O orçamento do próximo presidente da Argentina terá novos recursos para investimentos em energia – o grande gargalo do governo de Néstor Kirchner – e também dinheiro para fazer o primeiro trem-bala da América do Sul, ligando a capital Buenos Aires às cidades industriais de Rosário (na província de Santa Fé) e Córdoba (na província do mesmo nome).
O projeto orçamentário de 2008 foi apresentado oficialmente ontem pelo ministro da Economia, Miguel Peirano, ao Congresso argentino, debaixo de críticas da oposição, que não teve sequer o direito de fazer perguntas ao ministro. Isso graças à ampla maioria que Kirchner detém no Legislativo e que permitiu, no ano passado, que o governo obtivesse autorização para administrar parte do Orçamento sem necessitar da aprovação dos deputados e senadores.
O Orçamento foi elaborado e aprovado na Casa Rosada sob a supervisão da senadora Cristina Fernandez de Kirchner, primeira-dama e candidata favorita nas eleições presidenciais de outubro. Estão previstos recursos da ordem de 185,5 bilhões de pesos (aproximadamente US$ 60 bilhões) para cobrir gastos totais estimados em 177,2 bilhões de pesos. A arrecadação de 2008 representaria uma carga tributária de 20,7% sobre o Produto Interno Bruto (PIB).
Na parte de investimentos, o Orçamento prevê um empréstimo de US$ 450 milhões para a construção de uma unidade de separação de gás na Bolívia, a construção de centrais de geração de energia elétrica e o início do Gasoduto do Nordeste Argentino. Segundo o jornal “Ambito Financiero”, há ainda uma autorização ao Tesouro para dar aval de 510 milhões de pesos para o cumprimento de compromissos com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) brasileiro. A conta refere-se aos projetos de gasodutos dos quais participam as brasileiras Petrobras e Odebrecht.
O ponto mais criticado do projeto são os pressupostos macroeconômicos sob os quais ele foi calculado e que, a primeira vista, significariam uma forte desaceleração da economia para o ano que vem. O Orçamento prevê uma inflação de 7,7% para 2008 e um crescimento de apenas 4% do PIB. Os investimentos cresceriam 5,6%, as exportações, 6,6%, e as importações, 7,9%. O superávit primário será mantido em 3,15% do PIB.
A projeção de crescimento é a mesma embutida no Orçamento de 2007, interpretada pelos analistas como uma manobra para liberar ainda mais verbas para gastos discricionários. Ao subestimar a arrecadação, o governo limita o comprometimento com despesas e libera verbas excedentes para novos gastos, para os quais não tem que dar satisfações ao Congresso.
A economia argentina vem crescendo o dobro da projeção atual do Orçamento, entre 8% e 9% ao ano, há quatro anos consecutivos. Para o ano que vem, a expectativa dos economistas e consultores independentes é de redução desse ritmo, porém não menos que 6% a 7%. As exportações estão crescendo entre 14% e 15% comparadas a 2006, enquanto as importações saltaram quase 30%, refletindo o aquecimento da atividade econômica.
“A subestimação [do crescimento do PIB] vai deixar mais de 20 bilhões de pesos liberados à gestão discricionária e sem transparência do presidente”, criticou o deputado Esteban Bullrich, da frente opositora PRO-Recrear.
Em seu discurso ao Congresso, Peirano disse que o Orçamento traz uma “estratégia de fortalecimento do mercado interno” e consolida a política de “recuperação do papel do estado na promoção do crescimento econômico”.
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