Na
quinta-feira à tarde, executivos do grupo Votorantim embarcaram rumo ao Rio de
Janeiro para selar com a BNDESPar, braço de investimento do BNDES, o acordo que
dá origem à 5ª maior companhia não financeira do país, e a maior do
agronegócio. O compromisso de voto assinado naquela noite coroou quase oito
meses de negociações entre as duas maiores produtoras mundiais de celulose de
eucalipto e alguns anos de namoro e expectativas sobre a mais esperada
consolidação do setor.
Em
entrevista ao Valor no fim de semana, o executivo Walter Schalka, que deve
seguir à frente da companhia combinada, ressaltou que a transação é positiva
para todos. “A operação foi boa para todas as partes. Boa para os
acionistas da Fibria, para os acionistas da Suzano e para o Brasil”, afirmou
o presidente da Suzano.
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A
combinação das operações de Fibria, controlada por Votorantim e BNDESPar, e
Suzano, da família Feffer, cria uma empresa com valor de R$ 83 bilhões,
incluindo dívida, e líder absoluta em seu setor, com 18% do mercado mundial de
celulose e 42% do fornecimento global de fibra de eucalipto. Os Feffer serão os
controladores dessa gigante, com 46,4% das ações. Juntas, as companhias tiveram
receita líquida de R$ 22,3 bilhões em 2017, e lucro líquido de R$ 2,9 bilhões.
A
nova empresa nasce ainda com exportações anuais de R$ 18 bilhões, 37 mil
funcionários, 11 fábricas, mais de 2 milhões de hectares de terras e florestas
e 11 milhões de toneladas por ano de capacidade de produção de celulose e 1,4
milhão de papel, além de investimentos programados para este ano da ordem de R$
6,4 bilhões.
A
riqueza da operação, avalia Schalka, está relacionada também ao nível de
competitividade do país na indústria florestal, reconhecido mundialmente e
resultado de décadas de pesquisa e desenvolvimento de clones de eucalipto. E,
ressalta ele, a partir de agora, esse ativo permanece nas mãos do capital
nacional.
A
estrangeira Paper Excellence (PE), dos mesmos donos da Asia Pulp and Paper
(APP) e sócia da J&F na Eldorado Brasil, também encaminhou proposta pela
Fibria à BNDESPar, de R$ 71,50 por ação em dinheiro, mas não conseguiu
apresentar em tempo as garantias dos recursos – cerca de R$ 40 bilhões -, para
honrar a transação, segundo fontes ao Valor.
“Como
brasileiro, penso que a operação foi boa para o país. Como executivo, posso
falar que foi boa para a Suzano e para a Fibria”, afirmou Schalka. O
executivo esteve à frente das negociações pelo lado da Suzano junto com o
conselheiro Nildemar Secches, homem de confiança escalado por David Feffer.
O
anúncio do negócio foi antecipado na própria quinta-feira, pouco antes da
meia-noite, pelo BNDES, que terá 11,1% da Suzano combinada com Fibria. Dona de
pouco mais de 29% da Fibria e de 7% da Suzano, a BNDESPar receberá em caixa R$
8,5 bilhões pela venda de sua participação.
O
acordo foi formalizado por Suzano e Fibria na sexta-feira e apresentado à tarde
em evento que reuniu 230 pessoas – organizado em apenas quatro horas – no
edifício sede do Itaú BBA, assessor financeiro da Suzano. O presidente do
BNDES, Paulo, Rabello de Castro, esteve presente, além do alto escalão da
compradora e instituições financeiras ligadas à transação. A empresa de Nizan
Guanaes foi contratada para a campanha publicitária.
Dona
de 29% da Fibria e de 7% da Suzano, a BNDESPar receberá em caixa R$ 8,5 bilhões
pela venda de sua fatia
A
conclusão da operação deve levar no mínimo nove meses. Esse é o prazo estimado
por fontes do setor para obtenção das aprovações necessárias de órgãos
antitruste no Brasil, Estados Unidos, Europa e China, que são os principais
mercados da celulose produzida pelas companhias. Para consultores e executivos
da indústria, é improvável que a fusão de Suzano e Fibria receba algum veto. Mas
isso não quer dizer que o aval será conquistado com facilidade.
Há,
entre consumidores de eucalipto na Europa, preocupação quanto ao poder de
negociação da companhia combinada, principalmente no que tange aos descontos
concedidos sobre o preço de referência da matéria-prima. Segundo fontes do
setor, a percepção é a de que, com capacidade de 11 milhões de toneladas por
ano, para um mercado de 24 milhões de toneladas desse tipo de fibra, a nova
gigante conseguiria obter redução desses descontos, que em caso extremos podem
chegar a 30% atualmente.
Se
houver resistência à aprovação, uma alternativa seria propor a manutenção das
políticas de desconto em vigor neste momento, por um determinado período, como
remédio comportamental, por exemplo. Na sexta-feira, no evento, tanto Suzano
como BNDES mostraram confiança na aprovação do negócio nos diferentes mercados.
O fato de a celulose ser uma commodity e de órgãos estrangeiros não terem
jurisdição sobre o Brasil são fatores que pesariam a favor da operação. O
diretor financeiro e de relações com investidores, Marcelo Bacci, indicou que
esse processo começa a partir de agora.
Ao
mesmo tempo, a Suzano vai trabalhar para obter os registros na Securities and
Exchange Commission (SEC), órgão regulador nos Estados Unidos, para emissão de
ADRs (recibos de ações) nível 3. A estrutura da transação prevê pagamento, para
cada ação da Fibria, de R$ 52,50 já considerado o ajuste pelo CDI, e mais
0,4611 ação da Suzano, para todos os acionistas. A Suzano terá de emitir 255
milhões de novos papéis. Essa etapa deve tomar entre 90 e 120 dias. Em seguida,
serão convocadas as assembleias de acionistas das duas empresas para aprovar o
negócio.
Na
sexta-feira, com a ação da Suzano fechando em alta de 22%. Assim, considerando
o valor do papel de Fibria no início dos rumores de potenciais ofertas para
assumir seu controle, em 26 de janeiro, seus acionistas receberam um preço de
R$ 65,64 (somando dinheiro em caixa mais ações da compradora). Segundo um
especialista, significou um prêmio de quase 25% sobre os R$ 52,60 que estava
cotada no fim de janeiro.
Para
garantir o negócio, a Suzano pôs na mesa uma estrutura de financiamento
contratada de US$ 9,2 bilhões com JP Morgan, Mizuho, Rabobank e BNP Paribas.
Do
total, US$ 2,3 bilhões, com prazo de seis anos e custo de Libor mais 1,16% a
1,33% ao ano (conforme a nota de crédito da companhia). Outros US$ 6,9 bilhões,
com prazo de 3 anos e taxa Libor mais 1,65% a 1,75% ao ano, foram garantidos em
empréstimos-ponte que podem ser sacados em até 18 meses. A empresa pretende
emitir bônus de 7 anos, 10 anos e 30 anos que substituirão esses recursos.
As
duas empresas seguirão independentes até que prejuízos acumulados da Fibria
sejam zerados, quando então deixará de existir. A companhia resultante da fusão
será listada na B3 e negociará ADRs nos EUA. BNDES, com 11,1%, será o segundo
maior acionista e não haverá um acordo de acionistas entre os Feffer e o banco.
A
Votorantim terá 5,6% das ações e 36,9% estarão nas mãos de outros acionistas.
Apenas a fatia dos Feffer (46,4%) está sujeita a uma cláusula de restrição de
venda, que vale até 31 de dezembro de 2019. O free float para negociação na
bolsa será de quase 54%.
Apesar
dos números vultosos da operação, a empresa combinada deve nascer com
alavancagem financeira, medida pela relação entre dívida líquida e resultado
antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda), de 3,5 vezes, em
linha com a política financeira da Suzano. A meta é manter a nota de crédito
grau de investimento – na sexta-feira, a Suzano foi elevada por mais uma
agência de avaliação de risco, a S&P Global – e levar esse índice de volta
à faixa de 2 a 3 vezes.
– Fonte: http://www.valor.com.br/empresas/5392777/suzano-leva-fibria-e-garante-lideranca-mundial-no-setor
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