Geadas atingem principal região de trigo do Paraná

Duas noites de geadas atingiram em cheio a principal região
de trigo do Paraná, maior polo produtor do cereal do país, justamente em uma
época em que as lavouras estão suscetíveis às baixas temperaturas. As
estimativas menos pessimistas indicam que cerca de 10% da área plantada tenha
sido afetada pelas geadas, mas há projeções de que até 40% da extensão tenha
sido comprometida de algum forma.

Ainda serão necessários alguns dias para se ter uma
estimativa das perdas no volume de trigo a ser colhido no Paraná, mas o cenário
indica uma restrição de oferta para uma temporada, a 2016/17, para a qual já se
projetava a menor colheita em quatro safras, de 3,068 milhões de toneladas,
segundo o Departamento de Economia Rural (Deral), da Secretaria de Agricultura
e do Abastecimento do Estado. A Companhia Nacional do Abastecimento (Conab)
prevê uma colheita de 3,411 milhões de toneladas, metade da safra brasileira.

As geadas foram registradas nas áreas oeste e central do
Paraná, que abrigam cerca de dois terços das lavouras de trigo do Estado.
Considerando a parte das lavouras que estão em condições suscetíveis nessas
regiões, a área afetada pelas geadas pode chegar a algo em torno de 100 mil
hectares, estima Carlos Hugo Godinho, coordenador de estatística do Deral. Essa
extensão representa 10% da área total plantada com o cereal no Paraná.

Atualmente, metade das lavouras de trigo do Estado está em
fase sensível a geadas, mas nem todas as plantações foram atingidas. Além
disso, a intensidade das geadas foi diferente em cada região.

Godinho ressalta, no entanto, que ainda não é possível
prever qual deve ser o reflexo sobre a o volume de trigo a ser colhido no
Paraná. “Agora vamos precisar de uma semana para avaliar o quanto as
geadas geraram de perdas nessa região”, afirma.

Representantes da cadeia do trigo, porém, estão mais
pessimistas. O Sindicato da Indústria do Trigo do Paraná (Sinditrigo) avalia
que cerca de 40% da área plantada com o cereal no Estado foi afetada por
geadas. Atualmente, os moinhos paranaenses abastecem-se basicamente com o trigo
da região, mas qualquer quebra de safra pode levá-los a recorrer ao mercado
externo, observa Paloma Venturelli, vice-presidente do sindicato.

Sediado em Ponta Grossa, o analista José Gilmar de Oliveira,
da Safrasul Agronegócio, calcula, a partir de contatos com produtores, que a
geada tenha atingido uma extensão de 25% do total plantado para esta safra.
Segundo ele, o tempo aberto que se seguiu às geadas agrava a situação, porque o
sol acaba “queimando” as partes das plantas cobertas por gelo.

Por enquanto, o efeito imediato das geadas foi paralisar o
mercado de trigo, que já estava com baixa liquidez, segundo Oliveira. “Na
segunda-feira, houve negócios a R$ 700 a tonelada. Aí veio geada e parou. Quem
tinha trigo parou de vender”, diz o analista.

De acordo com a vice-presidente do Sinditrigo, o valor
pedido pelos produtores já saltou de R$ 720 a tonelada para R$ 780 a tonelada
desde antes das geadas até ontem. “Mas nesse nível não tem comprador
porque o trigo argentino chega mais competitivo do que esses patamares. Então o
mercado fica paralisado”, sustenta Venturelli.

Por enquanto, porém, as indústrias paranaenses têm estoque
de trigo da safra passada para atender à demanda de moagem até o início da
colheita no Estado, de acordo com Venturelli. A colheita do cereal no Paraná
vai do fim de agosto até outubro.

As geadas atingiram as lavouras de trigo do Paraná em um
momento em que já havia receios com o baixo nível de chuvas no inverno, menor
até do que se espera para o período. Segundo Godinho, do Deral, a mudança do
clima provocou algumas chuvas em áreas produtoras, mas a estiagem ainda
“não é um problema resolvido”.

Até segunda-feira, antes das geadas, 2% da área plantada já
estava em condições ruins e 16% em situação média, enquanto 82% estava em
condições boas, conforme levantamento do Deral. Em uma semana, a parcela em
condições boas perdeu 5 pontos percentuais.

A situação das plantações já estava pior do que na safra
passada. Nessa mesma época de 2016, apenas 4% da área plantada estava em
condições médias, e os outros 96% estavam boas condições.

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