Trem de levitação magnética ainda não tem data para ser comercializado

Um trem de levitação magnética por supercondutividade, que
vem sendo testado no Rio há um ano e sete meses, está à espera do resultado de
um pedido de certificação internacional, que poderá abrir caminho para a sua
produção industrial e comercialização. O veículo, criado pela Coppe/UFRJ e em
funcionamento na Cidade Universitária, na Ilha do Fundão, é o primeiro no mundo
a transportar passageiros com essa tecnologia. A composição, que circula sobre trilhos
imantados, com baixo consumo de energia e sem emissão de poluentes, já
despertou o interesse da China, que discute um acordo de cooperação com a
universidade.

Desde fevereiro de 2016, o chamado Maglev–Cobra já
transportou cerca de oito mil pessoas. As viagens pela linha experimental de
200 metros são realizadas às terças-feiras, das 11h às 15h, e ligam dois
prédios do Centro Tecnológico da UFRJ. No trecho, o trem atinge uma velocidade
de 12km/h, mas, em áreas urbanas, poderá chegar a 100km/h.

Nos testes, o projeto da Coppe/UFRJ não apresentou
problemas. A próxima etapa, a de certificação, é conduzida por um órgão
independente.

— Estamos preparando o veículo para cumprir normas
internacionais de segurança, manutenção e operação. O processo de certificação
tem um custo relativamente alto. Recorremos ao fundo de apoio financeiro à
pesquisa, tecnologia e inovação do BNDES. A proposta está em avaliação —
explica o professor da Coppe/UFRJ Richard Stephan, coordenador do projeto. — O
Inmetro ainda não está preparado para esse tipo de certificação, mas a TÜV, da
Alemanha, órgão que certificou o aeromóvel do Rio Grande do Sul, poderia
fazê-lo.

O Maglev-Cobra está no nível sete da escala TRL, que vai até
nove e é adotada pela Nasa para medir o grau de amadurecimento de uma nova
tecnologia. Atingir o nível máximo indica que o projeto está pronto para ser
comercializado.

A tecnologia criada pela Coppe/UFRJ dá sinais de que pode
ser uma das soluções para a mobilidade urbana no mundo. O Japão, a Coreia do
Sul e a China já dispõem de veículos de levitação magnética em operação
comercial (Pequim deverá ganhar uma segunda linha até o fim do ano). Mas há
diferenças entre o Maglev-Cobra e os trens em circulação na Ásia.

— O Maglev-Cobra usa uma técnica de levitação estável que
dispensa controladores, sensores e atuadores (dispositivos que movimentam uma
carga). É um sistema mais confiável, com menos peso e volume.

Hoje, trens semelhantes em operação comercial no mundo usam
levitação eletromagnética, que exige um sistema complexo para manter a
distância correta entre o trilho e o veículo. A suavidade da operação do
Maglev-Cobra impressiona, principalmente quem está acostumado com as
composições da SuperVia e do metrô.

— Parece que estamos dentro de algo muito leve. Não faz barulho
algum. É uma viagem muito suave — disse Sara Braga, de 15 anos, aluna da rede
estadual, que visitou a Coppe na semana passada.

Giovana Serpa, de 16, saiu do trem com a certeza de que
viajou em um transporte que será um sucesso mundo afora:

— É rápido, parece que gasta pouco no que se refere à
manutenção e não polui. Ou seja, tudo o que as pessoas desejam.

Para rodar, o Maglev-Cobra utiliza como combustível
nitrogênio líquido, cuja temperatura ideal é 196 graus Celsius negativos. O
custo de implantação de um quilômetro de trilhos do sistema corresponde a um
terço do valor gasto com a construção de uma linha de mesmo tamanho do metrô. E
pode ficar mais barato, se for produzido em larga escala, segundo Richard
Stephan.

Como não sofre atrito, o Maglev-Cobra consome menos energia.
Uma outra vantagem do modelo brasileiro é que seu deslocamento foi planejado
sobre leves passarelas suspensas, sem prejudicar o fluxo de veículos
convencionais e pedestres nas ruas.

— O VLT oferece uma solução que é uma velha conhecida dos
brasileiros, é um bonde com roupa nova. Já o Maglev-Cobra é uma verdadeira
inovação tecnológica, mira a qualidade que precisaremos ter num futuro próximo
— defende Richard Stephan.

Segundo o coordenador do projeto, o Maglev-Cobra poderia começar
a ser usado no Rio para integrar diferentes sistemas de transporte, ligando,
por exemplo, a Rodoviária Novo Rio ao metrô da Praça Onze ou do Estácio. Outra
possibilidade seria circular entre o shopping Nova América e a Ilha do
Governador. Num segundo momento, faria trajetos mais longos, do Recreio à Barra
ou ao longo da Linha Amarela, segundo Stephan. Especialistas do Programa de
Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ já avaliam essas possibilidades.

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