Valor Econômico – Uma primeira lista, com 15 potenciais candidatos a presidente da Vale, tornou-se pública ontem dentro do conturbado processo sucessório da mineradora, que se arrasta desde 2023. Os nomes – boa parte deles revelada pelo colunista Lauro Jardim, do jornal “O Globo”, incluem executivos de grandes empresas brasileiras – entre as quais Embraer, Gerdau, Klabin e Engie -, apenas dois são da área de mineração, outros dois estrangeiros e somente uma mulher, a engenheira Ana Zambelli, com longa trajetória no setor de óleo e gás.
O Valor apurou que essa primeira seleção, preparada pela consultoria Russell Reynolds, teria desagradado à Previ, o fundo de pensão dos funcionários do Banco do Brasil, por não incluir nome mais próximo do governo.
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Na seleção, a consultoria de “head hunter” indica quais são os executivos considerados alta prioridade para o cargo e sugere candidatos que se colocaram à disposição de participar de uma segunda etapa do processo. A expectativa é de que três nomes sejam selecionados até o fim do mês – e o escolha do futuro CEO seja concluída até o fim de agosto, segundo fontes. A reportagem não teve acesso às notas atribuídas a cada indicado considerado de alta prioridade.
Parte dos acionistas ouvida pelo Valor demonstrou insatisfação com a lista divulgada pela consultoria responsável por essa seleção.
Nomes como Cristiano Teixeira, da Klabin, Gustavo Werneck, da Gerdau, e Francisco Gomes Neto, da Embraer, foram bem recebidos por parte dos acionistas, por terem uma trajetória nas respectivas empresas consideradas de sucesso. Outros, como Pedro Parente (EB Capital) e Antonio Maciel Neto (Caoa), por exemplo, não representariam hoje o “sangue novo” que a mineradora quer imprimir para voltar a crescer, segundo as fontes. Procurados, nenhum executivo da lista retornou as ligações. Os executivos estrangeiros, Pablo Di Si (Volks) e Antonio Filosa (Jeep), teriam resistência por parte dos acionistas. Filosa negou que tenha sido sondado.
A seleção feita pela consultoria de “head hunter” priorizou nomes ligados ao setor industrial, segundo um candidato ouvido pela reportagem. Na lista, não há ninguém ligado ao mercado financeiro.
Parte dos acionistas também tem defendido uma antecipação no processo de sucessão da Vale, para a empresa virar a página na crise do processo sucessório. No entanto, a dificuldade para encontrar um executivo para início imediato é apontado como a principal dificuldade.
Executivos incluídos na lista ouvidos pelo Valor, sob condição de anonimato, confirmaram que disponibilidade imediata pode ser um problema, mas pode ser negociado. Para parte deles, a Vale tem problemas por conta das tragédias ambientais de Mariana (MG), em 2015, e de Brumadinho (MG), em 2019, mas a empresa representa um desafio de carreira importante para um profissional experiente.
Acionista histórica da Vale desde a privatização da companhia, em 1997, a Previ vem sendo apontada, nos bastidores, desde o começo do governo Lula, como interlocutora do Planalto na sucessão da mineradora, processo marcado por várias tentativas de intervenção de Brasília.
Fontes próximas da Previ negaram que tenha havido qualquer pressão para mudar ou acrescentar nomes nessa primeira lista da Russel Reynolds. A reportagem apurou que a lista foi apresentada na segunda-feira (8) ao comitê de pessoas e remuneração, coordenado por João Fukunaga, presidente da Previ e um dos dois conselheiros do fundo de pensão na mineradora. O outro é Daniel Stieler, presidente do conselho de administração da empresa. Ontem, o colegiado da Vale se reuniu e a lista foi discutida. Procurados, Fukunaga e Stieler não se pronunciaram até o fechamento desta edição.
Alguns nomes próximos ao governo que circularam como eventuais candidatos à vaga de CEO da Vale foram Paulo Caffarelli, ex-presidente do Banco do Brasil, e, mais recentemente, Bruno Dantas, presidente do Tribunal de Contas da União (TCU). O primeiro nome foi do ex-ministro da Fazenda, Guido Mantega, mal-recebido pelo mercado. O conselho acabou rachando nas discussões sobre a sucessão da mineradora. Outro candidato que apareceu ao longo do processo sucessório foi o do ex-presidente da Vale, Murilo Ferreira, que comandou a mineradora no governo Dilma Rousseff, além de Aldemir Bendine. Nenhum deles apareceu, porém, na lista inicial da Russell Reynolds. Procurado, Dantas não retornou até o fechamento desta edição.
O processo sucessório na Vale tem um rito de governança a ser seguido e a empresa já divulgou que existe um cronograma segundo o qual Eduardo Bartolomeo, o atual CEO, será substituído até dezembro. Mas todo o desgaste que esse processo vem trazendo para a empresa fez com que acionistas e administradores passassem a trabalhar para antecipar a conclusão da troca do presidente. Oficialmente, essas datas não constam do cronograma divulgado pela empresa.
A primeira nominata da Russell Reynolds vai passar por uma depuração que reduzirá o número de candidatos até se chegar a uma lista tríplice. O acordo que existe, segundo fontes, é que nessa lista final conste um candidato de dentro da Vale, que seria o vice-presidente de finanças, Gustavo Pimenta. Restariam, portanto, outras vagas a serem preenchidas. É dessa trinca que saíra o novo CEO.
O Valor apurou que na primeira lista a consultoria fez uma classificação, ordenando os candidatos de acordo com critérios técnicos. Mas a palavra final, sobre quem passará para as fases seguintes da seleção, caberá ao conselho de administração da Vale, que no momento tem 11 integrantes depois da renúncia de dois conselheiros independentes. José Luciano Penido renunciou em março, quando veio a público uma carta dele com críticas ao processo sucessório. Ele terminou se retratando um mês depois e uma apuração interna da Vale indicou que o processo sucessório respeitou a governança. Na semana passada, a canadense Vera Marie Inkster também renunciou.
O colegiado ficou com seis conselheiros independentes abaixo do que determina o estatuto da empresa e agora a Vale irá convocar uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), em data a ser definida, para recompor o conselho.
Em nota na noite de ontem a mineradora afirmou que Reynolds segue desempenhando os serviços de assessoria para a seleção do novo presidente da companhia. “As ações de competência do Conselho de Administração da Vale continuam em execução conforme comunicação ao mercado em 1º de maio de 2024. O processo de sucessão do Presidente da Vale é executado em conformidade com o estatuto social e as políticas corporativas da Companhia, bem como com o Regimento Interno do Conselho de Administração e a legislação aplicável. Por fim, a Companhia informa que não há definição pelo Conselho de Administração da Vale sobre a lista de candidatos até o presente momento e reitera que manterá o mercado informado a respeito de evoluções relevantes sobre a definição do seu novo Presidente.
Em nota, o presidente da Embraer, Francisco Gomes Neto, agradeceu a consideração de seu nome no processo de sucessão da Vale, mas indicou que não pretende deixar o comando da fabricante de aeronaves. “Para evitar especulações, gostaria de reafirmar meu compromisso com a Embraer, que passa por um período de crescimento muito positivo e conta com um plano estratégico robusto para garantir um futuro sustentável para a companhia”, disse.
A administração da Vale persegue um perfil de executivo que possa voltar a fazer a mineradora crescer depois dos problemas com o rompimento das barragens nos últimos anos. A empresa enfrenta problemas de licenciamento ambiental, sobretudo no Pará, onde estão as principais reservas, em Carajás. Existe, segundo dizem fontes próximas à empresa, uma matriz de competências para o CEO. Essa matriz inclui, por exemplo, a necessidade de experiência internacional em cargos anteriores pelos quais o executivo passou. Um ponto que se busca também é que o executivo tenha boa comunicação e priorize relações institucionais com as partes interessadas.
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