Acciona volta a participar de grandes obras no país

O diretor no Brasil, De Angelo diz que já estuda as áreas de saneamento, transportes e de energia - Foto: Silvia Zamboni/Valor

O grupo espanhol Acciona vê na obra da Linha 6-Laranja do Metrô de São Paulo um divisor de águas para sua atuação no país, onde está presente há 22 anos. Ao assumir o megaprojeto paulista, com investimentos previstos de R$ 15 bilhões, a companhia retoma a participação em concessões de infraestrutura no Brasil e se prepara para crescer no setor de transportes e logística, saneamento e até em geração de energia renovável.

Agora, abrem-se outras oportunidades e temos apetite para seguir investindo em projetos de grande envergadura e nos quais possamos fazer a diferença, disse o diretor da Acciona no Brasil, André De Angelo, ao Valor.

Com alguns meses de atraso no cronograma, a companhia conseguiu concluir, na semana passada, as tratativas para assumir a parceria público-privada (PPP) da Linha 6-Laranja, dando fim a um imbróglio que paralisou o empreendimento por quatro anos. A Acciona passou a ser responsável pela construção, operação e manutenção do projeto, que antes estava nas mãos do consórcio Move São Paulo, dividido entre Odebrecht TransPort (OTP), em sociedade com Grupo Ruas, os japoneses da Mitsui, Queiroz Galvão e UTC.

A Linha das Universidades, como ficou conhecida, ligará Brasilândia a São Joaquim através de 15 novas estações numa extensão de 15,3 km. Terá interligação com linhas do Metrô e da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), e a previsão é que atenda, inicialmente, um fluxo de 630 mil pessoas por dia. O contrato da PPP tem prazo de 24 anos, sendo que as obras da linha inteira devem ser finalizadas em cinco anos – não há previsão de entrega parcial das estações. Portanto, a linha deverá estar toda operacional em 2025.

De Angelo destaca que o projeto é bastante complexo, até pela profundidade de algumas estações, que chegam a ter 70 metros. Hoje, as mais profundas do metrô paulistano são as da Linha 5-Lilás, com 40 metros. As obras foram retomadas na última terça-feira e, no momento, estão concentradas num poço próximo à marginal Tietê, de onde partirão as tuneladoras (ou tatuzões) para escavação.

Ao todo, o empreendimento deve exigir R$ 15 bilhões em investimentos, sendo que metade virá das contraprestações do governo paulista. Para financiar sua parte no negócio, a concessionária criada, Linha Universidade Participações S.A., acabou de captar R$ 1 bilhão em debêntures, numa operação concentrada em bancos. Para o financiamento de longo prazo, negocia com o banco de fomento BNDES e mais um ‘pool’ de bancos privados. Nossa expectativa é ter isso concluído em 6 a 8 meses, diz o executivo.

Apesar do desafio que tem à frente do novo projeto, a Acciona já está buscando novas oportunidades em concessões de infraestrutura, segmento em que havia deixado de atuar no país em 2018, com a venda da Rodovia do Aço para o grupo KT2.

Há interesse especial pelas linhas 8 e 9 da CPTM, que teriam sinergia direta, já que uma delas faz interligação com o projeto recém-assumido. É uma concessão com muito pouco Capex de obra, mas que já inicia operando mais de 1 milhão de passageiros. Para nós, faz bastante sentido, aponta De Angelo.

Outro setor que se tornou prioritário para a companhia é o de saneamento. Atualmente, a Acciona já participa com o braço de engenharia e construção pesada em uma série de obras de tratamento de água e esgoto e em plantas de dessalinização, no Brasil e em outros países. Agora, avalia disputar leilões de projetos integrados, que combinem os serviços de água e esgoto.

Sobre o grupo entrar sozinho ou em consórcio nos certames de saneamento, o executivo afirma que não há uma regra única, mas acrescenta que a companhia gosta de trabalhar com empresas e parceiros locais que possam agregar mais valor aos projetos. Ele não comenta nenhuma oportunidade específica que esteja no radar, mas indica que a Acciona não entregou proposta para o leilão de Cariacica (ES).

Na área portuária, o grupo espanhol deve participar da construção do projeto do Terminal Graneleiro da Babitonga, em São Francisco do Sul (SC), que deve exigir US$ 200 milhões em investimentos. Com capacidade para movimentar até 14 milhões de toneladas de grãos por ano, o terminal de uso privado (TUP) já possui licenças e permissões para instalação e está em fase de estruturação financeira.

Em 2021, a companhia pretende ainda trazer ao Brasil sua divisão de geração de energia renovável, que responde por 50% das receitas globais do grupo. Já estamos no processo de avaliação para aquisição de projetos ‘greenfield’. A estreia deve ocorrer em empreendimentos eólicos e solares, mas a Acciona avalia também fontes não tradicionais, como waste-to-energy (geração a partir de resíduos sólidos).

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2020/10/13/acciona-volta-a-participar-de-grandes-obras-no-pais.ghtml

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