O Globo – O Ministério Público de São Paulo informou que recebeu na segunda-feira um relatório preliminar da Acciona — empresa responsável pela obra da Linha 6-Laranja do Metrô — sobre as circunstâncias da abertura de uma cratera na região da Lapa, em plena Marginal Tietê. As informações irão para o inquérito civíl sobre as causas do acidente, no começo do mês.
De acordo com o MP, a Sabesp também respondeu, assim como a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET). A prefeitura de São Paulo informou que que a Defesa Civil também enviou informações.
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Ainda na segunda-feira, o MP pediu esclarecimentos complementares ao consórcio responsável pelas obras. Também está prevista para a quarta-feira da próxima semana a oitiva do engenheiro responsável pela obra.
A investigação é mais um capítulo da novela que envolve a implantação desse tipo de modal no estado de São Paulo. Para além da abertura da cratera no começo do mês, episódios marcados por concessionárias que não conseguem cumprir contratos e dificuldades de atrelar uma obra do tipo ao fluxo da metrópole são outros impeditivos para que os cronogramas originais sejam mais que meras previsões que dificilmente se cumprem.
Estava previsto que os trabalhos da Linha 6-Laranja estivessem aptos à inauguração ainda em 2012. Depois desse prazo não estourar, diversos adiamentos foram anunciados. A própria licitação inicial para a construção da linha só saiu em 2013.
O ex-diretor da Agência de Transporte do Estado de São Paulo (Artesp) e sócio do escritório Porto Lauand, o advogado Rodrigo Campos, lembra que o consórcio anterior — formado por Queiroz Galvão, UTC e Odebrecht — não cumpriram prazos estabelecidos previamente por falta de viabilidade financeira.
— Quando uma concessionária tem problemas sistêmicos (como neste caso), existe a caducidade, que é uma forma de extinção antecipada do contrato. Chegou-se abrir o processo no contrato da Linha 6, mas não foi concluído porque foram acontecendo várias negociações com possíveis interessados em assumir as concessões. Deu certo e a concessão foi transferido em 2020 para a Acciona — afirmou ele, que classifica a caducidade como a “pior solução possível”.
O secretário dos Transportes Metropolitanos do Estado de São Paulo, Paulo Galli, afirmou ao GLOBO que a pasta “não trabalha” com adiamento das obras da Linha 6-Laranja do Metrô. A obra é orçada em R$ 15 bilhões e ligará a Brasilândia ao centro da capital.
— A construtora está antecipando (outras partes do serviço). Temos mais de 22 canteiros abertos, há dois suspensos, mas os demais seguem ativos e operando normalmente. Neste momento não trabalhamos com adimento, com prorrogação (do prazo final), mas quando recuperarmos o tatuzão teremos uma definição mais precisa da data. Porém, acreditamos que poderemos cumprir o cronograma — avalia o secretário. A previsão mais recente sobre a entrega das obras foi de 2025.
Um prazo mais preciso, diz Galli, porém, deve sair do papel quando escoamento total do esgoto, recuperação da máquina tuneladora e os serviços de limpeza estiverem concluídos.
Outras obras
O mais emblemático atraso, contudo, é da Linha-17 Ouro, do monotrilho. Prevista para estar em uso na Copa do Mundo realizada no Brasil, em 2014, mas atravessará dois torneios antes de sua entrega. Agora, Paulo Galli afirma que a nova data de entrega será no final de 2023. Ainda falta, contudo, importantes etapas da instalação do serviço sobre trilhos.
De acordo com Galli, uma das empresas que fazia parte do grupo que venceu a licitação original faliu. Tratava-se da Scomi, da Malásia, responsável pela preparação dos trens que seriam usados na via.
— No começo do governo, entendemos que teríamos que romper o contrato, fizemos licitações ainda em 2020. A expectativa é que o primeiro trem chegue a São Paulo para os testes em setembro e outubro deste ano. Estamos cobrando uma velocidade maior para a obra — diz o secretário.
Para concluir as obras em andamento há ainda a expansão da Linha 2-Verde, prevista inicialmente para 2013, com outro projeto. O cronograma foi fatiado e será entregue — de acordo com as atuais estimativas — em 2026. O novo trecho previsto para daqui a quatro anos ligará a Vila Pudente até a estação Penha, na Linha 3-Vermelha.
Por fim, há o prolongamento da Linha 15-Prata. Após atrasos do trecho original, inaugurado a partir de 2015 (cinco anos após o anunciado inicialmente), há projetos executivos em andamento de duas novas estações da linha, as chamadas Jacu-Pêssego e Boa Esperança. Em relatório do metrô, a previsão é que a conclusão da linha se dê em 2024. Mesmo ano que se prevê uma ligação entre as estações Vila Prudente e Ipiranga (da CPTM), na outra ponta da linha.
— Vemos como um erro. O monotrilho não tem capacidade para tanta gente — afirma Wagner Fajardo, coordenador-geral do Sindicato dos Metroviários.
Para os sucessivos atrasos que marcam as obras do metrô paulista, Fajardo vê falta de planejamento e a aprovação de projetos equivocados como a principal causa.
O advogado Rodrigo Campos, contudo, acredita que a dificuldade de realizar uma obra grandiosa como de uma linha de metrô potencializa as chances de atraso.
— Se uma das variáveis que compõem a engrenagem sofrer avarias, potencialmente temos atrasos nos prazos. Em certa medida, é até esperado atrasos em obras de magnitude como essas — diz.
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