Consegue-se ver alguma luz nos buracos inacabados da Linha 4 do metrô (Ipanema-Barra). No dia 27, o governador Wilson Witzel afirmou que pretende retomar, possivelmente ainda este ano, as obras da Estação Gávea, interrompidas em 2015.
Trata-se de um bem-vindo recuo em relação ao que ele próprio defendera um mês atrás, quando propôs aterrar a estação. A ideia era contornar um problema técnico – o buraco ameaça a estrutura de prédios vizinhos, inclusive o da Pontifícia Universidade Católica (PUC-RJ) – e um fiscal, já que o estado, em crise, não tem recursos para concluir o projeto, que demandaria cerca de R$ 1 bilhão.
A notícia gerou uma onda de protestos, especialmente de moradores da região, que lutaram para que o trecho até a Gávea fosse incluído na Linha 4, um dos legados da Olimpíada do Rio. Mas não só por isso. Como cerca de 40% das obras já haviam sido executados, a solução proposta pelo estado significaria soterrar dinheiro do contribuinte.
Seria mais um erro na sucessão de equívocos que percorrem os túneis da Linha 4 do metrô, obra que custou cerca de R$ 10 bilhões, de longe a mais cara do pacote olímpico. Segundo investigações do Ministério Público, a linha já nasceu torta. Apesar do custo estratosférico, não houve licitação – o estado alegou que o projeto fora licitado em 1998, durante o governo Marcello Alencar. O trajeto, no entanto, era outro, partindo de Botafogo, e não de Ipanema, como o que foi de fato executado. A mudança teria encarecido a obra – o Ministério Público apontou um sobrepreço de cerca de R$ 3 bilhões.
De fato, a solução mais sensata neste momento é retomar a construção da Estação Gávea, para que a obra, já iniciada, beneficie a população, evitando mais desperdício de dinheiro público.
Um dos principais entraves – a falta de recursos – seria solucionado utilizando-se dinheiro recuperado da Lava-Jato e parte da arrecadação dos royalties do petróleo, segundo o governador.
Pode ser um caminho viável para levar o metrô à Gávea, como prometido há anos aos cariocas. Num primeiro momento, a obra geraria empregos, o que é positivo num cenário em que a economia patina. Quando pronta, ofereceria mais uma opção de transporte à cidade, acrescentaria passageiros à Linha 4, hoje ainda subutilizada, e tiraria carros das ruas, aliviando o tráfego.
Se os túneis da Linha 4 foram usados como propinodutos para desvio de dinheiro público, que se punam os responsáveis pela roubalheira – alguns, inclusive, já estão encarcerados. Mas a população não pode pagar a conta desses malfeitos. Portanto, espera-se que desta vez cumpra-se a promessa e que, ao menos na construção de seu último trecho, a Linha 4 siga no rumo certo.
Por Editorial
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