bodini era um ferroviário de verdade. Tinha uma visão
holística da ferrovia. Uma visão de Rede. A entendia como um sistema de alta
capacidade, capaz de transportar com eficiência tanto carga como passageiros.
Era rápido na associação ferroviária da causa e efeito. Entusiasta da
eletrificação da malha paulista, defendia a agilidade de trens rápidos e
curtos, de baixo custo para atender a demanda do mercado do Estado de São
Paulo.
Engenheiro formado pela Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo, foi na antiga Estrada de Ferro Sorocabana que começou a sua saga
ferroviária. Foi Presidente da FEPASA – Ferrovias Paulista S.A. (estatal
paulista que operava a malha ferroviária paulista) por duas vezes, Presidente
da CBTU, Diretor da Rede Ferroviaria Federal, Secretário de Energia do Estado
de São Paulo e Secretário de Finanças do Município de São Paulo, entre outros
coisas.
Ele era um grande homem, nem tanto no seu porte físico, mas
especialmente na sua conduta. Enérgico tomador de decisões, não postergava uma
decisão. Não acabava uma discussão enquanto não a concluísse.
Dr. Bodini foi um crítico qualificado do modelo de
privatização das ferrovias. Na época, dizia que ao contrário do que ocorreria
em outros setores, a privatização da ferrovia, e em especial da Fepasa, seria
uma marcha ré no transporte sobre trilhos. Já previa, que o modelo proposto
causaria abandono de trechos e reduziria a participação da ferrovia na matriz
de transportes do Estado. Tinha lá suas razões.
Quando presidiu a Fepasa pela última vez de 1991 a 1993, a
malha paulista transportava anualmente 25 milhões de toneladas de carga
originadas no Estado de São Paulo, (sem os grãos da Ferronorte que não existia
na época), ou seja 2,5 vezes a mais do que a mesma malha transporta hoje. A
participação da ferrovia na matriz de transportes do Estado era de quase 10%,
contra hoje 4%. Além da carga, a Fepasa transportava quase 10 milhões de
passageiros por ano. A malha operacional do Estado de São Paulo era 5000 km.
Hoje não devemos ter nem a metade disso.
Recentemente estive reunido com ele em três longas reuniões.
Ele estava muito lúcido e queria conhecer com detalhe os projetos da Ferrogrão
e do TIC (Trens Intercidades). Na primeira reunião tratamos da Ferrogrão, na
segunda reunião apresentamos o TIC e na terceira reunião, no seu escritório, no
bairro do Butantã em São Paulo, ele trouxe os seus comentários e suas valorosas
contribuições aos dois projetos.
Nesta terceira reunião, ele me acompanhou até o meu carro na
rua e quando eu estava partindo, ele me perguntou:
– Você
já tem nome para está ferrovia de passageiros entre Americana e São Paulo?
– Se
viermos a ganhar a licitação, estou pensando em sugerir FEPASA (marca que
atualmente pertence a EDLP), se o Senhor me autorizar, claro, mas vamos
chama-la carinhosamente de A Paulista, respondi rindo.
Ele segurou no meu braço, e com a sua firmeza de sempre,
falou:
– Então vai dar certo!!
Dr. Bodini era o cara! Deixa uma linda família, um grande
legado e muita saudade!
*Guilherme Quintella é diretor da Estação da Luz
Participações (EDLP)
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