Com o aumento de investimentos de empresas chinesas no
Brasil, diante das oportunidades de aquisição que surgiram com a crise e a
retomada dos programas na área de infraestrutura, os bancos do país asiático
estão reforçando a atuação no país.
Os cinco maiores bancos da China com presença no Brasil –
Banco Industrial e Comercial da China (ICBC), Bank of China, Haitong, China
Construction Bank (CCB) e Bank of Communications (BoCom) – representam, juntos,
apenas 0,48% dos ativos totais do sistema financeiro local. Todavia, eles não
precisam ter um balanço grande para operar no país, já que a maioria tem como
foco a assessoria financeira e o suporte ao financiamento via repasse de linhas
externas. Além disso, contam com a vantagem de trabalhar com agências de exportação
e organismos multilaterais chineses para financiar as obras de infraestrutura
no Brasil.
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O ICBC, maior banco do mundo em ativos segundo a S&P,
com US$ 3,47 trilhões no fim de 2016, pretende participar do financiamento de
projetos de infraestrutura em parceria com o fundo Brasil-China, lançado em
parceria com o governo brasileiro, de US$ 20 bilhões. Desse montante, US$ 15
bilhões virão do Fundo de Cooperação Chinês para Investimento na América Latina
(Claifund). “O ICBC gostaria de participar da construção de projetos de
infraestrutura no Brasil juntamente com o fundo Brasil-China como apoiador no
financiamento”, explica Xiaobo Li, diretor-presidente do ICBC Brasil, em
entrevista por e-mail.
O ICBC tem trabalhado com agências de exportação chinesas para
oferecer suporte financeiro aos projetos de infraestrutura no país, nas áreas
de energia, transporte, construção municipal e outros setores. “A seleção
dos projetos leva em consideração os requerimentos de políticas, estabilidade
do retorno e controle do risco”, destaca Xiaobo Li.
Essa também é a estratégia do Haitong. O banco iniciou as
operações no Brasil em 2015, após adquirir as operações globais do Banco
Espírito Santo Investimento (Besi). Com foco no serviço de assessoria
financeira para os investidores e empresas chinesas que estão chegando no país,
o Haitong tinha, em março, R$ 7,452 bilhões em ativos totais, segundo dados do
Banco Central, e conta com sete a nove mandatos em andamento.
“Atuamos no processo de intermediação, seja na
estruturação de projetos de infraestrutura ou na assessoria para aquisições e
privatizações que tenham empresas chinesas interessadas, buscando soluções de
financiamento tanto de curto quanto de longo prazos”, afirma Alan
Fernandes, presidente do banco no Brasil.
O Haitong assessorou a empresa chinesa China Gezhouba Group
Corporation (CGGC) na compra da participação detida pelo consórcio liderado
pela Camargo Corrêa e Andrade Gutierrez na Parceria Público Privada (PPP) da
concessionária Sistema Produtor de Água São Lourenço (SPSL). O banco também
prestou assessoria para o grupo chinês Pengxin na aquisição de participação na
Belagrícola, do setor de agronegócio.
Segundo Fernandes, há outras operações que interessam às
empresas chinesas, principalmente nos setores de energia elétrica e renovável,
agronegócio, óleo e gás, ferrovia e logística.
Na área de energia, o Haitong participou da assessoria da
modelagem financeira e estudo de viabilidade para a EDP Energias do Brasil, que
tem como acionista a China Three Gorges (CTG), que arrematou quatro lotes no
último leilão de linhas de transmissão. O banco está na fase de estruturação do
funding para financiar o projeto. Ao todo, a empresa prevê investir cerca de R$
3 bilhões nas obras.
O pacote de projetos e concessões na área de infraestrutura
do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI) anunciado pelo governo neste
ano, que deve somar R$ 45 bilhões, tem atraído investimento de empresas
chinesas.
Além dos bancos presentes no Brasil, outros investidores
asiáticos estão interessados em financiar projetos de infraestrutura no país,
como o Fundo de Cooperação e Desenvolvimento entre a China e países de língua
portuguesa. Há ainda a expectativa de que Fundo da Nova Rota da Seda, com US$
40 bilhões de recursos, estenda os investimentos para América Latina.
Além do financiamentos para empresas chinesas que estão
investindo no Brasil, projetos de companhias brasileiras que envolvam a
importação de máquinas e produtos do país asiático podem contar com recursos do
Banco de Importação-Exportação da China. “O funding desses organismos é em
dólar e a estruturação do projeto tem de atender as expectativas de
retorno”, diz Fernandes, do Haitong.
A Petrobras, por exemplo, contratou uma linha de US$ 10
bilhões com o China Development Bank (CDB) no ano passado, dos quais apenas US$
5 bilhões foram desembolsados. A companhia ainda pode acessar os US$ 5 bilhões
restantes já pré-aprovados.
Os bancos chineses têm adotado estratégias diferentes para
entrar no Brasil. O ICBC e o Bank of China decidiram abrir uma operação
própria. Já o CCB adquiriu o BicBanco, o BoCom comprou uma participação de 80%
do BBM e o Haitong entrou no país ao assumir as operações globais do Besi. Dos
maiores bancos comerciais chineses, o único que não têm presença no Brasil ainda
é o Agricultural Bank of China.
Comenta-se no mercado que bancos ou fundos chineses poderiam
ter interesse em eventual venda do Banco Original e da Guide, plataforma de
investimentos do Banco Indusval.
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