Correio Braziliense – Inaugurado oficialmente em 31 de março de 2001 como uma alternativa para os moradores do Distrito Federal, o metrô estagnou. Ao completar 22 anos de existência, várias promessas de expansão foram feitas, mas nenhuma saiu do papel. Atualmente, o sistema metroviário da capital do país tem 42,5 km de extensão e 27 estações operacionais, para atender uma média de 135 mil usuários/dia, em dias úteis, segundo a Companhia do Metropolitano do DF (Metrô-DF). Para o doutor em transportes pela Universidade de Brasília (UnB) e professor do Departamento de Engenharia Civil da Universidade Católica de Brasília (UCB) Edson Benício, a ampliação é algo urgente para a população.
“Já era para ter acontecido, há bastante tempo. Os benefícios dessa expansão são diversos: vai aumentar o número de usuários do sistema; as viagens serão mais seguras para eles; e o tempo de viagem vai ser menor, se comparado com o ônibus”, aponta o especialista. De acordo com o doutor em transportes, o impacto de uma expansão é positivo (leia mais em Vantagens), mas vai depender de um funcionamento efetivo dessa ampliação.
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Sobre a questão da viabilidade, Benício destaca que é uma questão de prioridade do governo. “Atualmente, estão sendo priorizadas as obras que atendam a demanda dos veículos individuais, acima dos coletivos, como túneis, vias de acesso e novas faixas de rolagem”, enumera. “O ideal seria que o governo focasse naquilo que vai atender o transporte coletivo: investimentos em BRT, VLT e a própria expansão de estações do metrô”, aponta o professor da UCB. Em relação ao tempo necessário para que o projeto seja executado, o professor alerta que ele deve ser de Estado e não de governo. “O transporte público é uma área muito sensível, que afeta diretamente a vida de todos. Tudo correndo como deve ser, acredito que a expansão do metrô possa levar até oito anos para ficar pronta”, calcula.
O especialista comenta que o foco inicial da expansão deve ser nas linhas que atende a população que têm a maior demanda, como Ceilândia e Samambaia. “A Asa Norte não tem uma quantidade de usuários que banque o sistema. No transporte, temos um jargão que diz ‘o que paga o sistema é girar a catraca’. Então, não se justifica uma obra que é muito cara (por ser enterrada), para atender uma população que não vai crescer tanto”, observa. “Para essa região, um VLT na W3 Norte — interligando com o BRT vindo de Sobradinho e Planaltina — seria o suficiente”, acredita Benício.
Evitando transtornos
A população considera como benéfica uma expansão para o lado norte da cidade. A estudante Giovanna Leles, 24 anos, sabe bem as vantagens de utilizar o metrô. Moradora de Águas Claras, ela ressalta que, para quem precisa ir até o Plano Piloto, o metrô é a melhor opção de transporte público. Cursando línguas estrangeiras aplicadas na Universidade de Brasília (UnB), Giovanna considera interessante uma possível expansão dos trilhos para o lado norte de Brasília. “Com uma linha seguindo até o fim da Asa Norte, iria evitar o transtorno de descer na Rodoviária, que é caótica, para pegar o (a linha) 110 e ir até a universidade”, observa.
“Diariamente, gasto até 50 minutos no trajeto de casa até a UnB. Se eu não precisasse descer na Rodoviária para pegar um ônibus, acho que poderia cortar esse tempo pela metade. Seria outra vida”, aponta a estudante. Mesmo assim, a moradora de Águas Claras agradece por ter essa opção. “Por mais que o metrô aqui não seja dos melhores, ainda acho mais seguro do que andar de ônibus”, acredita.
Assim como Giovanna, a diarista Regina Lúcia Santiago, 61, também está feliz pelo fato de poder contar com o metrô na sua rotina diária. “Quando tem as greves, chega a atrapalhar um pouco. Mas de forma geral, o metrô me ajuda muito. Se não fosse por ele, minha rotina seria muito mais pesada”, destaca a moradora de Ceilândia. “Não me vejo fazendo minhas coisas sem o metrô”, aponta. Para ela, a expansão também seria muito bem-vinda pois, mesmo não morando do lado norte do DF, precisa ir até de vez em quando. “Hoje (ontem), por exemplo, estou vindo de Planaltina. Demorei quase uma hora e meia para chegar aqui, na Rodoviária do Plano Piloto. Se tivesse a linha expandida até o fim da Asa Norte, tenho certeza que esse tempo poderia ser do trajeto completo, até a minha casa em Ceilândia”, calcula Regina Lúcia.
Viagem mais rápida
A diarista Rita de Alencar Silva, 31, celebra a possibilidade de ampliação para o lado norte do Plano. Moradora do Setor de Mansões de Sobradinho 2, ela conta que a espera diária pela linha de ônibus que a atende é um dos principais problemas. “Aqui, na parada, demora muito para pegar a linha que preciso (519). O ônibus passa de hora em hora”, ressalta. “Além desse tempo esperando, ainda tem mais, pelo menos, outra hora dentro do ônibus. Isso quando ele não vem lotado e não dá para entrar”, lamenta a diarista.
Para Rita de Alencar, a opção do metrô ajudaria muito na sua rotina de ir e voltar do Plano Piloto todos os dias. “Se tivesse o metrô, pelo menos até o fim da Asa Norte, seria muito melhor para mim e todos que moram naquela região”, acredita. “A viagem seria muito mais rápida e poderia utilizar o tempo economizado para fazer outras coisas”, esclarece.
Em setembro de 2020, a Secretaria de Transporte e Mobilidade (Semob) realizou uma audiência pública para tratar da concessão para gestão, operação e manutenção dos serviços de transporte metroviário do DF. Com prazo de 30 anos a contar do ano passado, a concessão patrocinada tem entre as características o aumento da frota de 30 para 50 trens, sendo a aquisição de 11 novos trens em 2023, quatro trens em 2030 e cinco em 2040. Além disso, os vagões da frota atual seriam reformados, incluindo a instalação de ar condicionado.
O projeto foi encaminhado para o Tribunal de Contas do DF (TCDF), que está avaliando. Ao Correio, a pasta destacou — por meio de nota — que a concessão é um projeto do Governo do Distrito Federal, que será realizado por meio de Parceria Público Privada (PPP), tornando o transporte metroviário mais eficiente e gerando economia para o governo. “O objetivo é dobrar a capacidade do Metrô, requalificar todos os trens, modernizar, colocar ar-condicionado, melhorar o sistema de alimentação de energia e reduzir o tempo entre um trem e outro”, avaliou a Semob.
Atualmente, o metrô está em fase de licitação para a expansão da linha 1, no ramal Samambaia (confira o infográfico). O projeto prevê a extensão da via em 3,6km, a partir do terminal da região. Segundo a Companhia Metropolitana do DF (Metrô-DF), no novo trecho, haverá duas estações, sendo uma próxima à unidade de pronto atendimento (UPA) de Samambaia e outra, que passará a funcionar como terminal, próxima ao Centro Olímpico.
O investimento para a ampliação em Samambaia está estimado em R$ 362 milhões, com previsão de duração das obras de quatro anos, e o projeto de expansão deve beneficiar uma população de 10 mil pessoas.
Além de Samambaia, a companhia destacou que também concluiu os estudos para a expansão de 2,5km de via em Ceilândia com a construção de duas novas estações, além da primeira estação da Asa Norte, que ficará nas proximidades do Setor Comercial Norte (SCN), com 1 km de via até a altura do Hospital Regional da Asa Norte (Hran).
Sobre a reclamação de demora de ônibus nas regiões administrativas que não contam com o metrô, a Semob respondeu que o serviço de transporte público coletivo atende a todas as regiões com linhas de ônibus que permitem integração entre ônibus, metrô e BRT para o deslocamento dos passageiros. Além disso, a pasta ressaltou que monitora a operação do sistema e realiza estudos para ampliar a oferta de linhas, de viagens e de itinerários, de forma que o transporte público atenda a demanda da população. “Os cidadãos podem sugerir criação ou alteração de linhas por meio da Ouvidoria, no 192 ou pelo site (https://www.participa.df.gov.br/). Constantemente, o transporte público sofre alterações baseadas nas sugestões dos usuários”, destacou a pasta.
Vantagens
Trânsito — O metrô tem um grande potencial de migrar o usuário do veículo individual para o sistema metroviário. Se ele estiver funcionando, de forma regular, vai diminuir o tempo de viagem, além de ser mais seguro. Isso faz com que as pessoas deixem o carro em casa, viabilizando um trânsito mais fluido.
Meio ambiente — Migrando os usuários para o sistema metroviário, diminui-se, consequentemente, a quantidade de veículos na rua. Isso também afeta a emissão de gases e outros materiais poluentes, por partes desses veículos, na cidade.
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