Mubadala: Onde o fundo árabe que foi parceiro de Eike e mantém estilo discreto quer chegar no Brasil?

A Refinaria Landulpho Alves (Rlam), comprada da Petrobras, está entre os ativos do Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, no Brasil: foco é crescer em áreas como energia renovável e mobilidade Foto: Juarez Cavalcanti / Agência O Globo
A Refinaria Landulpho Alves (Rlam), comprada da Petrobras, está entre os ativos do Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, no Brasil: foco é crescer em áreas como energia renovável e mobilidade Foto: Juarez Cavalcanti / Agência O Globo

O Globo – O Mubadala, fundo soberano de Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos, voltou aos holofotes no Brasil. Na semana passada, sacramentou com a Petrobras o acordo de aquisição da Refinaria Landulpho Alves (Rlam), na Bahia, a primeira da estatal a ser vendida. O valor do negócio, R$ 1,7 bilhão, é próximo ao de outra operação, em novembro, que lhe deu o controle do Metrô Rio, antes nas mãos da Invepar.

As duas grandes transações, dizem fontes a par das negociações, sinalizam duas das áreas de maior interesse do fundo bilionário árabe no país: energia — sobretudo aquela de fontes renováveis — e mobilidade urbana. O plano do Mubadala é desenvolver cadeias mais completas nos setores que considera estratégicos no país e que se encaixam nos setores-alvo do fundo para 2022.

Atuando em mais de 50 países com US$ 243 bilhões em ativos sob seu chapéu, o Mubadala já tem uma relação prolongada e resiliente com o Brasil. O fundo ganhou mais evidência no país quando se tornou parceiro de projetos do ex-bilionário Eike Batista. O império X naufragou, mas o fundo reorganizou seus negócios levando empresas que eram do grupo. E agora parece estar entrar em uma nova ofensiva de investimentos no país. Mas não costuma mostrar um rosto por aqui. Recruta executivos locais cuja atuação é marcada pela discrição.

CEO mira renováveis
O presidente do Mubadala Capital no Brasil é Oscar Fahlgren. A face global mais visível do fundo é Khaldoon Khalifa Al Mubarak, CEO da Mubadala Development Company. No fim do mês passado, ele afirmou que está atento sobretudo a fontes renováveis de energia, tecnologia e ciências da vida. Frisou não ter mudado a estratégia, mas reconheceu que, “no curto prazo, há desafios à frente”, como a inflação subindo em diversos países. Emendou dizendo que, no pós-pandemia, há grande liquidez global, embora aumentos de taxa de juros tragam impactos como o desestímulo a investimentos em projetos.

No Brasil, apesar dos riscos econômicos e políticos, o cenário descrito por Al Mubarak pode se traduzir em oportunidades para o Mubadala ampliar ainda mais sua carteira de ativos no país, afirmam executivos desses setores.

O mercado brasileiro aparece com destaque no mapa do fundo. A Mubadala Capital, subsidiária de private equity do grupo, tem no Rio de Janeiro um de deus quatro escritórios no mundo. Os outros estão em Abu Dhabi, Nova York e São Francisco, nos EUA. Esse braço tem US$ 9 bilhões de ativos de capital de terceiros.

Além de Rlam e Metrô Rio, entre os negócios que a Mubadala Capital abocanhou no país recentemente estão a concessionária rodoviária Rota das Bandeiras (SP). Em breve, assumirá a Linha Amarela. A via expressa carioca é parte de um acordo fechado com a Invepar em 2020, quando o ente dos Emirados Árabes entrou na reestruturação da dívida de R$ 2,5 bilhões da empresa de concessões controlada pelos fundos de pensão Previ (de empregados do Banco do Brasil), Funcef (Caixa) e Petros (Petrobras).

Talentos locais
A Mubadala Investment Company, o braço de investimento direto do fundo, engloba as empresas da antiga EBX, que foi a holding de Eike. Em 2012, o Mubadala fez um aporte de US$ 2 bilhões na companhia. Com a derrocada, o pagamento veio em ativos, como fatias da Prumo Logística (ex-LLX), do Porto Sudeste e da IMM, de eventos. Chegou levar o Hotel Glória, na Zona Sul do Rio, que vendeu ao Opportunity.

O Mubadala deverá ter outros ativos em mobilidade, além do Metrô Rio. O fundo já estaria em conversas para ampliar o número de empresas desse setor em seu portfólio. Lá atrás, chegou a fazer ofertas pela SuperVia, concessionária de trens fluminense hoje em recuperação judicial, diz uma fonte, mas o negócio não saiu.

Uma marca da gestão do fundo árabe é a contratação de talentos nos países em que atua. Na Acelen, empresa de energia do Mubadala Capital que vai comandar a Rlam — que retomará seu nome de fundação, Refinaria Rio Mataripe —, há ex-empregados de praticamente todas as companhias de energia do país.

Executivos e advogados que já acompanharam negociações com o fundo relatam a atuação reservada como uma das principais características do modo de operar. Nas palavras de uma das fontes, “por um lado, isso é ruim, porque fica quase uma caixa preta”.

Fontes do setor afirmam que, nos próximos anos, o Mubadala planeja avançar em projetos de geração de energia renovável no Brasil. Um executivo do mercado explica que a ideia é aproveitar o potencial nos segmentos eólico e solar, sempre com o fundo entrando em projetos em parceria com sócios.

Interesse no ex- Comperj
Nessa área de energia, um dos mais cotados para esse tipo de empreitada é o fundo americano EIG, que já é sócio do Mubadala na Prumo, dona do Porto do Açu, em São João da Barra, no Norte Fluminense. A empresa está em robusta expansão. Também no Açu, o Mubadala vem participando de negociações com a Petrobras para a construção de um gasoduto e oleoduto até o Comperj (chamado de Gaslub), em Itaboraí, no Grande Rio. E não descartaria analisar eventual compra da Gaslub caso a estatal decida colocar o empreendimento à venda, apontam agentes do setor.

Em novembro, foi anunciada uma parceria de TAQA (a empresa de energia dos Emirados Árabes), Adnoc (a petroleira do país) e o Mubadala sob a marca Masdar, com foco em energia do futuro. Com capacidade de geração de 23GW em energia de fontes renováveis, quer bater 50GW até 2030, o que indica acelerar aportes globalmente. Procurado pelo GLOBO, o Mubadala não comentou seus planos.

Fonte: https://oglobo.globo.com/economia/negocios/mubadala-onde-fundo-arabe-que-foi-parceiro-de-eike-mantem-estilo-discreto-quer-chegar-no-brasil-25306488

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