Brasil está pouco preparado para a economia do futuro

O mundo está
entrando na quarta revolução industrial e o Brasil, que já não andava bem
antes, está ficando ainda mais para trás, revela o Relatório de Competitividade
Global do Fórum Econômico Mundial. O país caiu três posições em relação ao
índice anterior, mas o novo estabelece mais critérios que possibilitam
vislumbrar os fatores determinantes necessários para triunfar na nova fase da
economia. O Brasil está no pelotão dos últimos 11 dos 140 países analisados, na
129ª posição, ao lado da Grécia (135) e Venezuela (140) entre os mais
preparados para o futuro.

O relatório
de 2018 deu ênfase ao capital humano e inovação, agilidade e resistência para
medir o caminho futuro da competitividade das nações. Novos conceitos foram
introduzidos para medir essas qualidades, como cultura empresarial,
incorporação de ideias desestabilizadoras pelas empresas, pensamento crítico,
meritocracia etc, ao lado dos componentes mais tradicionais, como estabilidade
macroeconômica e infraestrutura.

As condições
desfavoráveis ao Brasil são comuns à maioria das nações, o que não é um
consolo. O relatório indica que há alta correlação entre competitividade e
nível de renda. Países ricos são os 20 mais competitivos e só três que não têm
esta característica aparecem entre os 40 melhores – Malásia, China e Tailândia.

Mas
políticas domésticas brasileiras o derrubam no ranking, em especial as que se
relacionam ao grau de abertura da economia. As economias mais abertas, diz o
relatório, “são mais inovadoras e seus mercados, mais competitivos”.
O Brasil está na 117ª posição no mercado de produtos, devido a taxas e subsídios
distorcivos (só 8 países estão atrás dele neste quesito), barreiras não
tarifárias (só 4 têm mais delas que o Brasil) e altas tarifas de importação
(125º lugar). A conclusão é que há pouca competição no país.

A nota
brasileira no ranking (59,5) é praticamente a mesma da média (60) para os 140
países. Mas em um item crucial, como capacidade de inovação, na qual ocupa a 40
ªposição, o Brasil não está tão ruim, embora o relatório aponte que o país está
abaixo do potencial neste quesito, cuja média é a mais baixa dos 12
“pilares” que compõem o índice. São poucas as nações
“campeãs” aí, como Alemanha, EUA e Suíça – que brilham no grau de
experiência tecnológica de sua mão de obra e em suas políticas de retreinamento
e requalificação de trabalhadores. Para mais da metade dos países analisados,
77, a capacidade de inovação segue sendo extremamente limitada e localizada em
poucos setores.

Antes de
chegar ao seleto pelotão que encabeça a quarta revolução industrial, o Brasil e
a maioria dos países ainda têm de se defrontar com as “velhas”
questões do desenvolvimento – a qualidade das instituições e da infraestrutura,
conhecimento. Nesse ponto o Brasil vai bem mal e há enorme campo para
melhorias, se houver empenho em buscá-las.

O Brasil não
está sozinho na América Latina quanto à baixa qualidade das instituições,
adoção de inovações e dinamismo dos negócios – três itens em que a região voa
baixo, com média praticamente semelhante à da África Subsaariana. Mesmo assim,
o país está bastante atrás do Chile, de longe o mais competitivo na região, no
33º lugar, em especial em estabilidade macroeconômica, na qual a dinâmica da
dívida pública derruba o Brasil para a 122ª posição.

Pesam contra
o Brasil seu baixo dinamismo empresarial (108º lugar), seu mercado fechado e
sua pífia integração com o mercado global. Além disso, ele ganha o título de
pior país de toda a amostra quando se considera o peso da regulação
governamental e se destaca negativamente pela falta de coordenação entre os
setores público e privado. Na questão do conhecimento, o Brasil está no terço
final entre os piores países quanto à qualidade do treinamento profissional,
facilidade de encontrar trabalhadores qualificados e capacidade da população em
lidar com os meios digitais. E só existem dois países piores que ele nas
dificuldades para contratar e demitir trabalhadores e em mobilidade da mão de
obra. Há ainda destaque negativo no tempo requerido para se abrir o negócio
(antepenúltima posição no ranking).

O Brasil não
só não está preparado para um futuro que já chegou, como precisa livrar-se da
carga de um atraso crônico, para o qual foram determinantes não só a péssima
distribuição de renda como o descaso do Estado em várias áreas estratégicas e
políticas francamente ruins, que persistem até hoje.
 

Fonte:

Seja o primeiro a comentar

Faça um comentário

Seu e-mail não será divulgado.


*