Metrô do Recife registra mais de 130 paralisações de trens entre 2020 e 2021 e população enfrenta aglomerações

Trabalhadores da manutenção dos trilhos do Metrô do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo
Trabalhadores da manutenção dos trilhos do Metrô do Recife — Foto: Reprodução/TV Globo

G1 – O Metrô do Recife registrou, em 2020, 102 paralisações de trens devido a problemas técnicos, segundo dados da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU), o que equivale a um registro do tipo por dia por três meses e meio. Em 2021, até abril, foram mais 30 paralisações. Os passageiros relatam rotina de aglomerações mesmo em meio à pandemia.

Sempre que o metrô apresenta algum problema, o Centro de Comando e Controle da CBTU faz um registro, que vai para um relatório. Esses dados foram obtidos pela TV Globo através da Lei de Acesso à Informação (LAI).

O mesmo documento também apontou 4.941 falhas registradas ao longo de 2020, que foram desde uma porta que não abria, até erros no sistema elétrico ou trens que pararam totalmente, causando problemas aos passageiros e cenas de aglomeração durante a pandemia da Covid-19.

As paralisações nem sempre significam fechamento do metrô como um todo. Por vezes, a companhia consegue retirar rapidamente a composição com problema e, enquanto isso não ocorre, há intervalo maior entre as viagens, gerando atrasos para os passageiros e aglomerações nas plataformas e trens.

Para o superintendente da CBTU no Recife, Carlos Fernando Ferreira da Silva, os números não são negativos diante da quantidade de viagens diárias realizadas (veja vídeo acima).

“A gente realiza em torno de 400 viagens por dia. Então, quando você compara o número de ocorrências, de interrupções, com o número de viagens, isso nos coloca em um patamar extremamente confortável, dentre os melhores metrôs do Brasil”, afirmou.

Já a percepção dos passageiros que enfrentam os problemas diariamente é outra. Para a empregada doméstica Lúcia de Carvalho, a pandemia tornou algo que já era ruim e corriqueiro em uma situação ainda pior.

“Cobra caro na passagem, mas cadê? Ficam dizendo que ‘Não tem aglomeração em canto nenhum’, mas tem, sim. É só vir no metrô para ver. É muita bagunça”, disse.

Em março deste ano, a CBTU aprovou um aumento de 6,3% no preço da passagem, que saiu de R$ 4 para R$ 4,25. Muitos passageiros só conseguem utilizar o metrô ou dependem dele para pelo menos parte da viagem, já que a malha cobre trajetos que nem sempre são contemplados pelos ônibus.

Outro ponto é em relação à quantidade de passageiros e rapidez no percurso. Enquanto apenas um trem do metrô consegue transportar até mil pessoas, para levar a mesma quantidade de passageiros seria preciso pelo menos cinco ônibus do tipo BRT ou dez do tamanho normal.

Ao todo, cerca de 150 mil pessoas passam diariamente pelas duas linhas e 37 estações do metrô e Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). São 71 quilômetros de malha ferroviária que circulam por quatro cidades da Região Metropolitana, sendo elas Recife, Jaboatão dos Guararapes, Cabo de Santo Agostinho e Camaragibe.

Os problemas não são vistos apenas dentro dos trens, já que as estações também somam falhas como escadas rolantes quebradas, problemas nos banheiros e até falta de estrutura no teto.

“Tem alguns trens que estão danificados, quando chove é água [que cai para dentro]. A gente fica correndo de um lado pro outro e sempre lotado”, afirmou a professora aposentada Jucilene Portela.

Infraestrutura antiga
O metrô do Recife começou a rodar em 1985 e, desde então, a mesma rede elétrica é utilizada. O problema do roubo de cabos e fiações de cobre é comum e as estruturas do sistema de eletricidade costumam falhar, causando a paralisação dos trens, inclusive em horários de pico.

De 1985 para 2021 pouca coisa mudou no trajeto do metrô. A maioria dos trens também são da época da inauguração do sistema. Dos 40 veículos disponíveis, 25 deles estão rodando há 36 anos. De acordo com os padrões internacionais de transporte, depois de 30 anos em uso, os trens correm o risco de não funcionar corretamente.

Já as outras 15 composições foram adquiridas em 2013. No entanto, mesmo os veículos mais novos já apresentam problemas mecânicos ou em decorrência de atos de vandalismo, segundo a CBTU. Os trens com o para-brisa quebrado, por exemplo, tem um custo de conserto de R$ 30 mil por vidro, além de uma semana parado na oficina.

De acordo com o engenheiro especialista em transportes Fernando Jordão os problemas do Metrô do Recife estão diretamente relacionados à falta de recursos, planejamento e investimentos.

“Todo sistema de transporte, necessariamente, tem um item chamado manutenção do sistema e foi descuidado, não no gerenciamento, mas descuidado do ponto de vista financeiro. Ou seja, quem era o detentor do metrô, que era o governo federal, não fazia seus orçamentos prevendo a manutenção do metrô. Eu diria até que o metrô se superou”, afirmou.

Impasses no orçamento

Uma oficina no Recife tem vários trens antigos e sem uso (veja vídeo acima), fruto da falta de recursos para novos investimentos no sistema.

A CBTU é uma empresa federal e todo dinheiro arrecadado pela bilheteria do órgão é destinado ao cofre da União. O presidente da república inclui no orçamento do país o quanto deve ser repassado para o Metrô no ano seguinte.

O orçamento, que tem formato de lei contendo todos os gastos do governo federal, precisa de aprovação no Senado e na Câmara dos Deputados. Depois, o dinheiro chega à companhia, que pode então aplicar os investimentos.

Nos últimos anos, o Metrô do Recife tem recebido mais do que arrecada com as passagens e mesmo assim o dinheiro ainda é pouco para as demandas de manutenção dos trens e estações.

Em 2020, foram arrecadados cerca de R$ 57,4 milhões com as passagens nas bilheterias. Para este ano, a CBTU havia solicitado um valor de R$ 197 milhões à União, mas só recebeu R$ 100 milhões para manutenção dos trens e estações, além do pagamento de funcionários (veja vídeo acima).

Um outro pedido feito ao governo federal pela CBTU foi no valor de R$ 500 milhões, para aquisições de novos veículos e reformas de linhas. O governo, no entanto, não aprovou o pedido e não deve enviar nada referente a esse valor.

Paralisações
Apenas entre os dias 19 e 23 de abril deste ano, o Metrô do Recife apresentou ao menos três paralisações devido a problemas técnicos. No dia 19, falhas na rede elétrica deixaram a Linha Sul mais de 12 horas sem funcionar e causaram um atraso na abertura da Linha Centro.

No dia 20, um trem quebrou na Estação Joana Bezerra e passou dez minutos parado, até que fosse retirado e a operação normalizada (veja vídeo abaixo). Já em 23 do mesmo mês, uma composição apresentou um problema elétrico e interrompeu o serviço da Linha Centro, deixando plataformas cheias.

Ainda em abril, um problema elétrico também deixou a Linha Sul sem operar. Na ocasião, o serviço foi restabelecido mais de 24 horas depois.

Em março, mais cenas de aglomeração foram registradas quando o estado entrou em quarentena para conter o avanço da Covid-19. Imagens enviadas ao WhatsApp da TV Globo mostraram pessoas aglomeradas aguardando na plataforma da Estação Jaboatão, em Jaboatão dos Guararapes, na Região Metropolitana

Em fevereiro, uma falha na via próxima à Estação Recife, na área central do Recife, paralisou toda a Linha Sul do Metrô. Na data, passageiros que esperavam pelo transporte tiveram que aguardar por 30 minutos até os trens voltarem a rodar, durante o horário de pico, que é entre 6h e 8h30.

Fonte: https://g1.globo.com/pe/pernambuco/noticia/2021/06/15/metro-do-recife-registra-mais-de-130-paralisacoes-de-trens-por-problemas-tecnicos-entre-2020-e-2021.ghtml

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