Sob pressão de dívida, Raízen avalia aumento de capital

Valor Econômico – Após vender as ações da Vale em janeiro e levantar R$ 9 bilhões, o grupo Cosan, do empresário Rubens Ometto Silveira Mello, continua buscando alternativas para reduzir sua alavancagem. O Valor apurou que a Raízen, companhia produtora de açúcar, etanol e distribuição de combustíveis, discute um aumento de capital.

As conversas para a capitalização da empresa – uma joint venture do grupo com a Shell – já estão em andamento, mas ainda sem detalhamento da operação, de acordo com fontes que falaram sob condição de anonimato.

Essa subsidiária do grupo tem se desfeito de ativos considerados não estratégicos, como usinas de geração distribuída, além de unidades de etanol não “core” (estratégica) – é o caso da Leme, no interior de São Paulo, que foi colocada à venda no ano passado.

As ações da Raízen estão derretendo nos últimos dias e já acumulam, desde o início do ano, desvalorização de 15,28%, de acordo com levantamento do Valor Data. Em 12 meses, a queda é de 52%. O valor de mercado da companhia em bolsa encerrou ontem a R$ 18,9 bilhões.

A agência de classificação de riscos S&P Global Rating revisou, no dia 30 de janeiro, a nota da companhia de estável para negativa diante do desempenho operacional para a safra 2024/25 abaixo do esperado e alavancagem. A dívida financeira atingiu um recorde de R$ 49,7 bilhões no fim do terceiro trimestre de 2024, levando relação dívida/Ebitda (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) para três vezes.

A expectativa da S&P é de que a alavancagem da empresa continue alta, entre 3 e 3,5 vezes, ao fim do ano fiscal de 2025, com capacidade limitada de reduzir a dívida nominal no exercício de 2026.

O grupo de Ometto também tem estudado possibilidades para reduzir as dívidas da holding, como a entrada de um sócio na companhia de gás – a Compass. Por ora, contudo, essas conversas estão descartadas, segundo uma pessoa a par do assunto. Bancos de investimentos também apresentaram proposta de capitalização da própria Cosan – movimento que tem sido rejeitado pelo empresário Rubens Ometto, que não aceita diluir sua participação na holding, dona também de ferrovias.

Procurado pela reportagem, o grupo Cosan não comenta.

A busca por um aporte privado (“private placement”) na Compass esteve na mesa do grupo nos últimos meses e atraiu diversos interessados, sobretudo estrangeiros, apurou o Valor. A entrada de um sócio na empresa de gás natural perdeu força neste momento, mas não está totalmente fora de questão.

A Cosan tem 88% da Compass – o restante está nas mãos de gestoras de investimentos e também do Bradesco Vida e Previdência. A empresa de gás desistiu de fazer uma oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) em 2020 e, desde então, recebeu aportes privados. Em 2021, levantou R$ 810 milhões no mercado com aporte de fundos liderados pela Atmos. Depois, em setembro do mesmo ano, teve nova injeção de capital, de R$ 1,44 bilhão, liderada pelo Bradesco. Com as duas operações, a empresa teve um aumento de capital de R$ 2,25 bilhões – a Cosan ficou com quase 90% do negócio. A ideia é retomar o IPO no futuro.

Também em outubro do ano passado, como forma de reduzir a pressão sobre a dívida, o grupo Cosan tentou abrir o capital da Moove, seu negócio de lubrificantes, na bolsa de Nova York. O cancelamento da operação ocorreu às vésperas da precificação do papéis – a companhia avaliou que os investidores estavam descontando demais as ações.

Essa é uma transação que também deverá voltar à mesa quando as condições de mercado começarem a ficar mais favoráveis para o mercado de capitais.

Tanto Compass quanto Moove têm demanda de interesse de investidores, incluindo estrangeiros, pela resiliência que marca os dois negócios.

O empresário Rubens Ometto não tem problemas em ter sócios em suas companhias, desde que não abra mão do controle. A exceção foi a Vale, mas o investimento durou pouco. O grupo entrou na mineradora com uma fatia de cerca de 5% no fim de 2022, mas a companhia desmontou toda a posição quase dois anos depois.

Ometto tinha ambição de ser um conselheiro vocal na mineradora. Ele participou ativamente do processo de sucessão na Vale, que escolheu o vice-presidente de finanças, Gustavo Pimenta, como novo CEO.

Sob pressão da dívida, o grupo anunciou no ano passado mudança no alto comando dos negócios, trocando de funções seus principais executivos.

Desde novembro do ano passado, Marcelo Martins, ex-vice-presidente de estratégia da companhia, é o CEO do grupo. Martins foi um dos executivos responsáveis pelo movimento de consolidação do grupo. Nelson Gomes passou a ocupar a posição de diretor-presidente da Raízen. O cargo da companhia até então estava sob responsabilidade de Ricardo Mussa. Ele tinha sido designado para assumir a Cosan Investimentos. No entanto, logo após o anúncio do alto comando, ele renunciou ao cargo.

Fonte: https://valor.globo.com/empresas/noticia/2025/02/07/sob-pressao-de-divida-raizen-avalia-aumento-de-capital.ghtml

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