Felicíssimo Sena
A ferrovia Norte-Sul continua a desafiar considerações, especialmente sobre os motivos que mobilizaram tantos, inicialmente, contra a sua efetiva construção.
No afã de demonstrar uma suposta falta de justificativa para sua implantação, os mais agressivos chegavam a sugerir um deserto goiano, improdutivo e imprestável para o desenvolvimento da economia nacional. Esse deserto, entretanto, para felicidade de todos – inclusive daqueles que o anunciavam –, não existe e as terras goianas, ainda que não integralmente férteis, são facilmente agricultáveis.
Na justificativa do egoísmo dos que negavam a validade da obra, foram incluídas atitudes que demonstram um divisionismo injustificado, uma agressividade indevida e uma detração a nós outros que temos como pecado maior a possibilidade de progredir.
São comuns algumas grosseiras referências ao paralelismo entre a rota prevista para a Norte-Sul e a Rodovia Belém-Brasília. Além de não ser absolutamente verdadeira tal referência, merece destaque o fato de que a opção ferroviária é uma alternativa para uma substancial redução de custos nos transportes de cargas pesadas, leves e ou até mesmo de passageiros, numa época em que os preços dos combustíveis e outros componentes dos transportes rodoviários estão impraticáveis.
Não há motivo para outra rodovia, mas para a ferrovia, sim, porque não é uma alternativa similar: é uma proposta melhor, menos onerosa e mais adequada para o transporte de cargas, especialmente aquelas pesadas. Um transporte ferroviário eficiente é sinônimo de desenvolvimento e tem predominância nas grandes economias do mundo.
As ferrovias foram sempre defendidas pelos grandes Estados brasileiros que, por certo, só as admitiam nos seus limites territoriais. Eis que a Norte-Sul abre uma real perspectiva de exportação direta para Goiás, Mato Grosso, Tocantins, Maranhão, Pará e outros Estados a que servirá direta ou indiretamente. Essa constatação incomoda a tantos outros que estão acostumados a receber nossa matéria-prima a preços de produtos naturais e a nos devolver enlatados com lucros substanciosos da agregação industrial.
Mesmo assim, ainda que com uma economia fundamentalmente primária, Goiás é hoje a oitava força econômica brasileira. A Norte-Sul servirá para fazer-nos emergir na competição econômico-nacional que a grotesca resistência das regiões ricas quer inibir.
Merece ser lembrado, aos históricos adversários da Norte-Sul, que a prática desenvolvida por eles pode ser comparada, com muita adequação, ao coronelismo da política brasileira, que buscava a sustentação dos privilégios pela exploração alheia: os explorados devem ser mantidos na ignorância e na miséria para que não tenham a petulância de se tornarem livres. A timidez goiana começa a acabar.
Somente nós podemos construir o nosso futuro. Que dentro em breve, embora ricos, não cobremos a miséria de outros brasileiros, porque isso agride o espírito de brasilidade e não serve à unidade nacional tão duramente construída por nossos antepassados.
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