Vale define metas e fecha acordo com Glencore

A Vale vai dar especial atenção a três frentes principais
nos próximos anos: reestruturação do negócio de metais básicos, aprimoramento
do que já faz na área de minério de ferro e remunerar os acionistas de forma
agressiva. Essas foram as principais mensagens da mineradora no encontro anual
com investidores ontem, na Bolsa de Nova York (NYSE).

A mudança conduzida na área de metais, associada à
expectativa de recuperação nos preços do níquel, deve fazer com que a Vale gere
US$ 3,9 bilhões de lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização
(Ebitda) adicional até 2023. Ontem a Vale anunciou acordo com a Glencore, no
Canadá, para operação conjunta de uma mina de cobre e níquel.

No minério de ferro, o ganho incremental de Ebitda é
estimado em US$ 2,7 bilhões no mesmo período de cinco anos. Ao mesmo tempo, a
empresa vai reforçar seu compromisso na forma como aloca capital, o que vai
gerar fluxo de caixa livre entre US$ 8 bilhões e US$ 12 bilhões por ano que
será transformado, em sua maioria, em pagamento de dividendos ou programas de
recompra de ações.

“Essas são as mensagens que eu gostaria que as pessoas entendessem
do Vale Day”, disse ao Valor o presidente da Vale, Fabio Schvartsman. Ele
desembarcou em Nova York domingo após passar o fim de semana no Canadá
visitando as operações da empresa naquele país. Desde que assumiu a Vale há um
ano e meio, Schvartsman vem perseguindo uma profunda mudança na área de metais
da companhia. Analistas entendem que a reestruturação é complexa, mas que a
empresa está no caminho certo.

Houve substituições nos cargos executivos da mineradora no
Canadá, onde estão as principais operações de metais da companhia. Como
resultado dessa reestruturação, a Vale espera que a área de metais responda por
25% do Ebitda da empresa em 2023, dez pontos percentuais a mais do que os 15%
de participação deste segmento de negócios nos resultados da companhia em 2018.
Analistas de bancos projetam, em média, Ebitda de US$ 16,7 bilhões para a Vale
como um todo em 2018 e a expectativa da empresa é que o número chegue a US$ 25
bilhões em 2023.

Nos metais, o acordo com a Glencore permite a operação conjunta
de um corpo mineral em Sudbury, província de Ontário, que possui reservas de
cobre, com níquel associado. É um corpo mineral único que está na divisa das
concessões das duas companhias. O corpo mineral da Vale chama-se Victor e o da
Glencore, Nickel Rim South. Se não houvesse acordo para a exploração conjunta,
teria de se deixar uma faixa intocada na divisa entre as duas concessões, o que
inviabilizaria a operação, disse Schvartsman. Quando entrar em operação, Victor
vai produzir 30 mil toneladas de cobre e 11 mil toneladas de níquel por ano,
com vida útil estimada de 19 anos.

Schvartsman disse que o acordo representa a nova visão da
Vale, de buscar o máximo de valor para o acionista. Perguntado se chegou a se
cogitar joint venture com Glencore, Schvartsman afirmou: “Um passo de cada
vez. Foi tão difícil chegar ao acordo para exploração conjunta, então não dava
nem para sequer cogitar fazer algo maior. A grande notícia é que fizemos o
primeiro acordo relevante com a Glencore.” Ele não quis fazer qualquer
previsão se esse acordo – um memorando de entendimento – poderia ser o primeiro
passo para uma parceria maior entre as empresas na área de metais. “Não dá
mesmo para dizer. Existe uma mudança de postura da Vale e tudo que for produzir
mais valor para a companhia vai ser perseguido.”

O fato de o acordo ter sido feito em Sudbury, complexo
mineral polimetálico onde a Vale tem cinco minas, diz muito sobre a importância
que essa região mineradora voltou a ter para a brasileira. Sudbury é formada
por minas subterrâneas, algumas com mais de três quilômetros de profundidade,
sendo que a mais antiga tem 110 anos. A complexidade da operação fez com que há
alguns anos se tomasse a decisão de explorar em outras regiões, deixando
Sudbury de lado. Hoje a decisão é considerada equivocada. “Sudbury é
metade do resultado de metais básicos [da Vale]”, disse. Na mudança em
curso, optou-se por priorizar a área. “Não se trata de fazer expansões,
mas de investir em automação, em processos mais eficientes.”

Outra decisão importante, anunciada no Vale Day, foi
continuar com a operação de níquel da Vale Nova Caledônia (VNC). É,
individualmente, a maior mina de níquel da Vale junto com de Voisey’s Bay, no
Canadá. A decisão foi tomada por dois motivos, segundo Schvartsman: primeiro porque
a nova gestão da área de metais se comprometeu com a reestruturação da operação
e, em segundo lugar, porque a Vale acredita que a “revolução” do
carro elétrico será realidade, então não faria sentido fechar essa operação,
uma mina com capacidade de produzir 50 mil toneladas de níquel por ano.

Ao tomar a decisão, a Vale abandonou a ideia de buscar sócio
minoritário para a operação e agora vai bancar sozinha investimentos de US$ 500
milhões para construir, em três anos, uma nova barragem de rejeitos para a VNC,
que vai garantir a operação da mina a longo prazo. No cobre, a Vale anunciou
uma série de novos projetos que vão aumentar a produção desse metal até 2021 –
que sairá de 420 mil toneladas por ano em 2019 para 500 mil toneladas em 2023.
Essa expansão vai permitir à empresa ganhos adicionais de US$ 310 milhões de
Ebitda no período.

No minério de ferro, a Vale anunciou um conjunto de
operações de porte médio que têm o objetivo de reforçar a posição da empresa
como produtora de alta qualidade. À medida que a Vale desenvolver todos os
projetos em carteira, a produção “premium” sairá dos atuais 81% para
95%, em 2022. Um dos projetos é a expansão em 10 milhões de toneladas na
capacidade do S11D, na Serra Sul de Carajás. Essa expansão fará com que a
produção em Carajás alcance 240 milhões de toneladas por ano, ante as 230
milhões de toneladas atuais. A expansão do S11D envolve também infraestrutura
logística e a previsão é que a nova capacidade esteja disponível em 2022.

A Vale também vai aumentar em 20 milhões de toneladas a
produção de pellet feed, produto usado na produção de pelotas, no sistema
sudeste, em Minas Gerais. Outras iniciativas são a expansão em 10 milhões de
toneladas da capacidade de blendagem (mistura) na Malásia e o aumento em cerca
de 2 milhões de toneladas na produção de pelotas em Omã, no Oriente Médio.
Todos os novos projetos – em metais e ferrosos – foram aprovados pelo conselho
de administração em novembro.

Schvartsman mostrou-se otimista ainda com as perspectivas
para os preços do minério de ferro em 2019, os quais devem situar-se, segundo
ele, entre US$ 60 e US$ 80 por tonelada. Essa perspectiva se mantém apesar da
queda recente dos preços – na segunda-feira, o minério com 62% de teor de ferro
situava-se na faixa de US$ 66.

Para Schvartsman, porém, a queda no preço obedeceu a
questões sazonais da China, o principal mercado. O conflito comercial Estados
Unidos-China também pesou para o comportamento dos preços, segundo o executivo,
mas os sinais recentes dos dois países podem atenuar o contencioso, o que
parece ter acalmado um pouco o mercado. Schvartsman espera que Estados Unidos e
China cheguem a um acordo nas disputas comerciais. Ele também mostrou-se
otimista com o novo governo no Brasil: “A esperança se renova sempre que
há um novo governo.”

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